Para participantes, o Programa Transcidadania é o caminho para superar desafios

Além de oferecer a bolsa-auxílio, Prefeitura de São Paulo também emprega pessoas trans

Letícia Silva, Marinara Azevedo, Helen Rodrigues de Almeida, Patrícia Rodrigues, Priscila Oliveira Maciel, Jocy Carvalho de Santana, Bianca Roberta Cavalcante, Agatha Fernandes Pinto, Jessyca Passos Constantino, Melissa Carolina da Silva, Agatha de Oliveira, Waleska Santos da Silva e Kemelly Dantas de Souza. Essas são algumas das 100 pessoas trans que se formaram no primeiro semestre deste ano pelo programa Transcidadania, da Prefeitura de São Paulo, iniciativa da Coordenação de Políticas LGBTI+ da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, de estímulo ao prosseguimento dos estudos e de ampliação de oportunidades para o ingresso no mercado.

O que elas têm em comum? Todas passaram por dificuldades, que incluem situações de violência – a maioria se arrisca trabalhando nas ruas (a expectativa de vida de pessoas trans no Brasil é de 35 anos, segundo relatório da Associação Nacional de Travestis e Transsexuais - Antra), sofre preconceitos e discriminações, inclusive dos próprios familiares, pais, mães e irmãos, que as obrigam a sair de casa, por não aceitarem como são.

Mas todas elas enfrentaram as dificuldades e estavam naquela noite de sexta-feira, 30 de junho, na Praça das Artes, centro de São Paulo, para receber o diploma de conclusão do programa, das mãos da coordenadora de Políticas LGBTI+, Léo Áquilla, da secretária de Direitos Humanos e Cidadania, Soninha Francine e da secretária da Cultura, Aline Torres.

Duas ex-participantes do programa Transcidadania contaram suas experiências durante a cerimônia.

“É um prazer estar aqui falando com vocês, estou muito feliz de ver a Léo como coordenadora de Políticas LGBTI+ da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania. Isso mostra que temos inteligência e eficiência para estar em qualquer lugar e é isso mesmo que quero dizer pra vocês: que é difícil, mas lutem e não desistam. Depois de concluir o ensino médio conheci uma pessoa que me ajudou e patrocinou os meus estudos para me formar em Direito. A pandemia veio para piorar a situação, mas persisti e venci, e estamos vencendo. Graças ao programa Transcidadania e outras políticas públicas, hoje nossa expectativa de vida ultrapassa os 35 anos de idade. A gente tem que lembrar de meninas que não estão mais aqui, como a Amanda Marfree (morta em decorrência da Covid-19) e Bruna Vallin (ativista vítima de câncer) e honrar a memória delas. Não desistam!”, disse Athena Joy.

Durante os dois anos no Transcidadania, as participantes concluíram o ensino fundamental ou o médio pelo EJA (Ensino de Jovens e Adultos) em escolas públicas indicadas pelo programa (a matrícula é condição para receber a bolsa-auxílio mensal de R$ 1.386,00); participaram de oficinas, cursos de idiomas, palestras sobre cidadania e direitos sociais, tiveram acesso a espaços de cultura a que normalmente não teriam condições de ir, e, por intermediação junto a empresas e órgãos públicos, conseguiram se recolocar no mercado de trabalho.

“Lutem, continuem com garra e força, não foi à toa que cheguei onde estou. Sou da periferia, uma mulher trans, que foi eleita conselheira municipal, militante, ativista, estou sempre reivindicando, cobrando empregabilidade para todas. Espero que vocês persistam, que não desistam. Estive na rua por 17 anos, como tantas aqui que também me conheceram na rua, então vamos mudar, mostrar para a sociedade que temos que ocupar os lugares, conquistar emprego, dignidade e muitas coisas boas para as pessoas trans, para a comunidade periférica e para todas que estão aqui”, disse Aysha Cristiane.

Luta por emprego

Um dos maiores desafios para pessoas trans é o ingresso no mercado de trabalho formal. Algumas ex-beneficiárias do programa Transcidadania conseguiram emprego na própria Prefeitura de São Paulo: nos Centros de Cidadania LGBTI+, onde são atendentes, assistentes sociais e coordenadoras; em Unidades Básicas de Saúde; no atendimento ao público nas sedes do Descomplica (que reúne em um único local diversos serviços municipais) e trabalham em escolas municipais.

“Hoje trabalho no CEU (Centro Educacional Unificado), uma escola que fica dentro de uma comunidade e sou uma mulher que está na linha de frente. Mulheres trans sabem como isso é difícil viver e estar nas comunidades, mas estou lá e a gente se impõe e trabalha”, contou Waleska Santos Silva.

“Sou uma das beneficiárias do Transcidadania e a escola é o melhor caminho. Isso é só um apoio para que a gente consiga alcançar diversas opções. Por meio do Transcidadania fui trabalhar no SUS (Serviço Unificado de Saúde) e estou me preparando para ser assistente social porque amo cuidar e ajudar as pessoas. O projeto Transcidadania é uma oportunidade única”, disse Helen Rodrigues de Almeida.

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