Andréia Bandeira: da zona sul para o Mundo

Antes, uma menina briguenta. Hoje, uma atleta internacional

O destino vai se encarregar de colocar você no lugar certo.” - William Shakespeare. Quis o destino que Andréia Bandeira carregasse o orgulho de uma nação inteira no seu nome. As matas, a riqueza, o céu estrelado, a Ordem e o Progresso. Bandeira.

Filha de Maria Helena e Raimundo, irmã de Alexandre, Alexandra e Érica. Paulistana, criada no bairro Jardim Ângela, zona sul de São Paulo. E foi lá que Andréia conheceu Zezinho, boxeador profissional, vizinho e colega. O ano era 2003, e Andréia era briguenta demais. Foi se aproveitando desse espírito briguento que Zezinho indicou para a jovem de dezesseis anos o Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (COTP), onde ela entrou e iniciou seus treinos. No começo, ninguém de casa colocou fé que Andréia poderia ser um dia, uma atleta profissional. “Depois de três meses lutando que o pessoal começou a ver que era mais sério mesmo!”. Curiosamente, quem começou a acompanhar suas lutas foi sua mãe e seus irmãos. Seu pai nunca foi muito fã desse tipo de esporte, e preferia não ver a filha lutando.

Para Andréia, todos os boxeadores servem de inspiração. “Nada vem de maneira fácil para ninguém, especialmente se a pessoa que seguir carreira no boxe.” Segundo a atleta, todos os boxeadores são grandes guerreiros, todos passam pelo o que ela passa. Os treinos, o desgaste físico, além dos sacrifícios, como estar com a família.

Seus momentos mais marcantes na carreira foram os Jogos Pan-Americanos de 2009, quando conquistou a medalha de prata, a sua primeira medalha internacional. Nos Jogos Sul-Americanos de 2010, veio a tão sonhada medalha de ouro, na categoria 75 quilos. O ano de 2013 também entra na lista, por ter marcado a volta da atleta ao COTP, além é claro, pela conquista do seu oitavo título brasileiro. Essa sequência de bons resultados rendeu nada mais, nada menos do que uma vaga na Seleção Brasileira. Todas essas datas representam para Andréia, uma grande volta por cima na sua vida, após sofrer uma lesão na coluna entre os anos de 2010-11, que a impediu de treinar e principalmente, buscar uma vaga nas Olimpíadas de Londres, em 2012.

Sobre o Campeonato Mundial disputado na província de Jeju, na Coreia do Sul, a boxeadora de 27 anos destaca que foi uma experiência válida, com 15 dias de preparação e adaptação ao clima e fuso horário oriental na Austrália, no Centro de Treinamento de Camberra. Porém, ela mesma admite que não foi muito bem, eliminada na primeira fase, em uma disputa tecnicamente empatada e decidida pelos juízes.

Agora, o foco de Andréia é total e positivo para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Já de férias, a atleta comemora o 2014 produtivo que teve: 5 ouros em 6 campeonatos disputados. Todo o trabalho desse ano serve como inspiração máxima para as Seletivas dos Jogos Olímpicos, que tem data prevista de início em fevereiro de 2015. Se sair dessas seletivas vitoriosa, Andréia Bandeira disputará pela primeira vez uma Olimpíada.

O boxe mudou a vida de Andréia. Ajudou em uma reeducação da sua vida. Após entrar no esporte ela virou cidadã, passou a levar uma vida mais regrada, parou de sair de noite e de beber. “É na mente que está o foco principal, onde tudo tem que começar a mudar.

Quando perguntada se ela já quis usar o boxe em sua vida cotidiana, ela responde: “Mas é lógico! Já passei por assalto a mão armada, e é cada coisa que a gente vê andando por aí, no ônibus, no metrô... que dá mesmo vontade de dar uns socos! Mas o boxe acalma você, te ensina a ser superior, a ser cidadão. Você sabe que pode deitar na porrada alguém que te incomoda na rua, mas prefere ir na conversa, não brigar. Depois que eu entrei no boxe, eu nunca mais briguei na minha vida.

