VIII Entrevista do mês da Visibilidade Lésbica

Laura Finocchiaro tem 46 anos, é cantora, compositora e atualmente trabalha como produtora musical para o SBT. Ela nasceu em Porto Alegre e veio para São Paulo em 1983. “Quando eu vim para São Paulo já gostava de mulheres, tinha uma namorada em Porto Alegre, mas nunca tive uma visão militante. Quando cheguei aqui conheci pessoas que me introduziram na causa”, declarou Laura. A cantora usou a música, sua arte, como forma de luta pela diminuição do preconceito e em busca do amor entre as pessoas. “Eu nunca cobrei pelos shows que fiz em favor da causa lésbica, sempre exerci esse trabalho com amor e isso fez com que portas se abrissem para mim e para meu trabalho dentro do movimento”.

Ser lésbica ontem e hoje:

Para a produtora musical hoje em dia a situação é um pouco mais fácil que antigamente, incluindo no meio artístico. Laura conta ainda que se esforçou muito para contribuir pela visibilidade lésbica e isso abriu o caminho para muitos artistas que resolveram enfrentar a sociedade e assumir sua orientação sexual, assim como ela mesma fez. No começo, sofreu muito pecronceito, a industria passou a enxergá-la não mais como uma artista, mas como uma ativista lésbica, teve que enfrentar muitos obstáculos, mas nunca desistiu de sua luta pela música. “Tenho orgulho de ser alguém com capacidade de amar, seja homem ou mulher, não preciso definir exatamente o que eu sou, apenas amo”. Para a artista o movimento pela visibilidade GLBT é muito segregado, as pessoas não pensam em um todo, sempre separam os gays, as lésbicas, os bissexuais. “Temos que agregar, insistir em um movimento coletivo, de união e amor entre as pessoas”.

A militância:

“Atualmente não milito em nada, estou desacreditada do movimento, o barulho que tinha que ser feito já foi feito. Agora a coisa esvaziou, existe muito interesse político e econômico na causa, a luta não é mais apenas por amor”.
Laura acredita que a forma de luta mudou, que as pessoas devem ser transparentes e espontâneas, agir com naturalidade. “Acho que devemos sair com a parceira de mãos dadas, devemos nos beijar assim como qualquer outro casal heterosexual faz. O preconceito existe, mas é no dia-a-dia que enfrentamos isso”.
“Hoje em dia quero falar menos e cantar mais, quero passar o que eu sou através da minha arte. Eu sou uma cantora, quero que minha música sirva para libertar as pessoas, integrá-las umas as outras, colaborar com o movimento com o meu trabalho”.

Lembrança:

“O momento mais marcante foi na Parada do Orgulho GLBT em 2002, quando eu olhei para as mulheres que estavam na rua, todas com jaquetas de couro, e os gays e as travestis com vestes coloridas, cheios de alegria. Foi quando eu falei ‘mulheres metam os peitos para fora, sejam felizes’ e na mesma hora tirei minha blusa, deixando meus seios a mostra. Foi um momento muito emocionante, fiquei com muito medo na hora, porque sou uma pessoa pública, mas tive coragem e fiz”.