Do Sol ao Gelo – O desafio do Tarumã na Copa SP de Futebol Júnior

Clube de Manaus participa da competição pela primeira vez

 

Nos dicionários, Tarumã significa uma espécie de árvore geralmente encontrada nas regiões sul e sudeste do Brasil, enquanto Tarumá se refere aos índios que habitaram os arredores do Rio Negro séculos atrás. Apesar de ter mais sentido a associação com o nome de terminação aguda, o Esporte Clube Tarumã – com “ã” – não tem raízes indígenas, mas encontrou em seu destino outra árvore, a Figueira.

A figueira deu origem e está estampada no escudo do Figueirese Futebol Clube, que mediu forças contra a equipe amazonense nesta quarta-feira, dia 7 de janeiro, em duelo válido pela segunda rodada do Grupo Z da Copa São Paulo de Futebol Júnior. De um lado um clube da elite do futebol nacional que vê o esporte em ascensão na região, do outro, a esperança de vencer e chamar a atenção de todos para o Norte do Brasil.

“Aqui não tem nenhum índio, não. Manaus é uma cidade com mais de 3 milhões de habitantes”, explicou Baixinho, como é chamado um dos membros da comissão técnica, a um curioso que passava pela rua no momento em que a delegação deixava o hotel onde está hospedada no centro de São Paulo para ir ao Centro de Treinamento da Portuguesa, na terça-feira.

A curiosidade em saber se o Tarumã era um time de índios surgiu após descobrir que o Rubro-negro era do Amazonas. Confusões à parte, perguntas sobre a origem da equipe eram normais, já que o time participa da Copa São Paulo de Futebol Júnior pela primeira vez nos seus 41 anos de história.

O Lobo do Norte, como é conhecido, é um dois cinco clubes que têm apoio da Secretária Municipal de Esportes, Lazer e Recreação (SEME), responsável por coordenar os jogos que estão sendo disputados em duas sedes localizadas na capital paulista. Para enfim poder disputar a competição, no entanto, não foi fácil.

Dificuldades em Manaus

 Tarumã já sabia que iria enfrentar dificuldades em São Paulo ao ter de encarar outras equipes fortes, porém foi surpreendido com problemas que surgiram ainda em Manaus.

Além de ter de estrear em um torneio inédito, a equipe teria de jogar sem jogadores importantes, que não conseguiram cumprir o prazo de inscrição e acabaram ficando de fora. Entre eles, o goleiro titular, o que fez o grupo ter apenas um garoto para a posição.

Oportunidade única

Passadas as dificuldades, havia chegado a hora. Logo na estreia, o Tarumã enfrentou o Juventus, na casa do adversário, e encarou uma grande torcida contra em seu primeiro jogo na capital. Surpreendendo a todos, os amazonenses travaram um duelo equilibrado, mas sofreram um gol no fim e perderam por 1 a 0.

A partida surpreendeu até mesmo os jogadores e a comissão técnica do Tarumã, como explicou o técnico Darlan Borges. “Eu me surpreendi com a postura deles. Achei que eles iam estar nervosos na estreia, mas estavam tranquilos”, comentou.

Quem também admitiu a surpresa foi Miguel Rodrigues. Aos 19 anos, o meia-atacante falou sobre a experiência de enfrentar os donos da casa na estreia e destacou o foco do grupo como fundamental. “Quem não sonha em jogar uma Copinha? É praticamente uma Copa do Mundo para os jogadores da nossa idade. Imagina quantas pessoas não queriam estar no nosso lugar”.

Depois da primeira derrota, o próximo compromisso não era novidade: o jogo contra o Figueirense, o primeiro duelo contra um time grande e a obrigação de vencer para continuar com chances de se classificar.

Apesar da situação complicada, o clima de descontração era visto às vésperas da partida, menos no último treino, realizado na terça-feira, no qual foram realizados trabalhos de posicionamento e o treinador alertou sobre os perigos do time adversário.

Antes, no entanto, as brincadeiras eram constantes no caminho de ida até o CT e continuaram no caminho de volta, que contou com uma pausa para que todos pudessem tirar fotos em frente ao CT Joaquim Grava (centro de treinamento do Corinthians). No caminho até lá, Mozart Carlos, preparador físico da equipe, aproveitou para comentar as dificuldades enfrentadas.

