VI Entrevista do Mês da Visibilidade Lésbica

Laura Bacellar,48, é editora e escritora de livros. Segundo ela, a escolha por essa profissão ocorreu após a leitura de “Carol”, da escritora Patrícia Highsmith. A escritora conta que estava na Inglaterra quando isso aconteceu e tinha apenas 19 anos. Diz ainda que esse foi o primeiro romance de lésbicas a ser publicado sobre lésbicas e com final feliz. “Fiquei completamente nas nuvens, andando pelo País de Gales, onde eu estava passeando, sem prestar atenção em nada. O romance entre as duas mulheres ficava rolando como um filme na minha cabeça, os diálogos em que elas finalmente se entendiam e iam rolando morar juntas se repetindo no meio da noite”, contou Laura.

Ser lésbica ontem e hoje:

Para Laura ser lésbica nos dias de hoje é mais fácil, as mulheres encontram mais informações sobre o meio, é mais fácil achar alguém e se relacionar. Ela diz ainda que a internet é uma ferramenta muito importante, é possível sanar muitas dúvidas, existem sites específicos para abordar o assunto. Conta-se também com o aparecimento de filmes e livros que retratam o mundo das lésbicas e existe o seriado “The L Word”, que retrata como é a vida das personagens, que são homosexuais e bissexuais. “Eu assumi ser lésbica na década de 80, só pude ter acesso a livros, e em inglês. Os poucos bares que existiam para as mulheres eram escondidos, não eram divulgado e só as ‘entendidas’ sabiam onde ficavam. As pessoas morriam de medo que alguém no trabalho descobrisse que tinham uma namorada, que iam aos tais lugares ‘proibidos’. Era, em suma, muito mais chato, mais trabalhoso, era problemático se descobrir lésbica, principalmente no final da época da ditadura”. Ela afirma que faz parte dessa minoria e sente na pele os maus efeitos da discriminação. Para ela o que é necessário é o preconceito, fazendo com que todas as lésbicas possam ser felizes.
                                                          
A militância:

Laura Bacellar disse que nunca foi militante propriamente, nunca pertenceu a um grupo que desenvolvem um trabalho sistemático para a modificação das políticas. Mas mesmo assim ela acredita que tem uma atuação consistente para a diminuição do preconceito. “ Algumas das coisas que fiz é ter contribuído para a revista lésbica ‘Femme’ lá no início da década de 90, ter trabalhado numa das primeiras agências de viagens abertamente dirigida ao público LGBT, o primeiro selo de livros assumidos para o segmento, de 98 a 2004. Também contribuí para a organização da Parada do Orgulho de São Paulo em 99 e 2000, ter sido uma das coordenadoras do grupo de lésbicas Umas & Outras, pelos quatro ano que funcionou. Desde 2004 dou treinamentos, junto com o Franco da ABRAT-GLS, para empresas que desejam atender bem o público homossexual e agora estou começando, junto com o grupo de lésbicas, a primeira editora lésbica do país, a Editora Malagueta”, afirmou Laura.“Minha primeira educação feminista foi autodidata com livros na Inglaterra em 1980. Minha primeira tentativa de pertencer a um grupo de lésbicas foi em 1982, quando quis me filiar ao GALF (não me aceitaram porque não me conheciam...). Participei da primeira conferência nacional de grupos LGBT em 1992 em Cajamar e do primeiro SENALE no Rio de Janeiro, quando foi definido o Dia da Visibilidade Lésbica. Escrevi meu primeiro texto como lésbica em 1993 e dei minha primeira entrevista na televisão como lésbica assumida em 1994”, disse Laura.
Lembrança:

Um momento muito importante dói quando descobri ser lésbica, foi também na Inglaterra, antes de ler Carol, quando vi duas mulheres  loiras e lindas  se beijando numa boate. Eu nunca tinha visto um beijo tão apaixonado, tão obviamente de um casal de namoradas e tão não pornográfico ou sacana, entre duas mulheres. Fiquei maravilhada e senti meu coração bater tão forte que as dúvidas que tinham me levado até se dissiparam.