Crianças do Iporanga recebem treinamento ambiental

Por Paulo Kehdi


Jardim Iporanga: intervenções necessitam ser preservadas 

Para consolidar a transformação das favelas urbanizadas nos mananciais em bairros sustentáveis, a Secretaria Municipal de Habitação (Sehab) está investindo na educação ambiental da população. A primeira a receber a iniciativa é a comunidade do Jardim Iporanga, na zona sul, que fica na região da represa Guarapiranga.

Realizado desde o ano passado, o Programa Educação Sanitária e Ambiental, idealizado pela equipe de Trabalho Social da comunidade, investe nas crianças, que recebem aulas teóricas e práticas de preservação. São, em média, 30 por dia a participarem das atividades. No total o Programa já atendeu 84. “Não adianta nada canalizar e limpar um córrego, se depois ele virar um depósito de lixo. Todo o esforço gasto naquela obra será em vão”, diz Marcia Cecatto, técnica social da Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos (Cobrape) e responsável pelo projeto. “É preciso provocar uma mudança de hábitos em todos.”

As palestras, que ocorrem na Associação Alexandre Ossani, são ministradas de segunda a quinta-feira, por uma hora e sempre em dois turnos – manhã e tarde, para não atrapalhar as tarefas escolares. As atividades abrangem oficinas temáticas, apresentação de vídeos educativos, gincanas, caminhadas e muita, mas muita conversa. Quando, por exemplo, eles fazem incursões por vários locais, equipam a criançada com luvas e sacos de lixo para limpar a sujeira que encontram pela frente.

 “Se encontramos restos de comida, por exemplo, advertimos sobre a possibilidade de aparecerem ratos e baratas. E as ações continuam em casa. Os alunos plantam pequenas espécies em vasos e levam para cuidar. Instruímos para que eles cuidem delas como se fossem gente, dessa forma outros valores são incorporados. Associações entre regar e tomar banho, cuidados com o vaso e com a casa, tudo ajuda na educação ambiental. E como somos um grupo, elas aprendem também a ser tolerantes e a ouvir opiniões divergentes”, explica Marcia. Vale frisar que as 3.500 moradias do Iporanga já estão sendo alvo de outra campanha, a da coleta seletiva do lixo.

Naomi Pereira do Nascimento, 11 anos, participa das atividades e funciona como uma espécie de multiplicadora de conhecimento. “Tenho nove irmãos e falo para eles tudo o que realizamos. Eles ouvem atentos e são incapazes, por exemplo, de jogar lixo no chão.” Já Karolyne Mendes, de 10 anos, adora os vídeos. “Além daqueles educativos, que ensinam como cuidar das plantas, têm outros muito legais. Lembro de um desenho que mostrava um bichinho que era rejeitado pelos outros, mas acabou conquistando a amizade de todos ao ajudar um companheiro em perigo”, conta. “E é dessa forma que devemos enxergar a natureza, como uma amiga em perigo que precisa de proteção.”

A iniciativa será estendida para outras áreas. “Consideramos essa experiência como um projeto piloto e agora vamos levá-lo para as comunidades Jardim Novo Marilda e Jardim Noronha, ambas no Grajaú, e que juntas possuem 28 mil pessoas”, afirma Rita de Cassia Corrêa, coordenadora social do Programa Mananciais.