Destacando os problemas estruturais como os principais fatores negativos da região, Mozart fez questão de aponar as diferenças do Norte em comparação com outras áreas do país. “Por exemplo, aqui [em SP] nós treinamos em dois CTs das bases dos clubes (da Portuguesa e do Palmeiras). Só o do Palmeiras tem oito campos. Em Manaus, dos 15 clubes profissionais, apenas um tem um CT, que só tem um campo. Essa diferença faz com que a gente chegue aqui e comece atrás”, explicou.

Do sol ao gelo. Do calor ao banho de água fria

“Tá um Sol forte, do jeito que a gente está acostumado”, exclamou um dos jogadores na conversa no vestiário, minutos antes do início da partida contra o Figueirense, no Estádio da Rua Javari, na quarta-feira. Mal sabia ele que o tempo mudaria. E mudaria muito.

De fato, o Sol por volta das 16 horas estava forte. Mais acostumados com a temperatura do que os adversários do Sul, os amazonenses esperavam tirar proveito da situação, porém logo foram surpreendidos.

Instantes após a bola rolar, o tempo fechou - no céu e para o Tarumã. As nuvens escuras começaram a aparecer e, já com os primeiros pingos, a equipe sofreu o primeiro gol aos 27 minutos, em jogada de bola parada. Depois do gol, a chuva apertou, e as trovoadas fizeram com que o árbitro interrompesse a partida aos 35 minutos.

Mal sabia o Tarumã que a chuva o faria tão mal e que a bola aérea seria tão constante. Nos vestiários, o sentimento de que era possível virar permanecia – até porque a equipe estava tendo boas chances -, mas um fato que se tornou assunto foi a chuva de granizo no gramado da Rua Javari. “Vai lá e tira uma foto para eu levar para Manaus”, pediu Darlan.

 

Cerca de 20 minutos depois, o jogo voltou. Bom para todos, menos para Gil, que cuida do campo do estádio do Juventus há 23 anos. “Ai que dó, assim acaba com o campo. Não faz nem dez dias que eu plantei aquela área”, lamentou o preparador da grama, fazendo cara feia a cada tufo de grama arrancado com os carrinhos dos jogadores. “Foi lá que o Pelé fez o gol mais bonito da carreira”, relembrou Gil.

A chuva de gelo que impressionou o grupo amazonense também serviu como um balde de água fria, já que, apenas dois minutos após o recomeço do jogo, o time de Santa Catarina ampliou, novamente de cabeça. Pouco tempo depois, já nos acréscimos, outro gol. Outro de bola parada.

O Lobo do Norte sentiu o baque e nem o intervalo serviu para recuperar os jogadores. Na volta do vestiário, o Figueirense fechou a goleada fazendo o quarto gol – o quarto de bola parada – logo aos quatro minutos. No decorrer da partida, o Tarumã até tentou, mas não conseguiu descontar. Com o resultado, a equipe já não tem mais chances de se classificar e apenas cumprirá tabela contra o Santo André, no próximo sábado, tentando marcar seu primeiro gol na Copa São Paulo. Para Darlan, a equipe manterá a seriedade para “honrar a vinda a São Paulo e honrar o Estado”.

Assumindo a responsabilidade

Nos treinos já era possível ver algo diferente. Dos 18 jogadores reunidos para treinar, 17 usavam colete rosa enquanto apenas um estava vestido com uma camiseta azul e branco. O único diferente era Nauro Martins. Aos 17 anos, o goleiro viu seu companheiro de posição não conseguir regularizar sua inscrição para a competição e soube que seria o único defensor da meta do Tarumã.

Deixando o posto de reserva devido à ausência do titular, Nauro assumiu a responsabilidade e, assim como toda a equipe, também surpreendeu na estreia, sendo responsável por parar os juventinos. Contra o Figueirense, ele conseguiu fazer boas defesas quando foi acionado, não tendo grande responsabilidade pelos gols sofridos.

Com o terço na mão e a cabeça baixa na volta ao vestiário, o goleiro de 1,85m lamentou o resultado, mas comemorou a chance de participar da Copa SP e garantiu que o que deve ser feito é levantar a cabeça para voltar ao torneio no próximo ano.

Texto e Foto: Lucas Mariano - lucasmariano@prefeitura.gov.br

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