Cate e SPFW selecionam mulheres em situação de violência para trabalho nos bastidores dos desfiles

A iniciativa da Prefeitura de São Paulo, em parceria com o Instituto Nacional de Moda e Design, viabilizou a seleção das candidatas nesta quinta (10)

Nesta quinta-feira, 10 de novembro, foi realizado processo seletivo com candidatas que irão trabalhar nos bastidores da São Paulo Fashion Week, no final deste mês. A ação é uma inciativa da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho da Prefeitura de São Paulo, o In-Mod - Instituto Nacional de Moda e Design e a SPFW, para inserir mulheres em situação de violência doméstica e familiar no mercado de trabalho. As selecionadas fazem parte do programa Tem Saída, da administração municipal, que auxilia mulheres a conquistarem a autonomia financeira a fim de saírem do ciclo de abusos físicos e psicológicos.

O processo seletivo ocorreu no Cate Central e cinco mulheres foram aprovadas para trabalhar entre os dias 16 e 20 de novembro no Komplexo Tempo, local dos desfiles, na região leste de São Paulo. Os próximos passos são a assinatura do contrato de trabalho e o treinamento. As funções incluem assessorar a coordenação do backstage, controlar a chegada e entrada de casting, acompanhar a logística de trabalho, controlar a troca de modelos nos desfiles, entre outras tarefas. As participantes vão contar com cachê de R$ 200 por dia, em média.

“A SMDET é comprometida em fomentar o mercado da moda, por isso nutrimos parcerias de longa data com a SPFW, que é renomada como um dos maiores eventos do segmento no mundo. Também mantemos um programa na área, o Fashion Sampa, que fomenta o setor em diversas frentes. Nesse contexto, o programa Tem Saída se encaixa perfeitamente. Além de conseguirem renda extra, as nossas participantes poderão se reinserir no mercado de trabalho, constituir currículo e terão a oportunidade de se aproximarem do mundo da moda, que oferece muitas possibilidades e protagonismo feminino” diz a secretária de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Aline Cardoso.


Retomar a confiança

Algumas das mulheres contratadas para trabalhar no evento falaram sobre o impacto do programa Tem Saída e das vagas oferecidas. Suellen*, que ficou sabendo das vagas por meio da Casa da Mulher Brasileira, instituição que também ampara vítimas de violência, conta que “nós, mulheres em situação de violência doméstica, além de perdermos muitas das experiências da vida, também perdemos a confiança na nossa capacidade de fazer as coisas sozinhas. A mensagem passada por essa ação voltada para nós é: você pode, você é capaz de fazer melhor, de viver independente. Ter pessoas vindo até você e oferecendo essa oportunidade faz toda a diferença”.

Mariana*, outra das selecionadas, fala sobre as expectativas de trabalhar no evento. “É difícil para nós estarmos aqui, tentando nos reerguer depois de tudo que passamos. Muitas vezes nos sentimos desamparadas por tudo e por todos. Com esse projeto, eu me sinto vista, me sinto acolhida. É uma oportunidade de voltar a viver”.

Um dos responsáveis por conduzir o processo seletivo, Edi Benini, da Benini Produções, também comentou sobre a experiência: “É muito gratificante poder trabalhar com essas pessoas que passaram por tantos transtornos em suas vidas, e que a gente sabe que muitas vezes estão mais inseguras, com o emocional abalado. Dar uma chance para alguém que sofreu violência doméstica é abrir uma porta para a volta ao mundo real, ao mundo profissional”, ressalta.

E as mulheres também comentam sobre o que acham essencial no tratamento e na conduta das organizações em seleções voltadas para este grupo – e como foi a experiência no Cate. Suellen destaca que “O atendimento é bem particular. Ao invés de só te jogarem para trabalhar em qualquer área, as atendentes sempre procuram saber o que você gosta, o que você procura e o que sabe fazer”. Mariana complementa: “A sensibilidade no processo seletivo é muito bacana. Não olham para a gente como se nós fossemos diferentes dos demais, ou como se fossemos ‘coitadas’. Não estão nos dando as vagas por pena, mas sim oferecendo uma oportunidade de mostrar nosso potencial. É um olhar de carinho e, acima de tudo, respeito”.

Tem Saída
O programa Tem Saída, lançado em 2018, é uma política pública voltada à autonomia financeira e empregabilidade da mulher vítima de violência doméstica e familiar. A ação é uma parceria entre a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Ministério Público, Defensoria Pública, Tribunal de Justiça, OAB-SP, ONU Mulheres e Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania.

A vítima em situação de violência doméstica e familiar poderá ser integrada ao Programa Tem Saída a partir do atendimento realizado pelos órgãos de justiça e rede municipal de apoio à mulher. Passando pelo atendimento, ela é encaminhada ao Cate. O processo destinado a esse público é diferenciado, com apoio da equipe técnica e recursos humanos das empresas parceiras.

Saiba mais acessando o site.

Sobre o Fashion Sampa
O Fashion Sampa tem o objetivo de impulsionar o mercado da moda, promovendo ações de qualificação profissional e geração de renda por meio do empreendedorismo e gestão de negócios. A iniciativa, que conta com o apoio da São Paulo Fashion Week, incentiva o empreendedorismo e o desenvolvimento de políticas voltadas a reduzir as desigualdades regionais.

O Fashion Sampa promove também a conscientização e o combate à pirataria e a realização de ações educativas para a produção e o consumo socialmente e ambientalmente sustentável, a fim de colaborar com a erradicação do trabalho análogo à escravidão e a redução de impactos ambientais causados pela indústria têxtil.

*A fim de preservar a identidade das mulheres entrevistadas, os nomes utilizados são fictícios

 

 

 

Por Camila Sales Machado 

 

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