A vida pessoal costuma entrar em conflito com a profissional. Ela conta que por muitas vezes já abriu mão de jantar com a família no Natal e no Ano Novo por ter que manter o peso. Andréia também falou sobre como é treinar no período de TPM (Tensão Pré-Menstrual): “Eu fico bem estressada, mesmo. Tem mulher, que chora, fica mais sensível... Eu não. Eu venho treinar com vontade de ir pra casa e mandar o técnico não encher! Mas na verdade, o treino me ajuda, me relaxa, me distrai. Meio que me leva para outro mundo, fora dessa realidade”.

No seu tempo livre, Andréia gosta mesmo é descansar, já que o desgaste com o boxe é grande. Algo que ela valoriza muito é o contato com a natureza. Então, quando não está em casa descansando, ela gosta de ir ao parque: fazer piqueniques e andar de skate. Há muito tempo ela costumava desenhar, mas isso foi algo que com o passar do tempo ela parou de fazer.

Faculdade de medicina veterinária é um foco que divide espaço entre as metas de Andréia. Mesmo ela sabendo que foge um pouco de sua “alçada de atleta”, é um sonho que ela deseja realizar. “Quero fazer veterinária. Pode ser educação física também, por estar mais voltado ao esporte, mas em primeiro lugar com certeza, vem veterinária”. O que com certeza não passa pela cabeça da atleta é abandonar o boxe. Nem pela faculdade, e nem para entrar no MMA (Artes Marciais Mistas), que é cada vez mais popular. Ela diz que é violento demais, e o técnico do COTP, Messias Gomes, que acompanhou nossa conversa inteira, acrescenta: “Boxe é esporte, MMA é luta”.

Falando em violência, quisemos saber de Andréia qual era sua preocupação com as famosas Síndromes do Pugilista, e como ela se cuidava perante a isso. Ela afirma categoricamente que o boxe não tem nada a ver com isso. O esporte não interfere nesse tipo de mal, e doenças como o Alzheimer e o Parkinson são genéticas. Mais uma vez, Messias completa: “Quantas pessoas por todo o mundo sofrem com Alzheimer, ou Parkinson, e nunca subiram em um ringue na vida?

Um sucesso do cinema mundial, o filme Menina de Ouro (Million Dollar Baby, EUA, 2004) conta a história de Maggie Fitzgerald (interpretada pela atriz Hilary Swank) e sua luta para se tornar uma boxeadora profissional. Andréia conta a sua relação com o filme: “Me identifiquei demais com o filme, mesmo. Porque mostra o grande preconceito com mulheres boxeadoras.” Messias reforça o depoimento da pupila: “Hoje em dia é muito diferente. O Boxe é dividido em categorias e idades, e antigamente não era assim. Era uma Federação só, então o negócio era mais feio. Eu já me incomodei em lutar e treinar garotas. Não por preconceito, e sim por não estar preparado para isso, com medo de ir forte demais e machucá-las.” O professor Messias também defende que as lutas femininas apresentam um nível técnico melhor que as masculinas: “Mulher é mais inteligente, mais detalhista, isso deixa a luta bem mais técnica. Elas estão dominando o mundo, Rapaz!

Histórias como a de Andréia Bandeira são comuns entre os boxeadores. Porém isso não tira o brilho do esforço e da trajetória da atleta. De briguenta à cidadã, de jovem da zona Sul à campeã. A influência do boxe sobre Andréia foi forte, e ela garante que o esporte para ela é tudo, mas que sem dedicação, força de vontade, alguns sacrifícios e acima de tudo amor ao que faz não se chega a lugar nenhum.

Texto: Leandro Olovics – laoalves@prefeitura.sp.gov.br
Stephanie Frasson – sbffranco@prefeitura.sp.gov.br

Imagens: Stephanie Frasson – sbffranco@prefeitura.sp.gov.br

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