“Nóis Por Nóis” traz a voz do jovem periférico de Curitiba ao Circuito Spcine

Longa-metragem de Aly Muritiba e Jandir Santin faz sua estreia nesta sexta-feira, dia 6, e integra o 16º Mês do Hip Hop

Após retratar os dilemas de jovens de classe média em Ferrugem, vencedor do Kikito de Melhor Filme no Festival de Gramado em 2018, o cineasta Aly Muritiba retorna ao universo adolescente com o foco, agora, em outro estrato social: a comunidade do Sabará, da Cidade Industrial de Curitiba. Nóis Por Nóis, dirigido em parceria com o educador Jandir Santin, faz sua estreia no Circuito Spcine, com sessões gratuitas, dia 6, no Centro Cultural Olido, e dia 7, no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes. As exibições integram a 16ª edição do Mês do Hip Hop.

Para Muritiba, Nóis Por Nóis e Ferrugem são duas obras complementares, com elementos comuns à adolescência, mas, ao mesmo tempo, são muito diferentes entre si. “Nóis Por Nóis tem uma pegada muito mais vibrante, mais Hip Hop, com mais ritmo e mais cortes”, explica o diretor. “Está falando de outra classe social e de problemas de ordem material mesmo: sobreviver à violência policial, conseguir grana para tocar a vida, gravidez na adolescência. São jovens que vivem em um sistema de opressão muito menos sutil do que os adolescentes de Ferrugem.”

O longa-metragem foi construído em colaboração com os moradores da própria comunidade e do movimento Hip Hop da região. “A gente sentiu que era importante trazer os moleques para perto e escutá-los, colocando seus anseios, sonhos, desejos e o seu verbo, a sua linguagem dentro do filme”, conta Muritiba. Para selecionar os atores, que não são profissionais, foi feito um casting com os jovens da comunidade e depois uma oficina de interpretação que durou um mês – o roteiro foi escrito e reescrito à medida em que a oficina acontecia, processo no qual os diretores puderam experimentar as ideias que funcionavam ou não. “Foi importantíssimo escutar esses jovens para a gente entender que existe toda uma vontade de sonhar, de lutar, mas lutar com leveza, de sorrir, de ser divertir”, afirma o cineasta, que viu também despertar um interesse dos garotos envolvidos para o audiovisual como forma de expressão – um deles chegou a abrir uma produtora após a experiência com o filme.

Nóis Por Nóis se insere na cinematografia brasileira contemporânea ao lado de outros filmes, como Antônia, de Tata Amaral, e a série Sintonia, produzida pelo Kondzilla, retratando os jovens de periferia e sua relação com a música. Para Muritiba, entretanto, o filme, ao focar em uma comunidade do Sul do país, mostra uma realidade que ainda não foi mostrada no cinema brasileiro. “É uma periferia gelada, que não tem morro, é plana, a maior parte dos jovens é branca, e ainda sim sofre as questões dos jovens que vivem em outras periferias, as mesmas carências”, conclui.

Por Gabriel Fabri

Circuito Spcine

NÓIS POR NÓIS

Cine Olido
06/03, às 19h00

CFC Cidade Tiradentes
07/03, às 19h00
Entrada franca