No campo de futebol do Centro Esportivo Vila Manchester o time de branco sujava o uniforme no confronto com o vermelho – do adversário e da terra. Enquanto os moleques aproveitavam o domingo de sol jogando futebol de salão. E na piscina apenas duas garotinhas, sob os olhares do salva-vidas, se banhavam tranquilas.

Eram os ginásios, porém, que guardavam os maiores acontecimentos do dia 30. Ainda não era sequer meio dia na Praça Haroldo Daltro – que pulsava com o entra e sai de jovens em trajes de lutas. Os quimonos não vinham sós, dentro deles se encontrava a determinação de lutadores de taekwondo prestes a subir no tatame. Cerca de 500 pessoas entre competidores, mestres e familiares movimentaram o principal equipamento do espaço até o final da tarde. Era a 3ª fase da Taça Revelando Campeões de Taekwondo, evento classificatório para a etapa da 8ª Copa América em Valinhos, dias 23, 24 e 25 de janeiro.

Divididos pelas categorias infantil (sub-14), juvenil (sub-18) e adulto (até os 30 e com autorização do responsável a partir dos 16), tanto masculino quanto feminino, as equipes, vindas de todo o estado, carregavam o espírito da arte marcial. Como explica o presidente da Federação Paulista da modalidade, o mestre 7º dan Agnaldo Santana, ao contar a história do garoto “que estava com o pé enorme de inchaço por lesão”, mas se dispôs vir até São Paulo para participar, pelo menos, dos movimentos em time, somando pontos para seu clube. “É um esporte individual, mas nunca individualista”, lembrou.

Eduardo Uyeta, coordenador do Centro Esportivo Vila Manchester, destacou as melhorias que o ginásio recém concluiu, com verba da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação (SEME). Uyeta afirmou que, desta feita, “estamos mais preparados para oferecer atividades esportivas para o cidadão e convidá-lo para ocupar o espaço público, um compromisso do secretário Celso Jatene e de toda a SEME”, afirmou.

Ainda na toada das lutas, no sábado o Centro Esportivo foi palco de mais de 30 graduações do programa Temático de Artes Marciais – Karatê e ofereceu um curso para 60 árbitros da categoria.

Enquanto isso, no outro ginásio

Estudar nunca é demais. Trata-se de uma lição de humildade ver mestres atentos a uma boa aula, questionando e ouvindo o professor. Flávio Vicente, primeiro diretor-presidente não oriental da filial brasileira da Okinawa Jinbukai Kobudo, é o acadêmico da modalidade responsável por aprimorar a técnica dos faixas preta. Ele próprio procura resgatar as raízes do Shorin-Ryu Karatê via treino e leituras e passa isso adiante para outros professores, no intento de seguir a programática de aprendizado apresentada na grade curricular pelos japoneses e passada para todo o mundo.

Além de bombeiro, o sensei Flávio Vicente desempenha outras tarefas, entre as quais esta parceria com o Centro Esportivo, onde orienta 18 outros mestres. Como a guerreira Rosangela Aparecida Antunes, uma servidora pública que ficou (oficialmente) afastada das atividades em 2014, em virtude de um acidente em que fraturou o pescoço e a levou, inclusive, a um quadro de depressão. Ela conta que dos presentes àquela aula, 5 foram seus alunos quando crianças e que, hoje em dia, ela já ensina os filhos deles no Centro Esportivo Tiradentes.

Rosangela afirma que “sem o contato com o esporte já teria cometido suicídio”. São 29 anos de serviços prestados, acompanhando de perto seus pupilos, enviando relatórios para os pais na busca de saber como estão na escola e em casa. Ela representa à risca o significado da faixa ‘cobra coral’ (vermelha e branca) que veste o ‘mestre dos mestres’ Flávio Vicente: viver e morrer, renascendo por meio da renovação.

Texto: Pedro Piva - pedropiva@prefeitura.sp.gov.br

Imagem: Paulo Dias - psdias@prefeitura.sp.gov.br

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