Tributo a Caymmi

O músico paulista Mateus Sartori apresenta três shows em São Paulo com faixas do recém-lançado Dois de fevereiro, disco com canções de Dorival Caymmi

Há 70 anos, Carmen Miranda decidiu, pela primeira vez, apresentar-se nas telas trajando seu futuramente inseparável traje de baiana. A canção que interpretou na ocasião para o filme Banana na terra, de Ruy Costa, O que é que a baiana tem?, foi composta por um então desconhecido Dorival Caymmi. Agora, é a vez da obra do mestre baiano servir de inspiração para um novo talento da música popular brasileira: Mateus Sartori. O cantor apresenta dias 15 e 16, no Auditório Ibirapuera, e dia 22, no Centro Cultural São Paulo, o CD recém-lançado, Dois de fevereiro.

Com repertório formado exclusivamente por músicas de Caymmi, o álbum também presta homenagem à Festa de Iemanjá, comemorada pelos baianos na data que dá nome ao disco. Entre as músicas selecionadas estão O samba da minha terra, Quem vem pra beira do mar e Rosa morena. O intérprete também incluiu no repertório outras menos conhecidas, como Acaçá, Sargaço mar e Beijos pela noite.

Neste trabalho, fica evidente a intenção de Sartori em demonstrar a pluralidade musical do compositor, abrangendo desde o samba mexido, conhecido hoje como samba-de-roda, presente em O samba da minha terra, passando por canções folclóricas e praieiras até chegar no samba urbano, também chamado de samba-canção. “A obra de Caymmi tem um peso diferente na minha vida musical porque eu a ouvia muito quando criança, apesar de não saber quem a tinha escrito”, conta Sartori. Mesmo hoje em dia, algumas canções do compositor baiano são tão populares que poderiam ser consideradas de domínio público. “Algumas pessoas com quem converso depois dos shows nunca pegaram em um disco do compositor, mas sabem cantar, por exemplo, Maracangalha”, completa.

Com produção de Rodolfo Stroeter, o CD conta com a participação especial do músico carioca Guinga, que, de certa forma, impulsionou a carreira do intérprete. Quando ainda desempenhava a função de arquiteto, Sartori se inscreveu em um curso para violonistas, em Curitiba, baseado na obra do instrumentista. No último dia de aula, decidiu mudar de rumo profissional, pedindo demissão do escritório em que trabalhava para seguir carreira musical. Seu primeiro trabalho em estúdio foi o disco Todos os cantos, lançado em 2006. Mas é com Dois de fevereiro, seu segundo álbum, que está recebendo o reconhecimento da crítica.

A produção do disco – disponível em uma única caixa com CD e DVD – durou sete meses. Além de Guinga, sete músicos acompanharam Sartori na gravação: Paulo Bellinati, Diego Figueiredo, Webster Santos, Chico Saraiva, Edmilson Capelupi, Mario Gil e Jardel Caetano. O DVD apresenta registros dos bastidores da gravação com depoimentos dos integrantes e conta também com imagens da Festa de Iemanjá. “Não conhecia nada dessa manifestação. Eu cheguei até ela pela música de Caymmi.” Fora da Bahia, poucos brasileiros conhecem a importância do dia 2 de fevereiro. “Gostaria, com meu CD, que essa festa religiosa com origem no Candomblé fosse amplamente divulgada”, conta Sartori.

Entre a arquitetura e a música

Nascido em Franca, interior de São Paulo, Sartori mudou-se ainda criança para Mogi das Cruzes. Sua mãe, professora de educação artística, foi a primeira a introduzi-lo na música com os trabalhos em coros e peças que organizava. Foi em um projeto da maestrina Dulce Primo, de Curitiba, que Sartori se apresentou pela primeira vez com um instrumento: a flauta doce. O domínio sobre a voz, fruto da participação em corais, fez com que fosse aceito, ainda com 16 anos, na Escola Municipal de Música de São Paulo.

Nesse mesmo período, o intérprete ingressou no curso de graduação em arquitetura e passou a conciliar as duas tarefas. “Foram 5 anos e meio entre a música e a arquitetura. Além da faculdade eu ainda fazia estágio em um escritório e dava aulas de música para a terceira idade”, revela. Paralelamente às duas atividades, Sartori também se desdobrava para ministrar aulas de canto e regência na Universidade Livre de Música Maestro Tom Jobim.

O curso de arquitetura contribuiu para sua formação de produtor. Os dois discos de sua carreira tiveram todo o material gráfico produzido por ele.

Serviço: Auditório Ibirapuera. Zona Sul. Dias 15 e 16, às 21h. R$ 30. Centro Cultural São Paulo – Sala Adoniran Barbosa. Centro. Dia 22, 19h. Grátis.