Cia. Pé Na Porta encena conto de Saramago

No livro O conto da ilha desconhecida, de José Saramago, o leitor sente-se instigado a descobrir a sua própria “ilha desconhecida”

Mais do que o lugar-comum de encorajar o leitor a lutar por seus sonhos, na parábola, Saramago confronta o desejo com a realidade: após conquistar o sonho, o que fazer com ele?

Estreando nos palcos paulistanos no ano passado, a Cia. Pé na Porta escolheu como trabalho a montagem na íntegra desse texto do vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. Neste mês, o grupo volta a apresentar a peça, de 12 a 20, no anfiteatro do Centro Cultural da Juventude. O espetáculo deve fazer com que o público “saia da sala questionando seu lugar no mundo”, explica o diretor Paulo Marcos, responsável pela idéia de encenar o conto.

Na trama, o grupo conduz o espectador pela narrativa metafórica do autor português, que incita, em alguns momentos, à comparação com o estilo do escritor alagoano Graciliano Ramos, especialmente na forma de não batizar seus personagens com nomes próprios. Em Vidas secas, por exemplo, Graciliano referia-se aos protagonistas como “o menino mais novo” e “o menino mais velho”. Na peça, essa referência fica evidente, pois os atores se revezam nos papéis ora da “mulher da limpeza”, ora do “homem que queria o barco”.

O toque contemporâneo fica por conta da trilha sonora que traz nomes como Secos e Molhados, com as músicas Glória ao rei dos confins do além e Patrão nosso de cada dia. Na abertura, a canção Olho de peixe, de Lenine, traduz o tom da montagem, propondo uma reflexão sobre os desejos ocultos de cada um: “Se na cabeça do ho-mem tem um porão, onde moram o instinto e a repressão, o que é que tem no sótão?”


|Serviço: Centro Cultural da Juventude – Anfiteatro. Zona Norte. De 12 a 20. Sáb., 20h. Dom., 18h30. Grátis