Lu Ynaiah (Lurdes Correa) - voz cigana que inspira

 

 

Lurdes Correa, mais conhecida como Lu Ynaiah Peicev Catherine, é uma mulher que quebra barreiras constantemente em sua vida.

Filha de uma mãe romena e nascida numa família cigana muito tradicional, se sentiu motivada desde jovem a buscar novos caminhos para si, para além dos que já estavam pré estabelecidos.

Sua família cigana não nômade previa para ela um futuro voltado para as atividades do lar e com dedicação total ao casamento.

Hoje mais madura, Lu reconhece que foi uma jovem rebelde. “Decidi me afastar da minha família para estudar e buscar conhecimento fora da cultura cigana. Era isso o que eu queria para minha vida e não me arrependo de ter trilhado esse caminho. Hoje compreendo que as mulheres precisam encontrar seu espaço no mundo e ter o poder de decisão sobre suas vidas, escolhendo se dedicar à família, ou não ”, afirma.

Se afastou temporariamente das raízes ciganas para se formar em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP). Fazia atendimentos de cartomancia, mas sofreu com muito preconceito e a discriminação pelos chamados “payos”, pessoas não ciganas.

Teve de lidar com muitos conflitos internos e externos para conviver com a dualidade de dois universos distintos e também complementares, a cultura cigana e o mundo não cigano que se apresenta fora das comunidades.
Viveu experiências e amores fora de sua cultura, o que ajudou a ampliar sua visão de mundo e sobre as relações interculturais que são necessárias para a construção de nossa sociedade.

Após anos afastada de seu berço cultural, Lu encontrou o caminho de volta às raízes quando começou a desempenhar trabalhos sociais em comunidades vulneráveis de São Paulo. E foi através do encontro com essa vulnerabilidade que se reconectou com seu povo, nas comunidades e acampamentos ciganos no município.

Hoje ela se vê cada vez mais próxima dessas pessoas e fala por elas quando necessário. “Não sou uma liderança, eu represento a comunidade cigana na medida que eles me permitem. As lideranças ciganas são homens, por ser uma cultura baseada no patriarcado, mas atualmente muitas mulheres têm quebrado essa barreira. A mulher cigana tem um papel importante na comunidade”.

Sobre o curso de sua vida, Lu Ynaiah revela que é feliz, mas poderia ser mais com um mundo melhor. “Seria mais feliz se vivêssemos numa sociedade mais justa e igualitária, com pessoas mais humanas e que respeitassem as culturas diferentes, e as comunidades tendo seus direitos garantidos, principalmente nestes tempos difíceis de covid19”.

E deixa uma mensagem final às mulheres de todas as culturas e nacionalidades: “Defenda sua cultura e seus direitos, mas busquem sempre a autonomia. Não tenham medo de pagar alguns preços em prol de sua felicidade”, finalizou.