Zona sul é a próxima região a receber os beneficiários do Bolsa Trabalho para intervenções artísticas

O Viaduto Sena Madureira, na região da Vila Mariana, contará com a segunda fase de instalação de mosaicos nesta quinta e sexta, dias 30 e 31 de março, em ação da Prefeitura e Governo do Estado de SP

As regiões central e sul da Capital estão recebendo intervenções artísticas nesta semana pelos beneficiários do programa Bolsa Trabalho. Iniciados na segunda-feira, 27 de março, pela rua José Paulino, no bairro Bom Retiro, e nas proximidades do Largo Paissandu, os trabalhos de grafite passaram a colorir muros e mobiliários urbanos como bancos, em atividades práticas aos participantes do programa, que desde agosto de 2022, recebem capacitações profissionais. A ação é uma parceria entre a Prefeitura e o Governo do Estado de São Paulo.

Os trabalhos terão continuidade nesta quinta e sexta-feira, dias 30 e 31, com aplicação de outra técnica artística, agora na zona sul da cidade. Entrando na segunda fase de trabalhos, os beneficiários participam da instalação de mosaicos no acesso do Viaduto Sena Madureira, na região da Vila Mariana. A obra de arte começou a ser aplicada no final de 2022.

Os beneficiários do programa se dedicaram na produção das peças que ilustram pontos turísticos da cidade como o Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32, a Oca do Parque Ibirapuera e a Cinemateca Brasileira, na primeira fase. As etapas contam também com grafite e outras peças do mosaico, representando a fauna e flora, que formarão 60 metros de instalação linear no local.

O mosaico tem uma proposta sustentável com utilização de materiais reciclados como cerâmica, pastilhas de vidro ou murano, cimento, argamassa, garrafas, entre outros. O trabalho tem sido desenvolvido com o acompanhamento da especialista na técnica, Marcela Munhoz.

Grafite

Em homenagem o Dia Mundial do Grafite, comemorado em 27 de março, os beneficiários do programa Bolsa Trabalho participaram de oficinas práticas com artistas grafiteiros para realizar intervenções com tinta e spray em locais públicos da cidade. Foram pintados murais na intersecção entre a Av. Rio Branco e o Largo do Paissandu e decorados os bancos localizados em frente a ambas as entradas da Galeria Olido, na Av. São João (também em frente ao Paissandu).

A ação faz parte das capacitações que estão em curso desde agosto do ano passado na capital, beneficiando um total de 10 mil pessoas em situação de rua ou de vulnerabilidade social, sob a administração da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho. “Procuramos oferecer a esses indivíduos a oportunidade de experimentar diversas atividades profissionais, que podem envolver desde zeladoria a arte. Assim, os incentivamos a encontrar algo que gostem de fazer, que além de proporcionar a geração de renda também vai promover crescimento pessoal. Pensando nisso, o grafite e a pintura são opções muito ricas e que estão em alta. Proporcionar outra realidade e ampliar a perspectiva deste público já estava no horizonte deste programa”, comenta a secretária municipal Aline Cardoso.

Os beneficiários tiveram a oportunidade de desenvolver técnicas de grafite e conhecer a história desta arte, contando com as instruções do artista Fernando RV, grafiteiro com atuação na Capital desde a década de 1990, além da ajuda de outros artistas parceiros e a equipe técnica do programa.

“Grafite pra mim é onde você expressa seus sentimentos, sabe? É onde você pode transmitir tudo mexendo com tinta, trabalhando com as cores. É muito gratificante”, disse Marina Gabriela Ribeiro, que faz parte de coletivos artísticos, é produtora cultural e no grafite assina como Cigana Treze. Ela acompanhou a ação no dia 28. “Já faço grafite há seis anos, mas nunca tinha participado de oficinas com adultos. Eles são muito legais, muito divertidos. E eu posso ver que eles estão adorando isso de mexer com tintas, se sujar e pintar!”

A artista pensa que esse estilo dialoga muito bem com pessoas que estão em vulnerabilidade social. “O grafite sempre foi uma arte muito marginalizada, que só está começando a ser reconhecida agora. Acho que isso se reflete muito na vida deles, é como se estivessem passando os sentimentos e as vivências deles para os muros”.

Um dos participantes do Bolsa Trabalho, Valdecir Aparecido, comenta que teve facilidade para aprender a grafitar. “Já tinha feito cursos de pintura artística e também trabalhado como pintor em obras. Mas isso aqui é novidade, porque além de fazer a pintura é como se você estivesse reformando a área, dando uma nova cara com os desenhos. É muito bonito de ver”.

