III Entrevista da Visbilidade Lésbica

Marisa Fernandes é ativista lésbica, integra e ajudou a fundar o grupo Coletivo de Feministas Lésbicas – CFL-. Além disso, participa do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana – Condepe - e do Fórum Paulista LGBT. “Sou uma ativista lésbica e feminista. Sou defensora dos direitos humanos, combatente incansável da injustiça e das diferentes formas de violência e preconceito”, afirmou Marisa.

Ser lésbica ontem e hoje:

Para a ativista, em comparação com o passado, as dificuldades das lésbicas tendem a ser amenizadas, isso, segundo ela, é um resultado de três décadas de mobilização do movimento LGBT brasileiro e internacional. Além de uma exposição maior e mais respeitosa nos meios de comunicação e de formação. Marisa diz ainda que essa situação não é geral, o grupo atingido pela diminuição do preconceito é o de lésbicas que se encontram em grandes centros urbanos, pois em áreas rurais, sertões e em cidades pequenas existe uma intolerância maior. “Existem algumas situações que são sempre muito difíceis, seja no passado ou nos dias de hoje, como se aceitar lésbica e se assumir para a família. O preconceito é sempre muito grande, cruel e perverso. Pessoas homofóbicas sempre existiram e existirão, mesmo que a informação sobre o ser lésbica seja cada vez mais difundida e ajude no combate ao preconceito”.

A militância:

Em 1978, junto ao primeiro grupo de afirmação sexual organizado, o SOMOS, Marisa Fernandes começou sua militância. Com o ingresso de lésbicas nesse grupo, foi criado um subgrupo, O Fésbico Feminista – LF - e, posteriormente, um grupo independente, o Galf – Grupo de Ação Lésbico Feminista, dos quais Marisa foi co-fundadora. “Descobri-me lésbica muito jovem, com 14 anos, em um período histórico muito difícil, na ditadura militar e fui brutalmente agredida pela minha família. Fui muito injustiçada por apenas amar e desejar sexualmente pessoas do mesmo sexo. No entanto, não havia naquele momento espaço político para ingressar em alguma organização social, uma vez que a ditadura impedia as formas de organização. Nem o movimento feminista e nem o homossexual no Brasil estavam sequer em surgimento. Assim, em 1978 quando eu já estava na universidade, aconteceu o primeiro debate sobre homossexualidade. E foi quando tive oportunidade de ingressar naquele grupo e por meio dele iniciar meu ativismo de combate às violações dos direitos humanos”.

Lembrança:
“Ter me tornado feminista, em 1979, quando as lésbicas organizadas ingressaram no movimento feminista e dentro dele começaram a atuar. Quando conheci o feminismo meu olhar para o mundo se transformou. Tomei conhecimento do quanto as mulheres são vítimas de uma gigantesca e dominante estrutura patriarcal, androcêntrica, heteronormativa, machista. Vi na minha mãe a mulher e não mais o papel de mãe que tanto leva os filhos e filhas a admirarem o pai, porque o mundo masculino é sempre vitorioso, dinâmico, bem sucedido. Passei a respeitar todas as mulheres e o universo que as cerca. O feminismo transformou minha vida e a dediquei para transformar a vida das outras mulheres, combatendo a opressão de gênero, a violência, o machismo, o racismo e a homofobia, pilares de sustentação do patriarcado heternormativo, irracional, perverso, injusto e belicoso, profundamente violento”.