Prêmio Luiza Mahin destaca o papel de mulheres negras em diferentes campos de atuação

Cerimônia de premiação foi realizada em Centro de Referência de Promoção da Igualdade Racial na Zona Norte

Mulheres negras que se destacaram em seus campos de atuação pela valorização da cultura negra, inclusão social e luta antidiscriminatória receberam da Prefeitura de São Paulo o Prêmio Luiza Mahin, em cerimônia realizada nesta quinta-feira (12/08). O evento aconteceu no Centro de Referência de Promoção da Igualdade Racial da Vila Guilherme, um dos 12 equipamentos da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) para acolher e orientar vítimas de racismo, além de valorizar e promover a cultura afro-brasileira.

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As homenageadas do Prêmio Liza Mahin são escolhidas a partir de indicações realizadas por organizações e redes sociais do movimento negro e de mulheres. Este ano, a cerimônia de premiação contemplou as duas edições do prêmio, 2020 e 2021, já que a cerimônia que deveria ser realizada no ano passado foi adiada em função das restrições da crise sanitária da pandemia da covid-19.

O resgate histórico do papel das mulheres negras na história e na sociedade, pela afirmação e contra o racismo estrutural, foi um dos destaques da cerimônia. A Secretária Executiva Adjunta de Promoção da Igualdade Racial da SMDHC, Elisa Lucas Rodrigues, destacou o papel da personagem que dá nome ao prêmio. “O Prêmio Luiza Mahin é a celebração da luta das mulheres negras. É uma oportunidade para lembrar de Luiza: guerreira e protetora. É a mãe de Luiz Gama”, afirmou.

“Nós, mulheres negras, devemos ocupar espaços onde possamos reivindicar, divulgar, participar de políticas afirmativas para o nosso povo preto, da mulher negra em essência, porque é ela que gera, cria e educa os filhos; é ela que forma cidadãos. Isso depois de os tempos do Império, quando sofremos, tivemos nossos filhos vendidos e passamos por muita dor”, diz Maria Aparecida Costa Abadia, uma das premiadas de 2021. Cida Costa, como é mais conhecida, é destacada ativista do movimento social e de comunidades (veja abaixo a relação de todas as premiadas).

Outra agraciada com o prêmio é a advogada Diva Zitto, presidente do Movimento da Mulher Negra Brasileira e da Comissão da Verdade sobre a Escravidão no Brasil, da OAB-SP. “Estou muito contente por ter sido escolhida para receber essa gratificante homenagem. Essa é a prova de nossa resistência. Por sermos mulheres negras, respeitamos a nossa ancestralidade, como também abrimos caminho para aquelas que virão. Nossa força está em exemplos como Tereza de Benguela e Luiza Mahin, mãe de Luiz Gama, tardiamente reconhecido como importante para toda a advocacia brasileira”.

Na cultura, destaque para Solange Cruz, presidente do Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Alegre. “Para mim, é uma grande honra estar aqui, como uma das mulheres negras agraciadas com o Prêmio Luiza Mahin. A Mocidade Alegre é uma escola que busca incentivar demais a cultura negra e fazer o diferencial nessa área. Em 1979, a Mocidade já falava desse ato que essa mulher negra fez no passado, ao participar da Revolta dos Malês; assim estou muito feliz de estar presente neste ato”. A Revolta dos Malês envolveu 600 escravos, que reivindicaram por suas liberdades em Salvador, Bahia, no ano de 1835.

As premiadas
Receberam o prêmio Luiza Mahin as seguintes mulheres:

Edição 2020 - Ana Beatriz Prudente, Maria Aparecida Costa, Diva Zitto, Eliana Ferreira Costa, Sônia Aparecida dos Santos, Valdete Ferreira dos Santos e Flavia Siqueira Diniz.

Edição de 2021 - Ednusa Ribeiro, Lourdes Reis Silva, Luiza Guerino, Maria Aparecida Pinto (Cidinha Raiz), Martha Braga, Rosélia Abadia da Silva, Solange Cruz Bichara.

Quem foi Luiza Mahin

Segundo relatos de Luiz Gama, em carta com detalhes biográficos dirigida ao escritor e jornalista carioca Lúcio de Mendonça, Luiza Mahin era uma escrava africana provavelmente originária da Costa de Mina, que teria conseguido comprar sua liberdade e organizado diversos levantes de escravos que sacudiram a Província da Bahia nas primeiras décadas do Século XIX.

De seu tabuleiro, enviava mensagens por meio de meninos que pretensamente compravam seus quitutes e distribuíam por eles orientações para levantes históricos como a Revolta dos Malês (1835) e a Sabinada (1837-1838). Perseguida, foi para o Rio de Janeiro, onde teria sido presa e deportada para Angola. Em outra versão, escaparia para o Maranhão, estado em que lhe é atribuída participação no desenvolvimento no Tambor da Crioula, uma dança típica de origem africana. De acordo com historiadores, Luiz Gama daria a entender que Luiza Mahin era a sua mãe.