O palco de grandes histórias

No aniversário de 75 anos, funcionários, alunos e admiradores contam suas experiências com Estádio do Pacaembu

Ao falar em São Paulo, alguns pontos históricos e turísticos chegam à nossa mente, como o MASP, o Parque do Ibirapuera, a Avenida Paulista, Pinacoteca, Catedral da Sé, o Mercadão e outros. Quando inserimos a palavra “futebol” ou “templo esportivo” a primeira lembrança que temos é do monumento arquitetônico em Art Déco, tombado em 1988, localizado na Praça Charles Miller: Paulo Machado de Carvalho, ou, popularmente conhecido como Pacaembu.

O dia 27 de abril de 1970 foi um marco na história do esporte brasileiro e da cidade paulistana. Com a necessidade de criar um complexo esportivo que atendesse os moradores- desejo latente desde a década de 1920-, o Pacaembu foi inaugurado com a presença do então presidente do Brasil, Getúlio Vargas, e o prefeito Prestes Maia.

Com um dia de vida o gramado do estádio foi palco de uma decisão importante. De um lado, o Palestra Itália- atual Palmeiras-, e do outro o Coritiba. No fim dos 90 minutos, o time que se consagrou vitorioso foi o Palestra por 6 a 2. Em tempo de rodada dupla, o Corinthians e Atlético Mineiro realizaram o segundo jogo, no qual o time alvinegro de São Paulo venceu por 4 a 2.
 

O nome Paulo Machado de Carvalho foi adotado ao Pacaembu em uma homenagem ao empresário no ramo de comunicações e advogado, formado pela Faculdade de Direito da USP. O “Marechal da Vitória” ainda foi chefe das delegações brasileiras, nas copas de 1958 e 1962- e pela boa campanha recebeu o apelido sugestivo.

Com 75 anos de história o local recebeu muito mais do que jogos de futebol. O Pacaembu foi palco de grandes shows, eventos de moda, eventos religiosos, palestras e outras modalidades esportivas. Iron Maiden, Tina Turner, AC/DC e até o Papa Bento XVI puderam conhecer a beleza do estádio de muito perto, além de proporcionarem alegrias a quem pode acompanhá-los no local.

O seu espaço também conta com um grande complexo esportivo que fornece aulas aos munícipes de forma gratuita. Sua estrutura é formada por: piscina olímpica aquecida com arquibancada para 2.500 pessoas; ginásio poliesportivo coberto com capacidade para abrigar 2500 espectadores; ginásio de saibro coberto com assento para 800 pessoas; quadra externa de tênis com arquibancada para 1.500 pessoas; quadra poliesportiva externa com iluminação; três pistas de Cooper com 500, 600 e 860m; duas salas de ginástica e enfermaria.

Há ainda, na área externa, o Museu do Futebol que conta a história do desporto pelo mundo e no País, além de loja de conveniência e um “bar do torcedor”. Tudo feito de forma para promover encontros e episódios inesquecíveis a quem frequenta.

Para o boleiro: local de alegria

Marcos Assunção, 38, foi um dos grandes volantes que já atuaram no futebol brasileiro. Ídolo da torcida palmeirense, o jogador conta que fez um dos gols mais importantes de sua carreira no gramado do Pacaembu em uma partida contra o Vitória, na Sul- Americana de 2010.

Naquele jogo, em uma quinta-feira, dia 18 de agosto de 2010 o volante cobrou uma falta perfeita e guardou a bola na “gaveta” do goleiro adversário. Ato que é lembrado com carinho pela torcida e, principalmente, por Marcos Assunção.

O jogador ainda conta sobre sua admiração pelo estádio: “Eu gostava muito de jogar aqui. O campo é muito bom. Aqui não tem como você errar um passe, se errar é porque você é muito ruim mesmo. Se pudesse escolher uma palavra para definir o estádio do Pacaembu seria: alegria. Sempre vinha jogar feliz aqui, como se fosse minha casa”, complementa.


O meu, o seu, o nosso: Pacaembu!


Quem já acompanhou alguma atividade dentro do local, com certeza, já ouviu esse jargão tão imponente e característico. Do alto das cabines, anunciando o cronograma do dia, o número de renda e público, os jogadores e os outros acontecimentos fora de lá está Edson Tadeu da Silva, conhecido por todos como Edson Sorriso, 55.

Seu envolvimento com desporto data cerca de dez anos. É responsável pela coordenação de esportes da subprefeitura do Butantã, desde 2004, tendo uma carreira anterior na área da cultura, como sambista e compositor.

