Capacitação profissional ganha destaque em urbanizações

Por Paulo Kehdi


Curso de tranças afro no Residencial Olarias: capacitação profissional e geração de renda

Ensinar a fazer tranças afro pode ser tão importante numa obra de urbanização de favelas, quanto a instalação da rede de esgoto. A capacitação da população dessas comunidades para o trabalho por meio de cursos de geração de renda são ações desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Habitação com o mesmo empenho do que as demais obras. “A capacitação é melhor quando focada nas reais necessidades da população que vive na área em urbanização”, afirma Elisabete França, superintendente de Habitação Popular.

No Residencial Olarias, no bairro do Pari, zona central da cidade, já foram promovidos vários cursos. Aulas de artesanato, cabeleireiro, manicure e garçom são alguns dos exemplos. Uma enquete feita em maio pela Sehab e a Diagonal Urbana Consultoria, empresa que presta serviços na área social, apontou em primeiro lugar de preferência entre os moradores o curso de tranças afro, oferecido pelo Centro de Referência da Mulher, da Coordenadoria da Mulher, ligado a Secretaria Municipal de Participação e Parceria. O curso é ministrado desde outubro, e deve terminar em dezembro. As aulas são semanais e direcionadas a 30 mulheres, moradoras do local e do entorno.

“O caminho para viabilizarmos os projetos são as parcerias que buscamos com ONGs, como também com outras secretarias municipais, como a do Trabalho, Participação e Parceria, Cultura e  Verde e Meio Ambiente. Nós temos o espaço e a demanda. As outras secretarias disponibilizam os cursos e profissionais indicados para ministrar as aulas. E colaboramos com as ONGs na viabilização e execução dos projetos, com a mobilização dos interessados, divulgação e até mesmo no processo burocrático”, explica Rosa Sakamoto, coordenadora de Habi-Social.

“No caso das tranças afro, é possível incrementar a renda familiar, pois a atividade pode ser exercida em casa, num salão ou na casa do cliente, e os materiais envolvidos são baratos. Pode-se cobrar até R$ 300 por um trabalho, dependendo do desenho e do tamanho do cabelo, e quase tudo é lucro”, diz Roberta Dias, cabeleireira e a professora responsável pelas aulas.

Outras soluções são encontradas para a expansão dos programas. No Jardim Olinda, zona sul, já foram disponibilizadas oficinas de artesanato, com pintura em tecido, vidro ou lata, além da arte com mosaico e o chapisco, uma técnica para que o reboco das casas seja diferenciado, colorido. Lá, os profissionais que ministram os cursos são técnicos da própria Sehab e professores voluntários, que disponibilizam seu tempo para ensinar a profissão que exercem.

Nas áreas de intervenção que contam com recursos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), uma parte da verba é obrigatoriamente destinada a programas de geração de renda e trabalho, e tudo é supervisionado pela Caixa Econômica Federal (CEF). É o caso das comunidades do Tiro ao Pombo e do Guarani, ambas na zona norte. Diversas oficinas já foram realizadas e, atualmente, está sendo ministrado um curso de costura e overloque para 20 pessoas. Na comunidade de São Francisco Global, zona leste, cursos de jardinagem e conservação ambiental foram concluídos e um de costura voltado ao artesanato foi posto em prática graças a uma parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi).

Na Habi-Sudeste, um trabalho complexo e pioneiro está em curso. As comunidades de Heliópolis, Jardim Celeste e Cidade Azul fazem limites com outros municípios. Pesquisas de campo, objetivando identificar as profissões mais atraentes, estão sendo realizadas nos municípios de São Caetano do Sul, São Bernardo, Santo André, Diadema e Mauá. Isso possibilitará que os recursos sejam dirigidos de forma criteriosa.

“Os municípios apresentam perfis completamente diferentes. Diadema, por exemplo, tem indústrias voltadas a área de cosméticos. Já São Caetano é pródiga em construção civil. Teremos como reconhecer quais as atividades que mais necessitam de mão de obra. Queremos realizar um trabalho fundamentado em dados estatísticos”, afirma Sueli Aparecida Girardi, coordenadora do trabalho social de Habi-Sudeste.

“Depois que tivermos a pesquisa finalizada, ainda para novembro, apresentaremos os resultados para as comunidades. Identificaremos os potenciais interessados e iremos trabalhar na qualificação, com capacitação em cursos técnicos. Para isso, estamos em contato com o Sesi e o Senai (Serrviço Nacional de Aprendizagem Industrial), para viabilizarmos uma formação com qualidade. E também com sindicatos, para que as vagas que surjam sejam prioridade de Sehab. Com isso, queremos dar condições para a entrada no mercado de trabalho, aumentando a autoestima do indivíduo e da comunidade com um todo”, finaliza Sueli.