IV Entrevista do mês da Visibilidade Lésbica

Anita Costa Prado, formada em contabilidade pela faculdade de educação Campos Salles, encontrou na literatura o que realmente gosta de fazer. Em fevereiro do ano passado, Anita foi premiada na categoria Melhor Roteirista de 2007 no 24ª edição do Prêmio Angelo Agostini. Isso aconteceu por conta de um trabalho que ela desenvolveu, o de uma personagem lésbica de quadrinhos, chamada Katita.

Ser lésbica ontem e hoje:

Anita conta que a diferença de ser lésbica hoje em dia e antigamente é sentida no cotidiano. “A sociedade, em linhas gerais, tem uma postura mais respeitosa e menos agressiva. Isso ainda requer avanços, já que o preconceito pode estar camuflado como falsa modernidade ou tolerância. Antes havia o passo lento e temeroso, hoje o tempo avança rápido. Devemos acompanhar as mudanças e fazer parte delas”.

A militância:

“Na literatura, tenho contos e crônicas abordando temas relacionados ao preconceito sexual, racial, social, etc. Tento levar aos leitores informações e uma abordagem positiva.
No entanto, o que tem mais impacto é no universo das histórias em quadrinhos:
A Katita, através do bom humor, aborda temas polêmicos e desde 1995 tenho buscado espaço na mídia, o que felizmente vem ocorrendo de forma crescente. Cada trabalho publicado tem suas conseqüências e quando o livro da Katita ganhou o Prêmio Angelo Agostini  de Quadrinhos, como melhor lançamento de 2006, acarretou uma infinidade de desdobramentos, pois era a primeira vez que uma personagem lésbica de H.Q. conseguia obter tal premiação. O assunto gerou entrevistas, convites, textos e até protestos de religiosos escrevendo e-mails, desaprovando a postura da personagem e sua premiação. Mas isso tudo trouxe o tema para a 'vitrine'”.

Lembrança:

“Vou narrar o mais recente: Recebi  a carta de um homem citando que quando viu a Katita em uma revista, sentiu repúdio e nessa encarnação pelo menos, sabia que não poderia aceitar a homossexualidade das pessoas. Até a última linha, havia o tom pesado do preconceito. Ao invés de responder xingando, escrevi uma  longa carta-resposta gentil, com minhas opiniões e uma série de argumentos que iam no caminho contrário da sua carta. Alguns dias depois, ele respondeu que estranhou minha postura, pois imaginava que eu iria 'cair de pau em cima dele'. O tom agora era mais suave e ele me enviou duas publicações de presente. Ganhei um amigo que passou a me respeitar e viu que a personagem não é imoral por ser lésbica e que a homossexualidade não é um bicho de sete cabeças”.