Tornar-se o locutor oficial do Pacaembu foi uma surpresa e um improviso. Após o falecimento de Milton, responsável por esse trabalho, o cargo para “agitar a galera” ficou vago e alguém tinha que fazer esse papel.

“Sorriso, sobe lá pra fazer o jogo!”. Edson conta que não teve escolha e obedeceu à ordem do então coordenador do complexo esportivo do Pacaembu: Aléssio Gamberine. No dia, um campeonato em que o Brasil e seleções internacionais estariam em campo foi o primeiro contato do sambista de voz grave.

Desde 2011 essa experiência ficou séria e o microfone do estádio é comandado por Sorriso. A criação do bordão “o meu, o seu, o nosso: Pacaembu!” veio com a necessidade de afirmar que mesmo que o Corinthians não fosse mais utilizar do campo municipal, todo aquele espaço pertence a todos. Independe do time, orientação sexual, classe social ou nacionalidade. “Não era o Pacaembu que estava ligado ao Corinthians, e sim o Corinthians que estava ligado ao Pacaembu”, conta.

“Meu primeiro contato com estádio foi aos oito anos, quando meu tio me trouxe para ver um jogo. Dez anos após tive a alegria de jurar a bandeira nesse gramado, com 18 anos, e depois vim trabalhar aqui. O Pacaembu só me trouxe alegria. Trabalhar com felicidade”, finaliza.


Paixão de arquibancada para a pele

Por receber muitos confrontos esportivos e todas suas atividades independentes, o Pacaembu conquistou muitos fãs e seguidores. Além disso, foi ponto de encontro, construindo novas amizades e até novas paixões- daquelas que vão além das quatro linhas do gramado.

O coordenador de marketing, de 31 anos, Felipe Pelosi tem uma experiência de mais de 20 anos com o estádio e complexo esportivo. Seu primeiro jogo foi em 1992, quando tinha nove anos de idade. No estádio, o corintiano acompanhou o confronto do seu time contra o São Carlense, no qual o clube alvinegro venceu por 1 a 0. A partir daí, possui uma forte relação com o Pacaembu. Algo que o mesmo define como “amor”.

No complexo esportivo, Felipe participou da pré-temporada do time de basquete, formado em 1997, mas não disputou o campeonato. O motivo? Felipe declara: “queria mesmo era jogar futebol, mas não passei na peneira! Acabei me afastando das atividades do estádio por um tempo, mas sempre voltada para ver os jogos do Corinthians”, relata.

Em 2002 o coordenador de marketing retomou suas atividades esportivas no Pacaembu. Dessa vez, a piscina olímpica era o local onde se praticava o lazer e atividade física. Além disso, andar de skate, comer um hot-dog ou um pastel na feira sempre foi uma de suas atividades favoritas e recorrentes.

Conhecido como um local de encontros, o estádio e complexo esportivo foi palco de um inesquecível na vida de Felipe. Em mais um jogo do seu time do coração, o coordenador de marketing se interessou por Mariana Burochosas, 31, pediu o contato de sua rede social, marcou um passeio, começou a namorar e hoje são casados.

Outro episódio marcou a vida do corintiano. Apaixonado por esportes, desde pequeno, tinha o sonho de ter um filho para levá-lo aos jogos. Desde que Mathias Pelosi, 6, tem três anos de idade, Felipe o carrega para os jogos- sendo que o seu primeiro foi no Pacaembu.

Por ter uma participação tão significativa em sua vida, o próximo ato para marcar o Pacaembu será fazer uma tatuagem em seu corpo como homenagem ao estádio. “Já estou com essa ideia faz um ano, mais ou menos, porque o Pacaembu marcou minha vida para sempre. Só tenho lembranças boas!”, encerra.


“Estádio que vicia”

O estudante de Rádio e TV, Fabio Henrique dos Santos, 24, é mais um dos apaixonados pelo estádio Paulo Machado de Carvalho. “Costumo alertar a todos aqueles que nunca entraram em um estádio que o local vicia- digo isso por ter tido essa experiência com o ‘Paca’. Logo que vi o gramado meu coração bateu mais forte [...]. Uma sensação gostosa de sentir, e que eu ainda sinto quando subo as escadas do tobogã ou entro pelo portão principal... Conheço esse estádio como se fosse a minha casa”, conta.

Acompanhar seu time nos jogos do estádio também proporcionou a escolha de uma profissão ao estudante. “Meu amor pelo rádio também teve no Pacaembu seus ápices românticos. Era ao lado de uma barraca de lanche que ficava o carro da Transamérica, com o som até o ‘talo’, passando informações sobre o Timão. Eu comendo o meu ‘pernilzão’ e sonhando em um dia estar do outro lado daquelas ondas radiofônicas”.

