V Entrevista do Mês da Visibilidade Lésbica

Cida Araújo é a proprietária de um dos bares mais conhecidos no meio LGBT. O Farol Madalena, localizado na zona oeste de São Paulo, é um dos locais mais freqüentados pelas lésbicas paulistanas. O bar possui 11 anos de existência e muita credibilidade, “O sucesso deste lugar acontece por 11 anos, muitos bares por aí já abriram e fecharam, o meu segredo é oferecer uma ótima comida, um ótimo atendimento, ótimas bebidas e acima de tudo, respeitar a todos que freqüentam o Farol, sejam lésbicas, gays ou heterossexuais”, contou Cida.
A fama de Cida vai além do bar, ela também promove uma festa na casa noturna “The Week” quatro vezes ao ano, a Diva. Esse dia é formado por um público composto por setenta por cento de mulheres e trinta por cento de homens. “Essa festa é uma aglomeração de mulheres, uma reunião que vai desde os 18 anos até 60. Reúno todos as tribos, pessoas com diferença de raça, cultura, fator econômico e faço com que todos se divirtam juntos”.

Ser lésbica ontem e hoje:

“Hoje em dia a visibilidade é bem maior, a abertura é maior, a moçada sai do armário mais rápido. Mas isso é algo que acontece gradativamente, eu comecei a me descobrir com 24 anos e sai do armário quando o Farol foi inaugurado. Para mim, a visibilidade deve se ampliar de forma homeopática, não podemos ser agressivos e devemos sempre respeitar as pessoas ao nosso redor, é algo primordial”. Segundo Cida, os brasileiros ainda não estão preparados para olharem duas mulheres se beijando na rua e muitas vezes essa situação é vista com muito preconceito, por isso precisa-se lutar por direito e liberdade, mas de forma sutil e respeitosa.

A militância:

“Eu colaboro com o seguimento através do meu trabalho, certa vez, uns seis meses depois da inauguração do Farol, um jornalista da revista Época me pediu para dar uma entrevista, a princípio hesitei, pois muitas vezes as matérias acabam prejudicando nossa imagem, mas após conversar com o jornalista e assinar um acordo, dei a entrevista. Foi um recorde de vendas de uma tiragem nacional. Na reportagem eu falava sobre o modo de vida dos LGBT, abordei assuntos referentes ao dia-a-dia, mostrei a realidade de um modo natural, fazendo com que as pessoas percebessem que a homossexualidade não é um ‘bicho de sete cabeças’”.

Lembrança:

“Era de noite, por volta das 23h e eu estava aqui no Farol recebendo meus clientes. Quando olho para a porta de entrada, vejo um casal heterossexual de idosos, eles estavam super bem arrumados e bem perfumados. Foi ai que eu pensei: Meu Deus do céu. Fui até eles e expliquei que aquele é um bar voltado para o público GLS, a senhora olhou para mim e falou: Tudo bem, vim aqui porque quero comer uma casquinha de siri. Logo depois seu marido perguntou para ela, o que quer dizer público GLS? e a senhora respondeu: Depois te explico.
Mais tarde, me dirigi até a mesa onde eles estavam e perguntei se eles haviam gostado e ela me respondeu que tinham adorado. Quando seu marido foi ao banheiro, ela me explicou que a neta dela é lésbica e falou que no Farol tinha uma ótima casquinha de siri e a avó foi provar. Aquela situação me deixou muito feliz, foi um momento único".