Pílula EDH – Série Visibilidade é Cidadania (Tifanny Abreu e Flávia Araújo)

 

 

Pílula EDH – Série Visibilidade é Cidadania

As quadras também são espaços de visibilidade e cidadania”

No Dia da Visibilidade Trans temos o momento perfeito para refletirmos sobre o esporte enquanto uma política pública aliada ao combate ao preconceito, conhecendo a realidade de atletas LGBTI+.

Desde agosto do ano passado que o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), por recomendação da Fifa e diante das atualizações nas leis de homofobia e transfobia no Brasil, decidiu que os clubes poderão ser punidos com perda de pontos em casos de gritos homofóbicos entoados nos estádios por suas torcidas.

Esta decisão foi enviada aos clubes e define que a nova orientação é de que árbitros e assistentes serão incentivados a agir contra os gritos e atitudes LGBTfóbicas, como o entoado por algumas torcidas quando o goleiro adversário vai bater o tiro de meta e é chamado de "bicha".

Segundo a nova norma, cantos e atitudes com este teor e outros LGBTfóbicos poderão ser punidos com perda de três pontos, sendo o dobro da pontuação para reincidentes.

Esta foi uma forma que a Justiça Desportiva encontrou para tentar diminuir os casos de LGBTfobia tão frequentes nos campos e quadras. O Procurador-geral do STJD, Felipe Bevilacqua, que assinou o texto, entende que é cabível encaixar as atitudes homofóbicas no artigo 243-G do Código Disciplinar: "Praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência".

Aqui no Brasil são inúmeros os casos de LGBTfobia praticados por torcidas, tanto dentro quanto fora dos campos e quadras. Já vimos casos no futebol, no vôlei, e em tantas outras modalidades esportivas.

O debate sobre a transexualidade no esporte data de anos, mas em 2015 ganhou força quando o Comitê Olímpico Internacional (COI) autorizou transexuais no esporte de acordo com suas identidades de gênero, respeitando os indicadores hormonais masculinos e femininos.

Por isso trazemos para vocês uma entrevista com Tifanny Abreu, atleta profissional de voleibol feminino do Sesi Vôlei Bauru, primeira mulher trans de alto rendimento do voleibol brasileiro.

 

Espalha EDH – Como foi para você passar pelo processo transexualizador?

Tifanny Abreu – Foi difícil, igual para todas que estão passando pelo processo de transição. Principalmente pelo preconceito da sociedade e pela falta de oportunidades.

Espalha EDH – Como foi a relação com sua família após assumir sua identidade de gênero?

Tifanny Abreu – Maravilhosa!

Espalha EDH – Ter uma identidade de gênero transgênero afeta no seu cotidiano, principalmente na questão profissional? Você já passou por discriminação?

Tifanny Abreu – Sim, claro. Queira ou não a sociedade ainda é muito preconceituosa principalmente na parte esportiva, onde a maioria não quer abrir as portas para mulheres trans por preconceito. Agradeço a Deus por estar em um clube que sou muito bem recebida assim como qualquer outra mulher cis.

Espalha EDH – Qual a importância em se assumir como trans e firmar sua identidade de gênero perante a sociedade e o ambiente profissional?

Tifanny Abreu – Igual a todo mundo. Qualquer pessoa tem que assumir suas responsabilidades e afirmar sua identidade também, independente do gênero.

Espalha EDH – Qual mensagem você gostaria de deixar para o Dia da Visibilidade Trans?

Tifanny Abreu – Que todas as pessoas Trans continuem lutando por direito e todas as pessoas Cis de uma sociedade machista e opressora possam ter mais empatia com o próximo. Dando oportunidades iguais para todos, por nossos méritos e competências e não por nossa identidade de gênero.

 

 

Essa é a resposta do Espalha EDH ao deputado paulista, autor do Projeto de Lei 346/2019, pelo qual o sexo biológico será o único critério para definição do gênero de competidores em partidas esportivas oficiais no Estado, e que, infelizmente, continua em tramitação na Assembleia Legislativa de São Paulo. Não ao preconceito! Não a retrocessos!

 

 

 

Pílula EDH – Série Visibilidade é Cidadania

“Do sonho à realidade”


As Pílulas EDH deste mês de janeiro de 2021 estarão destacando o dia 29 de Janeiro – Dia da Visibilidade Trans.