A decisão mais importante que Fabio Henrique vivenciou no local foi a conquista da libertadores de 2012, pelo Sport Clube Corinthians. “Pude ver em cada pessoa que estava ali no estádio que uma coisa ruim tinha saído e que todos estavam de alma lavada. Fiquei até os jogadores saírem de campo. Aquele era o meu momento de curtir, chorar, gritar...”, relata emocionado.

A casa de todos

“Como seria o Pacaembu em uma definição?” “A casa de todos, tipo um templo”. A jornalista e palmeirense fanática, Letícia Ribeira, 23, tem uma grande admiração pelo Estádio Municipal e ainda faz uma comparação com as grandes arenas: “Hoje, com essa modernidade toda que tem nos estádios, só quem fica na arquibancada do ‘Paca’ sabe a sensação que dá de estar ali no meio da torcida. É diferente de você assistir um jogo sentado. Na arquibancada você pula, grita... fica embaixo da bandeira e etc”, finaliza.


Do tempo que a piscina tinha trampolim

Mallu Sader, 53, trabalha desde 1983 no estádio Pacaembu. “Desde que entrei na prefeitura, eu só trabalhei nesse lugar. Então, costumo falar que aqui é mais minha casa do que minha própria casa”, conta.
A professora de educação física com mais experiência já vivenciou episódios inesquecíveis. Relembrando os que mais marcaram sua história, Mallu cita o trampolim de mais de dez metros existente na área da piscina- que não era utilizado. Para ela, aquilo era uma grandiosidade e, quando o retiraram, sentiu como se fosse uma agressão. “Para mim, foi um choque. Hoje compreendo a necessidade de retirá-lo, mas me marcou.”
Uma das suas maiores realizações, em sua vida profissional, foi concretizar seu grupo de corrida que funciona há mais de 10 anos. Além disso, a educadora física homenageada na cerimônia de 75 anos afirma que o “estádio do povo”, como o define, formou-a como uma professora. “Aqui dentro é minha vida profissional”, fecha.

Ambiente abençoado

Rosangela de Oliveira Valli, 55, é a segunda professora com mais experiência na casa. Em sue currículo estão aulas de vôlei, futsal, aeróbico, natação, alongamento, circuito e outros dentro do desporto. Para ela todo o local é maravilhoso. Desde o verde, a arquitetura, os passarinhos e a área: tudo a encanta. “É um ambiente abençoado. É o paraíso, afirma”.

Há trinta anos vivendo dentro de um espaço são muitas histórias que podem ser descritas e marcam: os jogos, os shows e as aulas. Mas, entre coisas inesquecíveis da vida da educadora, sua relação com as pessoas sempre estará em primeiro lugar.

Emocionada, Rosangela relata um episódio que protagonizou com uma aluna que sofreu com o câncer. “Conheci o esposo dessa senhora em umas coincidências da vida, depois que ela faleceu. Ele me contou que, mesmo após os tratamentos com a quimioterapia, minha aluna sempre queria ir às aulas para me ver. São coisas que emocionam né?”.

“Pacaembu é um patrimônio que engrandece a cidade. No meio dessa selva de pedra ele está com toda sua energia [...]. Definindo em uma palavra, o Pacaembu é majestoso”, concluí.

Concreto é frio, mas por ele passam emoções

Desde 1969, Luiz Afonso de Andrade, 68, trabalha no complexo esportivo e estádio Paulo Machado de Carvalho. De início, começou com serviços gerais limpando valetas e banheiros, além de fazer a segurança. Com o tempo incorporou funções ao seu currículo até chegar ao posto de um dos administradores.

Todos os dias, a partir das 7h da manhã seu “Luizão”, como é conhecido, entra ao estádio para cumprir mais um dia de serviço. O horário marcado para entrar é a única certeza, pois, as atividades podem extrapolar qualquer jornada de trabalho- ou, como define, de hobby.

Todo tempo de serviço lhe abriu diversas oportunidades. Com a carreira na Prefeitura, Luizão concluiu 11 cursos profissionalizantes importantes ao seu currículo e evolução. Necessários para a criação de sua família e filhos.

A única lembrança negativa que assombra a mente do senhor de 68 anos de caminhada é uma briga entre a torcida do Palmeiras e São Paulo, na Supercopa de 1995. A “guerra” acabou ocasionando a morte de um jogador São Paulino de 16 anos de idade, além de 102 feridos. Na ocasião, Luizão era o coordenador do estádio. “Tomei tijolada, tomei pedrada. Foi um dia muito triste, foi um dia doloroso”, conta.

