A força do futebol feminino do Centro Olímpico

Categoria sub-11 do COTP é o único time feminino em uma competição masculina

A luta das mulheres pelo direito de jogar bola se arrasta há anos. Antigamente, eram proibidas até de praticar o esporte. ”Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”, dizia o artigo 54 do Decreto-lei nº 3.199, criado em 14 de abril de 1941 e assinado por Getúlio Vargas durante o período ditatorial. A proibição durou cerca de quatro décadas e, graças às lutas das jogadoras, a regulamentação veio.

O Brasil é a grande potência do futebol feminino na América do Sul e na capital paulista, o Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (COTP) é um dos locais que permitem a prática do futebol feminino, na cidade. O espaço faz parte da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (SEME) e é voltado para o esporte de alto rendimento. Desde 2000 lança jovens talentos para o mundo do futebol e já são mais de 70 atletas convocadas para a Seleção Brasileira. O COTP, atualmente, tem três categorias: sub-11, sub-13 e sub-15. Os times disputam várias competições, entre elas a Liga Brasileira das Escolas de Futebol (Libraef).



 

Masculino x Feminino

A Libraef é uma liga existente há 10 anos e organiza competições de base. O COTP disputou pela primeira vez o torneio em 2016, na categoria sub-13. Foi o único time formado somente por garotas em uma competição masculina, a Copa Moleque Travesso, e se sagrou campeão. “Conseguimos provar que o futebol feminino tem seu valor e deve ser reconhecido e valorizado”, nos conta Rodrigo Roque Coelho, supervisor do futebol feminino do COTP e ainda acrescenta como surgiu a ideia de entrar em uma competição do sexo oposto. “Foi pela necessidade da categoria sub-11 participar de competições, e como não existem torneios para as meninas nesta idade colocamos elas em competições contra meninos ou meninas mais velhas", completa. Em 2017 foi a vez da categoria sub-11 ingressar nas competições da liga, jogando a Copa Libraef, mas sem passar da primeira fase. Encerrou a sua primeira participação com quatro derrotas e dois empates.

No segundo semestre do mesmo ano, a categoria sub-11 disputou a Copa Gol Mais Gol e terminou a primeira fase na liderança e invicta, com três vitórias e um empate. Chegou na semifinal e venceu o time Show de Bola por 2 a 0, conseguindo assim uma vaga para a final. No último jogo, derrota por 1 a 0 para E.F. Bate Bola e a consolidação do vice-campeonato. Mesmo com o segundo lugar, todos elogiaram o grande desempenho da equipe. Giovana Iseppe, 10 anos, meia-atacante do sub-11, relata a importância de jogar a competição. “A gente aprende mais com a qualidade dos meninos.”

Já no ano seguinte, em 2018, a categoria sub-11 feminino disputou e passou da primeira fase na Taça Libraef, que tinha somente times masculinos. A equipe ficou em quarto lugar do Grupo A e pegou o primeiro colocado do mesmo grupo. Foi um jogo memorável no Estádio Municipal Euclides de Almeida, em Cotia. O Centro Olímpico chegou a fazer 2 a 0, criou várias oportunidades, mas do outro lado estava o Santos Granja Viana, que mostrou muita garra e virou para 3 a 2. “Um dos melhores jogos do Campeonato. O COTP caiu de pé!”, declara Marden, presidente e coordenador da Libraef.

No começo deste ano, o sub-11 jogou a Copa SP de Futebol 7 e ficou com o vice campeonato. A final foi contra o Santos Parate e terminou 3 a 1 para a equipe alvinegra. “Um grande jogo, diante de um grande público”, relembra Marden. Agora, as meninas do sub-11 disputam a Taça Libraef de Futebol de Base e, mais uma vez, é a única equipe feminina em participar da competição. “Nosso objetivo é dar rodagem e experiência de jogo e campeonatos pra elas, uma vez que participar de competições é um processo importante na formação como jogadora”, frisa Rodrigo. No primeiro jogo contra o Gideão Soccer, foram derrotadas por 1 a 0. Na segunda rodada sofreram uma goleada para o Olímpia E.F. de 4 a 0. Os próximos adversários serão Corinthians Butantã, CT Neuro Sport, Corinthians Pari e Aces Sport Academy.

Passou da hora

A Federação Internacional de Futebol (FIFA), também demorou para organizar uma Copa do Mundo feminina. Enquanto a Copa masculina fez a sua estreia em 1930, no Uruguai, a competição para mulheres teve seu início 61 anos depois, em 1991, nos mesmos moldes da masculina, de quatro em quatro anos. Os países sedes foram: China, Suécia, Estados Unidos, Alemanha, Canadá e a última na França, que teve recorde de audiência nos quatros cantos do mundo.
 

A trajetória da Seleção Brasileira Feminina de Futebol

A Seleção Brasileira é heptacampeã da Copa América em oito edições da competição (a última foi em 2018). Já nos Jogos Pan-Americanos é tricampeã em seis edições. Na Copa do Mundo, a seleção ainda não venceu, mas foi vice-campeã duas vezes.

“O futebol feminino tem se valorizado nesses últimos anos. A participação dos "times de camisa" e a Copa do Mundo Feminina 2019 foram ótimos para a modalidade, mas aqui no Brasil ainda falta muito apoio de patrocinadores, marcas esportivas e mídia para a modalidade. É o processo que está apenas começando no Brasil. No resto do mundo está mais consolidado,” alerta o supervisor de futebol do COTP.

 

Texto: Karina Costa - karinascosta@prefeitura.sp.gov.br
Fotos: Libraef