Prêmio Luiza Mahin destaca a força da mulher negra e sua contribuição para a cidade de São Paulo

A premiação ocorreu na zona norte da capital paulista, em tarde de muitas emoções

Foi entregue, nesta terça-feira (26/7), em cerimônia realizada na Casa de Cultura da Vila Guilherme – Casarão, o Prêmio Luiza Mahin (edição 2022), promovido pela Prefeitura de São Paulo, que em todos os anos destaca as atividades de sete mulheres negras, pela sua atuação social e contribuição à cidade de São Paulo.

As premiadas desta edição foram Aline Torres, secretária municipal de Cultura, por sua atuação frente à pasta e promoção na área cultural; Márcia Porto, cirurgiã dentista, com amplo histórico de atuação na saúde bucal da população negra; Maria Cecília Malaquias, psicóloga, Mestra em Psicologia Social, especialista em psicodrama e em relações étnico-raciais; Egbonmy Conceição Reis, Presidenta do Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro Brasileira - INTECAB-SP; Fernanda de Paula, ativista do movimento negro e dos movimentos culturais com diversas participações na gestão municipal para população negra; Adriana Vasconcellos, professora movida pelo enfrentamento ao racismo e por sua luta por igualdade de gênero e inclusão social; e Maria Aparecida de Laia, Psicóloga, Assistente Social e Gestora Pública, com extensa atividade na elaboração e implementação de políticas de promoção da igualdade racial.

A cerimônia, marcada pela emoção dos familiares e das homenageadas, fez parte das comemorações do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e do Dia Nacional de Tereza de Benguela, celebrados em 25 de julho, dia anterior ao da cerimônia. O evento foi promovido pela Coordenação de Promoção da Igualdade Racial, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), que organiza o prêmio instituído pela Prefeitura de São Paulo.
Organizações e entidades ligadas aos movimentos negros e de mulheres, que se inscreveram em edital, publicado no Diário Oficial da Cidade de São Paulo em 31 de maio deste ano, indicaram as premiadas. Cada instituição pôde indicar um nome para a comissão organizadora do prêmio.

Quem foi Luiza Mahin

Segundo relatos de seu filho, Luiz Gama, em carta com detalhes biográficos dirigida ao escritor e jornalista carioca Lúcio de Mendonça, Luiza Mahin era africana, provavelmente originária da Costa da Mina, golfo da Guiné, que, submetida ao processo de escravização, teria conseguido comprar sua liberdade e organizado diversos levantes de escravizados que sacudiram a Província da Bahia, nas primeiras décadas do século XIX.

De seu tabuleiro, enviava mensagens por meio de meninos que pretensamente compravam seus quitutes e distribuíam por eles orientações para levantes históricos, como a Revolta dos Malês (1835) e a Sabinada (1837-1838). Perseguida, foi para o Rio de Janeiro, onde teria sido presa e deportada para Angola. Em outra versão, escaparia para o Maranhão, Estado em que lhe é atribuída participação no desenvolvimento no Tambor de Crioula, uma dança típica de origem africana.

Tereza de Benguela

Revolucionária brasileira, Tereza de Benguela viveu no século XVIII e se tornou líder do Quilombo do Piolho, também conhecido como Quilombo do Quariterê, localizado na fronteira entre Mato Grosso e a Bolívia, sucedendo ao companheiro José Piolho, assassinado por soldados do Estado. No Quilombo, povoado por negros e indígenas, era chamada de “Rainha Tereza”.

O Quilombo resistiu até 1770, quando foi destruído pelas forças de Luís Pinto Coutinho, governador da Província de Mato Grosso (1769-1804).

A estrutura política, administrativa e econômica do quilombo foi comandada por Tereza de Benguela até a sua morte, por volta de 1770. Segundo versões, teria se suicidado ou morta quando capturada por bandeirantes a mando da capitania, tendo sua cabeça exposta no centro do Quilombo.

O sistema de governo se assemelhava ao parlamentarista e as decisões eram assumidas em grupo. O Quilombo do Quariterê vivia do cultivo de produtos agrícolas, como o algodão, milho, feijão, mandioca e banana, e da venda dos excedentes.

A origem das datas

O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha foi instituído em 1992, pela Organização das Nações Unidas (ONU), por iniciativa de um encontro de mulheres negras em Santo Domingo, República Dominicana. Foram elas que definiram o dia 25 de julho para homenagear a luta contra a opressão de raça e gênero. Já o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra foi criado pela Lei 12.897/2014, como marco da luta contra o racismo e pela criação de oportunidades.

Os indicadores revelam profundas desigualdades entre brancos e negros, no Brasil e no continente latino-americano. Apesar de a população negra ser a maioria em nosso país, 54%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres negras competem em condições desfavoráveis, como indica o Instituto de Pesquisas Aplicadas (IPEA), segundo o qual as mulheres brancas recebem 70% a mais de remuneração do que as mulheres negras.