Obra de Nelson Rodrigues inspira duas encenações teatrais e uma exposição fotográfica

Ecos Rodrigueanos em cartaz no Centro Cultural São Paulo

Desde a morte de Nelson Rodrigues, em 1980, tornou-se recorrente ver em palcos brasileiros remontagens de algumas das 17 peças de teatro escritas por ele entre 1941 e 1978. A decisão das companhias em dar novas roupagens às tragédias do dramaturgo – considerado precursor da moderna dramaturgia brasileira – prova que mesmo com fama de pornográfico e reacionário na época, a admiração pelo recifense com alma carioca sobreviveu ao tempo e à modernidade.

A obra polêmica do autor serviu de inspiração para a encenação de dois espetáculos que estréiam no Centro Cultural São Paulo dia 28: 17 X Nelson – o inferno de todos, do grupo Antikatártika Tea-tral, e As noivas de Nelson, da Cia. Paulista de Artes.

Em As noivas de Nelson, o diretor Marco Antônio Braz – indicado ao Prêmio Shell em 2002 pela montagem de O beijo no asfalto – está à frente de cinco contos adaptados para teatro, extraídos da série A vida como ela é, publicada entre 1951 e 1961 no diário carioca Última Hora.

Já 17 X Nelson… reúne no palco fragmentos das 17 peças do autor. Organizada em ordem cronológica, a compilação de textos permite que o público acompanhe a evolução da dramaturgia rodrigueana. Com direção de Nelson Baskerville, a seqüência se inicia com A mulher sem pecado, de 1941, e termina
com A serpente, de 1978.

Uma reunião de 60 fotografias mostrando diversas montagens de seus textos pode ser conferida na exposição Gestos rodrigueanos, em cartaz de 28 de março e 4 de abril no Espaço Flávio Império – Foyer.

TALENTO POLÊMICO

Agitador do cenário cultural da cidade do Rio de Janeiro desde quando ela ainda era capital da República, Nelson Rodrigues impri-mia uma personalidade provocativa em seus textos. Com a disposição de observar o comportamento humano diante de situações em que a moral era posta em xeque, ele agia tal qual “um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura”, como se definia.

Em 1943, com a estréia de O vestido de noiva no Rio de Janeiro, encenada pelo grupo Os Comediantes, com direção do polonês Ziembins-ki, o dramaturgo passou a ser reconhecido como um dos principais autores brasileiros. A montagem em que o palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro era dividido por três planos simultâneos – o da realidade, o do passado e o da alucinação – foi considerada um marco nas artes cênicas nacionais.

A partir disso, foram lançadas outras peças, como Álbum de família, Senhora dos afogados e Toda nudez será castigada. Artistas, público e imprensa dividiam-se entre admiradores e críticos. Entre suas fãs estava a atriz Fernanda Montenegro, que encomendou a ele um novo trabalho. O resultado foi O beijo no asfalto, cuja estréia a-conteceu no Rio de Janeiro, em 1961, na montagem da Sociedade Teatro dos Sete, dirigida de Fernando Torres.

Serviço: Centro Cultural São Paulo - Rua Vergueiro, 1000 - Centro.

Veja programação:

17 X NELSON - O INFERNO DE TODOS NÓS
Antikatártika Teatral. Texto: Nelson Rodrigues. Dir.: Nelson Baskerville. Com Adilson Azevedo, Anna Cecília Junqueira, Camila Rafanti, Felipe Schermann, Fernando Fechio, Flávia Lorenzi, José Ferro, Luciana Azevedo e Marcos Ferraz. Drama. 120 min. 14 anos.
Atores contam a evolução da dramaturgia de Nelson Rodrigues por meio de 17 cenas de suas peças, interpretadas em ordem cronológica. A montagem, costurada por coros, passa-se no inferno (influência de textos de James Joyce e de A divina comédia, de Dante Aligheri).
| Centro Cultural São Paulo – Espaço Cênico Ademar Guerra. Centro. De 28/3 a 4/5. 6ª e sáb., 21h. Dom., 20h. R$ 15. Dia 11/4, preço popular: R$ 1,90

AS NOIVAS DE NELSON
Cia. Paulista de Artes. Texto: Nelson Rodrigues. Dir.: Marco Antonio Braz. Tragédia. 75 min. 12 anos.
Com Anamaria Barreto, Aline Volpi, Ana Paula Castro, Basilides Ortega, Edivaldo Zanotti, Marcelo Peroni, Marici Nicioli, Vivi Masolini e Vladimir Camargo.
Uma radiografia patética do ser humano e de seus encontros e desencontros na procura do amor. Com muito humor, a peça traz a dicotomia amor/morte, elementos fundamentais da ficção e do teatro rodrigueano.
| Centro Cultural São Paulo – Sala Jardel Filho. Centro. De 28/3 a 4/5. 6ª e sáb., 21h. Dom., 20h. R$ 15. Dia 4/4, preço popular: R$ 1,90

EXPOSIÇÃO: NELSON RODRIGUES
Exposição fotográfica de montagens das peças de Nelson, além de pôsteres de filmes inspirados em sua obra.
| Centro Cultural São Paulo – Espaço Flávio Império (foyer). Centro. De 28/3 a 4/4. 3ª a dom., das 10h às 22h. Grátis

SMACK! FOI UM BEIJO TIPO ASSIM
Cia. dos Bonitos. Texto e dir.: Djalma de Lima. Com Débora Machado, Juliane Pimenta e Paulo Camilo. Comédia. 60 min. 11 anos.
Decidida a beijar um rapaz popular e misterioso, uma adolescente é ajudada por sua amiga. O desejo vira obsessão e surgem várias confusões.
| Centro Cultural São Paulo – Sala Adoniran Barbosa. Centro. De 4/3 a 30/4. 3ª e 4ª, 19h30. R$ 10. Dia 18/3, preço popular: R$ 1,90

TRIXMIX CABARET
Espetáculo inspirado nos cabarés parisienses do século 19. São interpretados números de circo, de teatro e de dança.
| Centro Cultural da Juventude – Anfiteatro. Zona Norte. De 8 a 22. Sáb., 20h. Dom., 18h30. Grátis

WALKIRIANA
Texto: Angélica Angelucci. Dir.: Lulu Pavarim. Com Angélica Angelucci. Tragicomédia. 69 min. 16 anos.
Uma antiqüíssima mulher percorre momentos históricos e linguagens estéticas sem se abalar, afirmando ser uma “iluminada iluminista”.
| Centro Cultural São Paulo – Sala Paulo Emílio Salles Gomes. Centro. De 25/3 a 24/4. 3ª a 5ª, 21h. R$ 12. Dia 2/4, preço popular: R$ 1,90