Uma das principais bandeiras do movimento de travestis, mulheres transexuais e homens trans é a da reinserção social. Mas a reinserção passa por uma série de outros direitos que precisam ser garantidos, como o direito à educação, à moradia, à segurança pessoal, à alimentação saudável, à saúde, etc.

Assim decidimos relembrar um dos primeiros programas de reinserção social para Travestis, Mulheres Transexuais e Homens Trans: o Programa Operação Trabalho LGBT.

Era junho de 2008 quando foi lançado o “Projeto Piloto de Geração de Renda e Inclusão Social”, numa parceria entre a Secretaria Municipal do Trabalho, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social e a Secretaria Municipal de Participação e Parceria.

Com o nome “Programa Operação Trabalho LGBT”, foram ofertadas seis (06) bolsas inicialmente.

O programa tinha por objetivos:

1) Elevação de escolaridade;
2) Profissionalização;
3) Capacitação para o Mercado de Trabalho;
4) Geração de Renda;
5) Inclusão Social e Cidadania.

Logo de início o que se apresentou foi que seis vagas eram um número extremamente insuficiente, pois a demanda de inscritos era muito grande, ocasionando a necessidade de ampliar o número de vagas para dezesseis (16) bolsas.

Ao longo desse segundo semestre de 2008, das 16 bolsistas:

• 07 se inscreveram no CIEJA para finalizar os estudos;
• 08 realizaram cursos profissionalizantes junto ao Sistema S com 120h obrigatórias de português, matemática e Direitos Humanos/Cidadania;
• 01 passou no vestibular e começou a cursar a faculdade, com perspectivas de estágio na própria Coordenação de Diversidade Sexual após 06 primeiros meses de aula;
• 02 conseguiram emprego junto ao terceiro setor, atuando em projetos de organizações sociais voltados ao segmento LGBT.

 

E, para contar um pouco dessa história, resgatamos Flávia Araújo, que foi uma das primeiras bolsistas e justamente a que passou no vestibular, na época.

Espalha EDH – Conte-nos um pouco sua história de vida?

Flávia Araújo – Sou mulher transexual e trabalho como Assistente de Biblioteca II, na SP Escola de Teatro, sou Graduada em Letras – Língua Portuguesa e Inglesa pela Unesp e Técnica em Biblioteca pelo Senac – Consolação, ambos como bolsa de Estudos, moro em São Paulo – capital.

Espalha EDH – Qual foi a importância em participar do POT/LGBT?

Flávia Araújo – No ano 2008 em que surgiu o POT-LGBT (Programa Operação Trabalho – com o recorte LGBT), pela prefeitura de São Paulo, foi uma grande oportunidade em minha vida, pois me ajudou muito alavancar a realização do meu curso de Letras, pois pagava 50% com o valor da bolsa e outros 50% executava trabalhos sociais na APOLGBT, que na época o presidente era Alexandre Peixe.

Também fui contemplada com o curso de corte e costura através do POT-LGBT, junto ao Senai – Bom Retiro, onde aprendi a costurar fazendo colchas, bolsas e almofadas em técnicas em patchwork, assim pude me manter por muito tempo, até ser indicada novamente no ano de 2010 pelo POT-LGBT, através da CADS (Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual), a concorrer uma vaga de recepcionista na SP Escola de Teatro, sendo entrevistada e selecionada pelo Diretor Ivan Cabral, onde permaneço até hoje. De lá pra cá, tive todas as oportunidades em poder terminar meus estudos e realizar outros.

Espalha EDH – Qual a principal contribuição que o programa trouxe para a sua vida?

Flávia Araújo – O Programa foi um dos projetos mais importantes em minha vida, pois com ele, pude dar continuidade aos meus sonhos e mudar de vida, pois, antes de todos esses acontecimentos eu trabalhava e me mantinha como profissional do sexo, apenas.

Espalha EDH – Como você avalia o programa?

Flávia Araújo – Esse programa (o Transcidadania) é a porta aberta para um futuro melhor e promissor para muitas Trans, uma grande oportunidade, para quem quer vencer na vida, com estudo, dedicação e trabalho.