Na virada para o ano novo, quatro adultos dividem um sofá. Eles já estão há 365 dias sem dormir e escolheram ficar o tempo todo ligados e conectados. Essa é a premissa de “Insones”, espetáculo que fica em cartaz no teatro Cacilda Becker entre os dias 6 e 20 de setembro.

Embora os personagens estejam há um ano acordados, eles estão, na verdade, adormecidos de si próprios. É o que conta o diretor Kiko Marques. “É um caminhar sonâmbulo de rebanho: não agem, apenas repetem”, afirma. “Nada neles possui qualquer vestígio de originalidade, são fruto de uma manipulação muito bem arquitetada”. O encenador explica que o sono é, atualmente, um empecilho para a nossa sociedade de consumo. “Aquele que dorme não está produzindo, não consome, não se comunica. Está profunda e promiscuamente só.”

Nesse cenário hiperconectado, para o diretor, o que se perde é a solidão. “Comunicar é posterior ao viver, mas necessita do que a antecede, a vivência – e essa perdeu o espaço, o sentido”, explica. “Tudo é exposição e forma”. A peça fala, portanto, sobre essa falta de vivência. “‘Insones’ é um luto frenético pela morte da solidão”, pontua.

Marques comenta também o cenário, que lembra o sofá de uma sitcom norte-americana. “Uma claque de risos de espectadores invisíveis e a ininterrupta exposição dos nossos dias”, descreve. “É um sofá-casa, uma pequena fuga do ambiente onde a festa explode, mas que também é festa - e onde eles estão presos”, conclui.

Por Gabriel Fabri

Ficha técnica: Dramaturgia: Victor Nóvoa. Direção: Kiko Marques.Elenco: Fani Feldman, Helena Cardoso, Paulo Arcuri e Conrado Caputo, Bruno Feldman.| Teatro Cacilda Becker. Rua Tito, 295, Lapa. Zona Oeste. | tel. 3864-4513. De 6 a 20. Sextas, 21h. R$ 30. 14 anos