Pog e o Tendal da Lapa

Confira o perfil do coordenador cultural Bruno Pog

 

 

Bruno Ferreira de Novais é mais conhecido como Bruno Pog, porque brincava com o tazo da marca Pog, jogo que vinha em embalagens de salgadinhos. Nascido no Morro Doce, bairro da zona noroeste de São Paulo, cresceu com três irmãos e sua mãe, Marly, que era funcionária pública. O rock e a música foram sua descontração para sua adolescência rebelde e seu primeiro instrumento foi o violão que ganhou de sua família após muita insistência.

Após se apaixonar pela música, decidiu fazer uma banda de punk com seus amigos, a “Estado Grave”, na qual tocava contrabaixo e que durou mais de 10 anos. Durante esse tempo, Bruno e seus amigos perceberam que tinham um problema: não havia lugares para se apresentar: “Começamos a organizar alguns festivais nas escolas da região, eu botei muita energia nisso”, relembra Bruno. “Me encontrei na música e nesse outro lado de fazer [as apresentações] acontecerem”. Foi nesse primeiro momento que Pog começou a organizar eventos culturais e conhecer as bandas da região.

A Lapa sempre foi um lugar de referência, era o centro comercial mais próximo de seu bairro: “A primeira vez que vim no Tendal da Lapa, com 16 anos, foi para ver um show de punk. Tenho até uma foto minha aqui em 2001, eu vim para cá e isso foi muito importante”, recorda Bruno. “Eu vi o que estava sendo feito aqui naquela época e voltei cheio de ideias para o Morro Doce. Vou fazer um festival também”. Essa ocasião foi em um evento grande da época que tocavam 74 bandas diferentes e que ele descobriu por meio de um flyer.

Depois de muito tempo após sua fase de Estado Grave, quando já havia começado sua outra banda, Projeto 23, em 2011, foi convidado para ser coordenador de cultura do CEU Parque Anhanguera. Antes de ser contratado, já trabalhava no CEU como voluntário e foi convidado pela gestora do espaço a fazer, de forma fixa, parte da equipe.

Bruno ficou dois anos no Parque Anhanguera, até integrar um coletivo chamado Lado Sujo da Frequência (LSF), que trabalhou mais quatro anos com produção audiovisual com músicos da periferia, gravando diversos clipes para mostrar no até então no novo meio digital da internet, ganhando editais, como VAI, Fomentos e Redes e Ruas. Além dos anos de prática da profissão, Bruno também estudou gestão cultural, sendo pós-graduado em Gestão de Projetos Culturais na CELACC USP.

“A produção cultural me abriu um leque tão grande, que eu fiz tantas coisas importantes, que hoje eu me vejo muito mais realizado como produtor e gestor cultural do que se eu tivesse continuado músico” - Desabafa Bruno Pog.

 

O Centro Cultural Tendal Da Lapa

O Tendal da Lapa veio para ficar na vida de Bruno quando foi convidado a ser coordenador cultural do centro, que leva o nome devido aos tendais no local, que eram varais para colocar carnes - o espaço foi originalmente construído para ser um centro de armazenamento e distribuição de carnes. Bruno e seus colegas de trabalho, visando trazer mais cultura para o Centro Cultural, acabaram achando novas vocações para o espaço, transformando os galpões em galerias de arte que hospedaram mais de 10 exposições até agora.

Uma obra especial localizada em uma das galerias do Centro Cultural é um mural de Keith Haring de 1984, artista americano de graffiti pop art, que foi restaurada em 2020. Vendo a importância desse painel, Bruno pensou: “Já que temos essa obra bem importante, porque a gente não trabalha muito mais com arte urbana e potencializa esse repertório? Para que as pessoas venham visitar isso [o mural de Keith Haring], mas trazer vários novos artistas para expor em volta, para um potencializar o outro”.

Outro fato do Tendal é que o espaço começou como uma ocupação de circo e, para manter a tradição, atualmente, às quartas, o espaço recebe apresentações circenses e ainda leva estudantes das escolas próximas para assistir. Estes artistas de palhaçaria e malabares também têm a oportunidade, garantida pelo edital de ocupação, de usar os galpões para ensaiarem durante o ano, e, em contrapartida, fazem um espetáculo para o público do centro cultural. Isso possibilita a prática circense, que muitas vezes não consegue arcar com os custos para alugar uma sala de ensaio.

Hoje em dia, sua mãe, Marly, adora frequentar o Tendal da Lapa, ver espetáculos e fica espantada com a brincadeira que tornou o ganha-pão do filho. “Ela super apoiava, mas achou que era uma fase e não que 25 anos depois eu ia ter uma profissão e um bom emprego por conta disso”.

O Centro Cultural conta com seis salas de aula, três galpões multiúso com teatro, espaço de dança de circo, além de 2 galerias e uma área externa com palco. Tem uma curadoria voltada para arte urbana, com enfoque em exposições de shows de música e circo e tudo de graça. “Tem muito lugar que o pessoal se apresenta para cumprir tabela, por fazer, para receber, e aqui não”, conta Bruno. O sucesso do Tendal da Lapa, pode ser consequência de vários fatores, mas a presença de um público, a gratuidade e o espaço cheio de exposições de arte certamente são alguns dos mais atraentes.


O Graffiti

Além de ter contato com as músicas e artistas da região, Bruno também sempre esteve cercado da cultura do grafite. Após ter trabalhado muito com a música, Pog viu que poderia trabalhar também com a arte de rua, porque havia uma demanda de contratação de grafiteiros. Como produtor cultural, Bruno já tinha experiência e começou a assessorar alguns artistas de grafite durante cerca de 4 anos.

 

 

Nesse tempo, produziu várias empenas, painéis e trouxe mais de 10 edições do evento de grafite e música, Art In Home, para Morro Doce, com mais de 100 artistas em cada edição.


“Para novos desafios estou sempre aberto. Eu gosto quando vem coisas para me desafiar, isso me move. Porque o dia que eu chegar aqui e tiver tudo bom, tiver tudo legal, eu não sei se vou continuar muito afim.” - Conta Bruno Pog