Saúde mental: Como lidar com a pressão em esportes de alto rendimento?

Casos recentes de atletas profissionais ligam alerta para o lado psicológico

O sucesso dos atletas de alto rendimento nas competições não passa apenas pelo aperfeiçoamento físico e técnico. A saúde mental também tem papel fundamental no desempenho dos esportistas nas modalidades que praticam.


Logo, é importante que os atletas consigam conciliar o bem estar físico ao mental para evitar problemas sérios como ansiedade, depressão e a pressão.


Psicologia no esporte
Para a psicologia esportiva, o desempenho de um atleta de alto rendimento é afetado por diversos fatores que não têm ligação com o esporte. O lado emocional, afetivo e até mesmo a maneira como eles se relacionam com a equipe ou outras pessoas do seu convívio interferem no resultado final nas competições.


Por isso, a psicologia esportiva busca alimentar a saúde mental e o bem estar dos atletas, para assim eles obterem as melhores performances nos torneios.


Grande parte dos esportistas não sabe lidar com a pressão interna e externa no meio esportivo. A cada ano que passa, aumenta a procura por psicólogos, seja por atletas ou treinadores.


Doenças psicológicas no esporte
A pressão por resultados positivos no nível profissional vem de vários lados, passando por empresários, patrocinadores, membros da equipe, até chegar em torcedores, família e o próprio atleta, que traça objetivos e metas para si mesmo. No começo da carreira, os profissionais são submetidos à transição da fase amadora para o profissional, deixando de ser visto como algo recreativo para obter resultados e conquistas.


Nessa outra fase, a estabilidade financeira é outro fator que começa a aparecer e incomodar o lado mental dos atletas, além da sonhada fama, possíveis lesões, tempo de recuperação e, por fim, no final da carreira, a aposentadoria. O “Choking” é um termo usado para definir os atletas que têm um desempenho abaixo em situações de alta expectativa de sucesso como, por exemplo, lances de pênaltis decisivos no futebol, cestas cruciais no basquete e etc.


A pressão de maneira clara altera diversas vertentes psicofisiológicas, pois aumenta a tensão muscular e diminui a concentração, o que interfere na performance dos atletas. De acordo com a psicologia, a pressão psicológica é uma ação realizada de uma pessoa sobre outra, o que ocasiona danos emocionais e descrença em si mesmo de sua capacidade.


Algumas das consequências exercidas pelo problema são ansiedade e depressão. Essa última, inclusive, será a doença mais comum do mundo até 2030 segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Esse combo de emoções altera a cabeça do atleta que, caso não tenha acompanhamento médico, pode render abaixo do esperado ou até mesmo desistir de competir. Além de saber reconhecer os próprios limites, é necessário que os atletas consigam desenvolver equilíbrio emocional e resiliência para que consigam lidar com a frustração nas competições.


Olimpíadas de Tóquio
A pandemia da Covid-19 fez com que as pessoas ficassem isoladas, restringindo o contato com outros indivíduos que não fossem seus familiares. Nas Olimpíadas, alguns atletas brasileiros como Douglas Souza, do vôlei, e Rayssa Leal, do skate, passaram a utilizar mais as redes sociais para poder se aproximar mais da torcida, já que a competição não contou com público.


Porém, na atual era digital, os problemas psicológicos podem ser agravados pelas mídias digitais, o que aumenta os efeitos das doenças. Antes do início dos jogos olímpicos, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) fez alguns alertas sobre o uso das redes sociais pelos atletas durante a competição. Segundo a organização, o tempo online poderia aumentar a pressão em cima dos competidores brasileiros já que seria “um ambiente ainda mais intenso de opiniões e fértil para discussões”.


Caso Simone Biles
Considerada o maior nome da Ginástica Artística no mundo, a americana Simone Biles surpreendeu a todos após não disputar duas provas da modalidade nas Olímpiadas de Tóquio. O motivo dado pela atleta foi que ela precisava cuidar da sua saúde mental.


“Tenho que colocar minha saúde mental como prioridade. Não vejo problema em desistir de grandes competições para focar em você porque mostra força como competidora e como pessoa”, disse Simone em entrevista coletiva.


Vale dizer que Simone Biles não foi a única. Nos últimos anos, atletas como a tenista Naomi Osaka, o ciclista holandês Tom Dumoulin, a jogadora de basquete Liz Cambage e a corredora Sha’Cari Richardson também abdicaram de torneios para cuidar da mente. O caso mais recente foi do brasileiro tricampeão mundial de Surf, Gabriel Medina, que desistiu das primeiras etapas da WSL devido problemas particulares, como o divórcio do seu casamento.


Centro Olímpico
O Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (COTP), equipamento administrado pela Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (SEME) de São Paulo, conta com uma equipe de psicólogos para auxiliar e dar apoio aos atletas.


“Trabalhamos com as equipes, sendo focado em grupo porque assim fica mais fácil para lidar com conceitos como o trabalho em equipe e etc. Além disso, cuidamos da concentração e pressão dos atletas, essa questão de cobranças, seja por resultados ou até mesmo na pressa de conseguir dar uma vida melhor à família. Obviamente, caso haja necessidade também fazemos um trabalho individual com os jovens”, disse a doutora Milena Colette.


Para a médica, a boa saúde mental interfere diretamente no desempenho dos atletas nos torneios.


“É primordial que na hora de competir os atletas estejam com a melhor cabeça possível. Não é só o corpo e a técnica que garantem um bom resultado, a mente estável evita problemas”.


Ela segue explicando sobre como as doenças interferem com alto impacto nas pessoas.


“Hoje a ansiedade é o problema mais comum entre os atletas de alto rendimento. Depois da pandemia, as crises de ansiedade cresceram muito, e não tem como separar o atleta da pessoa. Por isso, tratamos de fazer um trabalho especial com eles”.


Na visão da doutora, o uso constante do celular é outro motivo que interfere diretamente na condição psicológica das pessoas.


“A pandemia é um fator primordial e as consequências serão vistas daqui alguns anos. Outro agravante é o uso excessivo do celular, porque ele diminui o relacionamento presencial das pessoas em relação ao virtual”.


A psicóloga aproveitou para indicar alguns exercícios que podem ser feitos para diminuir os problemas na saúde mental.


“Fazemos o uso de técnicas de respiração para diminuir a ansiedade, e para a pressão temos o treinamento mental que consiste em o atleta visualizar com antecedência o exercício a ser realizado na competição. Ele imagina os seus movimentos antes de competir”.


Ela terminou falando sobre como será recorrente nos próximos anos os atletas profissionais cuidando da saúde mental.


“Será mais comum e considero isso positivo, pois a parte mental é fundamental não apenas para os atletas, mas para qualquer pessoa. É muito importante conciliar o lado físico e mental com a técnica”.

Texto: Cristian Moraes - cristianrocha@prefeitura.sp.gov.br

Imagem: Giovanna Gravina - ggravina@prefeitura.sp.gov.br