Protagonismo feminino nas políticas públicas é debatido na USP com participação da Prefeitura de SP

O seminário idealizado pela universidade, em parceria com a ONU, trouxe mulheres em cargos de liderança no setor público e também pesquisadoras para pensar desafios e soluções

A terça-feira, 31 de outubro, Dia Mundial das Cidades, foi escolhida para o seminário “Políticas Públicas Locais por e para Mulheres: Avanços e Desafios Intersetoriais”, organizado pelo Instituto de Estudos Avançados da USP e pelo Circuito Urbano da agência ONU Habitat. O evento híbrido, cuja transmissão ainda pode ser assistida pelo canal do YouTube, debateu temas como os desafios que mulheres enfrentam em cargos de gestão pública, as intersecções entre gênero e raça e o direito da mulher à cidade.

O seminário contou com a presença de autoridades, gestoras públicas, acadêmicas e ativistas, que juntas discutiram a construção e o desenvolvimento de cidades capazes de empoderar mulheres – além de pensar a inclusão delas nesse planejamento. A secretária municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho da cidade de São Paulo, Aline Cardoso, foi uma das participantes do painel “Mulheres na gestão pública: os desafios da representatividade na formulação de políticas públicas municipais”.

A secretária, em sua fala, abordou suas experiências pessoais e as barreiras enfrentadas pela gestora pública. “A mulher se coloca muitas culpas. Quando ocupamos cargos públicos, existem diversos conflitos pessoais e sociais que precisamos superar. Homens não se sentem constrangidos por ter uma mulher em casa que cuida dos filhos, por ter a mãe que cuida da casa. Então por que nós nos envergonhamos de precisar do apoio de outras pessoas? A gente tem essa síndrome de super-heroína, ‘eu tenho que ser uma ótima profissional e eu tenho que ser uma ótima dona de casa’”, enfatizou a titular da pasta, uma das mais longevas da Prefeitura, com seis anos à frente da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho.

As participantes apresentaram dados estatísticos, pesquisas e também exemplos de políticas públicas reais implementadas a fim de melhorar as condições de vida feminina. A prefeita Renata Sene do município de Francisco Morato, na região metropolitana de São Paulo, explicou como sua gestão conseguiu pensar as necessidades femininas de modo que vai além do convencional, com projetos com foco em segurança, acesso a cultura e empregabilidade.
Outros exemplos foram dados por Aline, dessa vez em São Paulo, para Desenvolvimento Econômico e Trabalho, com foco na inclusão produtiva e empreendedora feminina. “O programa Tem Saída se tornou uma iniciativa modelo, que promove autonomia econômica financeira para mulheres em situação de violência, em parceria com o Ministério Público, o Tribunal de Justiça e a Defensoria. Nós criamos toda uma metodologia de apoiar a mulher que está no ciclo de violência, para que ela saísse dessa condição através da renda, do trabalho. Também temos uma das maiores iniciativas de geração de renda com 7 mil vagas destinadas a mães e mulheres da comunidade escolar, atuarem com auxílio de bolsa e capacitação profissional, na rede municipal de ensino”.

Transversalidade

Dando seguimento ao tópico, tanto a analista Clara Marinho, que coordena as iniciativas Elas no Orçamento e República.org, quanto a gestora pública Marina Barros, diretora do Instituto Alziras, destacaram a importância da “transversalidade” nas políticas públicas. Elas chamam a atenção para o fato de que geralmente os projetos feitos por e para mulheres se concentram apenas em áreas de assistência social, direitos humanos, educação, setores que lidam com o cuidar. Porém, apesar destes serem necessários, também faz falta a inclusão feminina em todos os âmbitos do planejamento: infraestrutura, mobilidade, orçamento, desenvolvimento econômico, segurança urbana, entre outros.

Kelly Agupyan, que coordena o grupo de pesquisa sobre gênero e Relações Internacionais do Instituto de Relações Internacionais da USP, complementa com o exemplo da mobilidade urbana, em que estudos mostram que são as mulheres quem mais usa o transporte coletivo. Entretanto, após terem filhos, passam a se deslocar muito mais a pé, pois os trajetos para as escolas e unidades de saúde não são contemplados pelas linhas municipais de transporte.

Barros trouxe as projeções que ajudam a vislumbrar a escassez da participação feminina nos cargos públicos. “A projeção é que é importante ter pelo menos 30% de mulheres nas assembleias legislativas. Atualmente, temos apenas 15% na Câmara Municipal de São Paulo”. Marinho ainda destacou as barreiras impostas na ocupação de cargos técnicos. “Mulheres são desencorajadas e afastadas das áreas consideradas mais ‘duras’, mesmo quando estão cursando graduação em economia, contabilidade, administração, direito, engenharia, entre outras”.

Depois, a secretária Aline Cardoso relatou como a sua experiência, aliada a pesquisas, mostra que no agir feminino predomina um pensamento mais coletivista. “Quando andamos nas comunidades, a gente vê que na maioria das vezes são as mulheres que estão à frente das lutas: é a mulher que ocupa o papel de líder comunitária, que está lutando por uma nova UBS ou diversos outros serviços”. Segundo ela, é contrastante o fato de que, ainda assim, elas sejam minoria nos cargos públicos de liderança, no alto-escalão.

 

 

Por: Camila Sales Machado 

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