A organização do Selo Municipal de Direitos Humanos e Diversidade reuniu empresas e organizações para uma exposição sobre o programa, nesta sexta-feira, 30, no auditório da Pinacoteca do Estado de São Paulo, no bairro do Bom Retiro.

A reunião foi organizada pelo assessor da Coordenadoria de Planejamento e Informação, Ricardo Marchiori, e contou com a participação de representantes da Pinacoteca e da empresa Sodexo, que já receberam o selo de Direitos Humanos e Diversidade da Prefeitura, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, por conta dos projetos de inclusão e empregabilidade que desenvolvem.

“Que o dia seja muito produtivo e que vocês saiam daqui mais potencializados. Espero que as experiências das empresas que participaram da primeira edição sejam compartilhadas e que elas continuem no programa nessa outra oportunidade. Convido as organizações que ainda não aderiram para que participem do novo edital que está com inscrições abertas”, disse Marisa Fortunato, secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania, ao abrir o evento.

Ricardo Dias, coordenador de Políticas para LGBTI, falou sobre a experiência da Pinacoteca, “que abriu as portas para os beneficiários do programa Transcidadania”, ao contratar mulheres e homens trans para atendimento dos frequentadores do museu. Disse que esteve empenhado nos últimos meses em dar ênfase ao aspecto de empregabilidade do programa em reuniões com diversas empresas.

Recentemente, a rede de supermercados Pão de Açúcar abriu um processo de seleção para contratar 30 mulheres transexuais. A concessionária da Linha 4 Amarela do Metrô, segundo Ricardo Dias, também está interessada inicialmente na contratação de homens trans e a multinacional de cosméticos Avon já tem uma reunião agendada com o coordenador para o desenvolvimento de iniciativas do gênero.

Ricardo Dias disse que a coordenação também desenvolve outros projetos nos Centros de Cidadania LGBTI. “Mas o que nós encaramos com mais carinho é o Transcidadania porque ele levanta a autoestima da população trans, que historicamente sofre todo tipo de preconceito, a exclusão da sociedade e do mercado de trabalho, então a gente desenvolve esse programa para transformar a vida dessas pessoas”, afirmou.

Beneficiárias
Márcia Guiote é responsável pelo trabalho de atendimento da Pinacoteca e pela área de Recursos Humanos. Ela disse que há um interesse crescente das empresas pela questão da diversidade. “Há muitas empresas fazendo pesquisas sobre diversidade, mas nós escolhemos trabalhar de outra forma. Nós nos perguntamos porque essas pessoas não chegam aqui, por que elas nunca participam dos processos seletivos?”, afirma. De acordo com ela, a Pinacoteca já havia feito um contato com o Centro de Cidadania LGBTI Luana Barbosa dos Reis, na Zona Norte, e por eles souberam do trabalho de capacitação profissional de pessoas trans. O Centro de Cidadania foi até a Pinacoteca – conta – e fez um trabalho de sensibilização interno porque a Pinacoteca também não estava preparada para lidar com algumas questões. “Tinha o nome social, qual banheiro frequentar, os vestiários..., então eles vieram fazer um treinamento. Nós não contratamos essas pessoas por serem trans, mas por serem funcionários com capacidade ou possibilidade de desenvolvimento. E eles estão aqui por serem bons profissionais”, afirma.

Os beneficiários do Transcidania, que estão contratados pela Pinacoteca, falaram sobre as suas experiências. Demily Nóbrega está terminando o curso de pedagogia e tem graduação em filosofia. “Esse programa trabalha com o resgate da dignidade e de como participar do mercado de trabalho, que não é fácil para ninguém, incluindo para as pessoas ´consideradas normais´ por estarem dentro do padrão da sociedade. Mesmo que a sociedade não esteja preparada, nós existimos e estamos aqui porque somos seres humanos e queremos trabalhar. Não sou uma coisa para ser adjetivada”.

“Quando eu vim para fazer a entrevista, pensei que ia ser mais uma das muitas que não consegui passar. Eu tinha certeza disso. A gente entra num lugar bonito como esse e pela nossa imaginação não existe a possibilidade de trabalhar ali. Foi quando me ligaram e disseram: ‘a vaga é sua’. Desde o início, nunca fui estigmatizado e embora não saiba o nome de todos, eles sabem o meu. Quando eu entrei, achei que essa seria a minha oportunidade. Tenho 34 anos, sempre trabalhei, mas é a primeira vez que tenho a carteira assinada”, afirma Yago Tavares. Com o plano de saúde, conseguiu fazer uma mastectomia. Hoje, Yago se sente livre da faixa que utilizava para contrair os seios. “Vou correr atrás dos meus objetivos e fazer uma universidade. Só tenho a agradecer”, completa.

Imigrantes
A coordenadora Jennifer Anyuli falou sobre as políticas públicas para imigrantes. “O contexto da empregabilidade de imigrantes esbarra na regulamentação dos diplomas e nas questões de domínio do idioma que quem se desloca de seu ambiente para vir ao Brasil não possui”.

O Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (CRAI), sob responsabilidade da coordenação, atua também para proporcionar o acesso ao mercado de trabalho. Esse serviço é feito em parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho.

Segundo Jennifer, o imigrante que não possui documentação não é uma pessoa considerada ilegal no país, mas com a documentação regularizada ele pode abrir um conta bancária e possuir a carteira de trabalho, por exemplo. Por isso – afirma - a questão da documentação é tão importante.

O CRAI dá apoio e suporte para ONGs e empresas interessadas em contratar imigrantes. No equipamento, há cinco atendentes de diferentes nacionalidades. O serviço é prestado em 10 idiomas. No local, também há um Grupo de Apoio e Empregabilidade que oferece cursos e oficinas profissionalizantes. Para o ensino do Português, a SMDHC em parceria com a Secretaria Municipal da Educação, oferece um curso do idioma realizado em 15 escolas municipais, com disponibilização de material didático gratuito.

Da promoção do evento de uma semana de emprego e renda no CRAI surgiu uma parceria com o grupo Pão de Açúcar para a realização de processo seletivo de contratação, com dispensa à apresentação de títulos, considerando as dificuldades internas para a regularização de diplomas de ensino de outros países. O processo levou em conta as experiências de trabalho de fora do Brasil, já que alguns imigrantes apresentavam altíssimo nível de escolaridade e a vivência de outros mercados de trabalho.

A maior parte dos imigrantes que procura colocação no mercado é de haitianos, seguidos por congoleses e, entre os latinoamericanos, os bolivianos e mais recentemente venezuelanos. O CATe – Centro de Atendimento ao Trabalho e Empreendedorismo da Prefeitura – também iniciou um processo de intermediação e contratação de mão de obra, que resultou em 100 vagas ofertadas, com 92 encaminhamentos para contratação.

PopRua
A escolha da Pinacoteca como lugar da reunião levou em consideração a parceria do museu também com a Coordenação de Políticas para as Pessoas em Situação de Rua. Pelo Circuito Cultural PopRua, os beneficiados têm acesso a centros culturais, que de outra forma não teriam.

Segundo a coordenadora Giulia Pereira Patitucci, o que caracteriza a população atendida é o estado de extrema pobreza em que vive. O fenômeno ocorre nos grandes centros urbanos e envolve situações de vulnerabilidade sobrepostas. Em situação de rua há pessoas de diferentes perfis, entre os quais LGBTI, idosos e crianças.

De acordo com o censo realizado em 2015, havia na cidade de São Paulo 16 mil pessoas em situação de rua. Este ano, um novo censo deve ser realizado, mas a estimativa é de que esse número abranja atualmente mais de 20 mil pessoas, com o acréscimo de que hoje há muitas famílias e idosos nessa situação.

Segundo Giulia, a Prefeitura atua em duas frentes: moradia e empregabilidade. Há em andamento a experiência do Programa Ação Trabalho (POT), da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, de construção de vínculos de trabalhos com foco na escolarização e qualificação profissional. O projeto piloto envolve a participação de 30 beneficiários, que trabalham na confecção de tapetes, sendo uma parte composta por mulheres transexuais envolvidas na confecção de roupas com tecidos reciclados.

O programa inclui ações de economia solidária para comercializar os produtos, como resultado há pessoas saindo da situação de rua e outras que conseguiram refazer os vínculos familiares. “O fato de as pessoas estarem no programa indica a intenção delas de mudar de vida e é essencial dar essa oportunidade a elas”, afirma Giulia.

Mulheres vítimas de violência
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho fez uma apresentação do Programa Tem Saída, focado nas oportunidades de trabalho para mulheres vítimas de violência. Houve a exibição de um vídeo reunindo representantes de três grandes clubes de futebol que presenciaram, visivelmente emocionados, o depoimento de uma mulher vítima da violência por parte de seu companheiro. Ela fala de diversas situações que viveu, até que consegue fugir com os filhos e encontrar apoio no programa.

O Tem Saída é desenvolvido com a participação da Prefeitura de São Paulo, Tribunal de Justiça do Estado, Ministério Público, OAB e Defensoria Pública. A idealizadora do programa é a procuradora Gabriela Mansur, do MP.

O apoio é dado por iniciativas de empoderamento e autoafirmação com a rede de proteção à mulher na cidade de São Paulo, para mulheres vítimas de diferentes tipos de violência de origem moral, verbal, psicológica, patrimonial, física, médica e reprodutiva que acontecem nos lares não apenas por maridos ou companheiros, mas também por parte de familiares ou de conhecidos agregados.

As maiores vítimas são as mulheres negras (54%), na faixa etária dos 20 aos 69 anos. Uma das principais formas de empoderamento é a autonomia financeira por meio da empregabilidade ou do empreendedorismo.

Aqui, mais informações sobre o Selo de Direitos Humanos e Diversidade https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/direitos_humanos/noticias/index.php?p=280958