Como na vida nem tudo são dores, um dos funcionários mais velhos da casa sempre relembra as coisas boas que aqui viveu. Acompanhou a despedida dos gramados de grandes craques, como Ronaldo e Romário. A invasão rubro-negra em 1984, na Taça da Libertadores, marcada por Flamengo e Grêmio, a conquista do Corinthians em 2012 no mesmo campeonato. Além dos eventos culturais, como o show da Xuxa, dos Rolling Stones, do Paul McCartney, Tina Turner e outros.

Para finalizar a conversa, Luizão define o local em que passou mais da metade da sua vida, sempre de forma poética e emocionado: “Ele deu minha casa, me deu conhecimento, me deu amigos, me deu alegrias, me deu tristeza. Tudo que conquistei, eu conquistei trabalhando no Pacaembu. Ele pulsa, pulsa dentro da gente. Todo mundo diz que o concreto é frio, mas as emoções que passam por ele não. O Pacaembu é minha vida.”.

Encorajador

Para estudante Anderson Ludevice, 21, ver seu time jogando era um sonho. Até 2007 seus pais não permitiam que o jovem pudesse adentrar os portões do local em que as partidas são disputadas, por questão de segurança. Quando viu, enfim, seu Corinthians jogar o local mais propício e escolhido foi o Pacaembu, o torcedor conta que “o coração bateu mais forte”.

Outra situação inesquecível foi poder acompanhar dois craques do futebol brasileiro em campo: Ronaldo e Roberto Carlos. Na ocasião, Anderson tinha comprado apenas os ingressos da cadeira numerada, mas ver um jogo daqueles sentado seria impossível. Encorajado pelos amigos, o jovem que tem medo de altura, pulou uma das grades que dividiam uma arquibancada da outra, para poder ficar em meio a torcida organizada- num misto de medo e alegria.

“O Pacaembu foi uma paixão a primeira vista. Quero levar meus filhos para assistir algum jogo lá, porque ao contrario das novas arenas ele é como o povo é: humilde. É acolhedor, é muito importante pra toda a cidade e pra todo cidadão”, pontua.


Pacaembu é um sentimento

Francisco Carlos Dada é o coordenador do complexo esportivo do Pacaembu, nesta gestão de 75 anos de história. A alta posição, responsável por todo o local, é um dos prêmios que conquistou em toda sua caminhada de vida. “É um processo de renovação, como o conto da águia”, conta.

Desde o cuidado com grama do estádio, até os processos administrativos, Chicão está presente. Um dos reconhecimentos desse cuidado veio em 2014, em época de Copa do Mundo, quando o Pacaembu foi considerado o estádio com a melhor grama do Brasil- uma característica que o coordenador zela e busca manter sempre.

Uma das propostas que mais o marcou em sua trajetória de Pacaembu, foi a solicitação de uma senhora que acompanhava sempre os jogos do seu time com seu marido, no setor laranja. Com o falecimento do seu companheiro, a eterna apaixonada quis concretizar um dos sonhos de seu amado: ter suas cinzas depositadas em uma parte do estádio. “Foi super emblemático, mas a família depositou parte das cinzas aqui”, lembra.

“Isso aqui é um patrimônio histórico. Falando em linguagem figurada, o Pacaembu é o pai ou a mãe de uma família. Os filhos cresceram, casaram e foram para suas casas. Mas, eventualmente, sempre voltam para ver o ‘papai’ e a ‘mamãe’, o ‘vovô’ e a ‘vovó’. Assim que enxergo o Pacaembu”, descreve.

O coração gigante

Torcedor fanático por futebol, o Secretário de Esportes Celso Jatene, conta sua relação e experiência no local: “Frequento o Pacaembu desde os 11 anos de idade. Já tive aqui muitas alegrias e tristezas, como, por exemplo, a conquista do tri da libertadores pelo Santos. Agradeço a Deus e à vida por viver os 75 anos do Pacaembu- um dos torcedores que cansou de sentar nas arquibancadas está aqui como secretário-, nunca imaginei que pudesse viver esse momento”, conta.

Em relação ao futuro do patrimônio histórico e cultural da cidade, Jatene afirma: “O Pacaembu está sendo cuidado com muito zelo e estamos sempre pensando em seu futuro para que ele fique cada vez mais moderno, mais querido, mais bem cuidado pela cidade de São Paulo”. Para finalizar, o secretário define o local como um "coração gigante" que bate constantemente no coração dos paulistanos e dos moradores do município.

Texto:Ludmilla Florencio - ljflorencio@prefeitura.sp.gov.br
Fotos (1,2,3,4,7,8,9, 10 e 11): Arquivo SEME
Fotos (5 e 6): Arquivo pessoal.

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