Francildo Vieira dos Santos, que ajudou a articular a ação, é conhecido como Vulgo Barraco no cenário cultural, faz parte da equipe do programa e também trabalha com grafite e com RAP há 17 anos, compondo o grupo Caos Notório. Na sua experiência, ele enxerga um potencial de restauração em iniciativas como essa. “É realmente um impacto muito bacana, porque percebo que eles gostam, faz com que eles interajam com a gente, traz uma resposta muito boa. Eu costumo dizer que a cultura e a arte salvam, resgatam, levantam a autoestima. Hoje, quando nós viemos para cá, eles estavam um pouco desanimados. Mas quando começamos a pintar e o desenho foi ganhando cara, eu já percebi um brilho no olhar”.

Outro beneficiários que participou da oficina, Claudinei Gonçalves, falou sobre sua experiência ajudando a pintar os bancos na região central. “É gostoso se envolver assim com arte e se sentir útil. Eu nunca tinha feito isso, mas agora já posso dizer que sou artista de pintura”, brinca. Claudinei reside em um abrigo para pessoas em situação de rua no centro e conta que, antes de entrar no Bolsa Trabalho, trabalhava como carroceiro. “Era um trabalho muito incerto. Hoje em dia o programa é tudo para mim, consegui até juntar dinheiro e pagar algumas dívidas. Mas a parte principal é poder estar envolvido em várias atividades, você se vê de forma mais positiva dentro da sociedade. Cabeça vazia é ruim”.

Ele também comenta que as oportunidades oferecidas pela Prefeitura fizeram com que agora ele tenha a perspectiva de conseguir um emprego fixo. “Eu tenho 58 anos. Para conseguir um emprego digno na minha idade, você tem que enfrentar a concorrência de pessoas que são mais novas que você, além dos preconceitos com a aparência. Mas depois de passar esse tempo no Bolsa Trabalho eu vi que eles oferecem mais opções para a gente, como os encaminhamentos para entrevistas de emprego pelo Cate”.

Programa Bolsa Trabalho

O programa Bolsa Trabalho ocorre desde agosto de 2022 por meio de uma parceria entre a Prefeitura de São Paulo e o Governo. A iniciativa atende pessoas em situação de rua e em alta vulnerabilidade social oferecendo capacitação profissional, atividades laborais em órgãos públicos e bolsa-auxílio de R$ 540 mensais. Inicialmente previsto para terminar em dezembro, o programa foi prorrogado por mais 90 dias.

Com cerca de 10 mil participantes, o programa conta com três gerenciadoras que atuam nas regiões central, norte, sul, leste e oeste da cidade, fazendo o acompanhamento dos participantes em atividades como zeladoria, trabalhos administrativos, suporte operacional, cultivo de hortas, higienização e limpeza e jardinagem.

Os bolsistas foram cadastrados previamente por equipes técnicas da prefeitura que mantiveram contato pessoas em vulnerabilidade social interessadas no programa. A prioridade para o preenchimento das vagas foi estabelecida para pessoas em situação de rua, mulheres arrimo de família, com maior tempo de desemprego e faixa etária avançada.

Reencontro

A ação do Bolsa Trabalho está no âmbito do Programa Reencontro da Prefeitura de São Paulo, que conta com tem três eixos de atuação: Conexão, Cuidado e Oportunidade. O primeiro prevê estimular a recriação de vínculos preexistentes e o fortalecimento da rede de apoio. O primeiro elemento de conexão entre o poder público e o indivíduo em situação de rua é a abordagem social, sendo um instrumento fundamental de vinculação das pessoas à política pública e às demais etapas e eixos do Programa Reencontro.

Já no segundo eixo, Cuidado, serão oferecidas moradias subsidiadas para aqueles que não possuem renda suficiente, nas seguintes modalidades: locação social, que é o aluguel subsidiado conforme renda; a renda mínima ou o auxílio pecuniário para pessoas sem problemas de drogadição; moradia transitória ou as unidades com alta rotatividade para que se busque evitar o processo de cronificação, promovendo rápido resgate da autonomia.

O terceiro eixo é o Oportunidade, que consiste na intermediação de mão de obra e emprego, através da capacitação profissional, da alocação em contratos públicos (Decreto nº 59.252/20), da busca ativa por vagas e pelo estímulo à contratação no setor privado.

 

 Por: Camila Sales Machado

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