Mostra reúne obras históricas do Grafite em São Paulo

Na São Paulo do final da década de 1970, em que se vivia a expectativa da prometida abertura política, ao mesmo tempo em que persistia o temor da perseguição militar, as pichações visíveis eram, em sua maioria, dizeres políticos

Um certo dia, porém, os muros começaram a dar lugar a duas imagens que surgiam por todos os cantos: uma boca com os escritos “ah, beije-me”, e uma bota preta, de salto fino e cano longo. Eram as primeiras manifestações do que viria a ser a street art.

Com o objetivo de apresentar os artistas pioneiros dessa manifestação de rua, o Centro Cultural São Paulo promove a exposição Setenta e oito, setenta e nove: precursores do grafite em São Paulo, a partir do dia 16, no piso Flávio de Carvalho.

O autor da boca, Hudinilson Jr., tornaria-se um dos principais nomes do grafite, e seus trabalhos com máquinas de xerox, além do desenho, arte postal, colagens e performances, chegariam até a 1ª Bienal de Havana, em Cuba, e à 18ª Bienal Internacional de São Paulo. A temática desenvolvida por ele gerava incômodo: a exploração do corpo masculino nu, erotizado, com ênfase nas curvas e músculos.

Já o criador da bota feminina, Alex Vallauri, entraria para a história das artes gráficas utilizando diversos outros suportes, como o stencil, gravuras, broches e estampas – sempre coloridos e alegres, contrastando com o cinza urbano. A parceria entre os dois teria um começo um tanto inusitado: “Certo dia, eu estava desenhando a boca, quando parou um moleque do meu lado e tirou um spray. Ele olhou para a parede e viu a boca. Olhei para o desenho dele, era a bota, que até então eu pensava ser uma propaganda de loja de calçados. Olhamos um para o outro e dissemos: ‘ah, é você?’ ”, conta Hudinilson. 

Assim como eles, Walter Silveira, Fernando Meirelles (ele mesmo, o cineasta) e Tadeu Jungle também deixaram sua marca. Meirelles explorou os carimbos e o grafite, enquanto Silveira e Jungle seguiram pelo caminho da arte postal e da poesia visual.


Serviço: Centro Cultural São Paulo – Piso Flávio de Carvalho. Centro. De 16/8 a 14/9. 3ª a 6ª, das 10h às 20h. Sáb., dom. e feriado, das 10h às 18h. Grátis