Grupo de catadores da Vila Nilo formará associação

Por Graco Braz Peixoto


Boxes individuais dos catadores: trabalho organizado e cidadania 

O Centro de Reciclagem 15 Amigos, um grupo informal de catadores de material reciclável da Vila Nilo, comunidade da zona norte urbanizada pela Secretaria Municipal de Habitação (Sehab), está em vias de ser transformado em uma associação, com estatuto, CNPJ, endereço e qualificação profissional de seus membros. A mudança da informalidade para a formalidade significa uma melhoria na vida desses catadores. Com isso, poderão se filiar a uma grande cooperativa com carteira de clientes, equipada com prensas, balanças e todas as condições para uma melhor comercialização do papel, papelão, garrafas pet, de produtos de limpeza, embalagens vazias e latas que recolhem. Também possibilitará a eliminação do atravessador, o que resultará em ganho maior para o grupo.

Apoiando a iniciativa, existe a atuação das assistentes sociais de Habi-Norte, uma das regionais ligadas a Superintendência de Habitação Popular (Habi), por meio de um programa de inclusão social e geração de renda. “Não adianta entregar uma urbanização e achar que o trabalho já está concluído. O atendimento social, educativo, é que vai garantir a melhora da qualidade de vida, a integração com o resto da comunidade e até a preservação do empreendimento. Os catadores são o elo mais frágil da população, eles precisam de uma atenção ainda maior”, diz Mônica Cyrillo, assistente social.

Coube à equipe a iniciativa de realizar esta experiência da Prefeitura, inédita no âmbito do programa de urbanização de favelas. Além de promover encontros para socialização, o programa também dá ao grupo noções de cidadania, de obrigações e responsabilidades, da realidade de seu mercado de trabalho, conhecimentos básicos que resultam na profissionalização da atividade.

Desde que o programa foi planejado, com o intuito de dar estrutura física para o trabalho dos catadores, Sehab incluiu nos projetos a construção de boxes para que eles possam guardar suas carroças, com espaço de uso coletivo. Para o projeto de Vila Nilo foram construídos 15 boxes, o que acabou originando o nome do grupo. Ampliando a experiência, a Secretaria está construindo em City Jaraguá, outra comunidade urbanizada na zona norte, 17 boxes para que os catadores de lá possam também formar sua associação. A terceira atuação do programa será no Tiro ao Pombo, também na zona norte, onde se planeja a construção de oito boxes.

O trabalho com os catadores de Vila Nilo começou em 2007. O que o torna mais difícil é sua natureza social, psicológica. “Nesse ponto acho que alcançamos nosso objetivo, agora eles podem gerenciar o espaço, confiam mais uns nos outros, dão força quando alguém se desanima, têm uma autoestima melhor”, comenta Maria da Graça Cândido, assistente social que divide com Mônica a empreitada. Hoje, o grupo tem um tesoureiro e faz uso de livro-caixa para organizar suas despesas. Além disso, todos aderiram ao pagamento de uma taxa mensal de R$ 5,00 para um fundo de manutenção.

Outro grande avanço foi a elaboração do Estatuto do Centro de Reciclagem 15 Amigos, com a ajuda de um advogado. Além do Estatuto, a aceitação pelo grupo de uma lista com dez normas de convivência significou mais uma boa novidade. Regras como respeitar o espaço alheio, manter horários, não beber em serviço, não fumar na área de trabalho têm contribuído para a melhora do ambiente. As assistentes sociais promovem também visitas coletivas a outras associações, para que eles conheçam outros grupos, conversem sobre dificuldades, criem laços que fortaleçam a atividade. 

Rebatizados com o nome de “agentes ambientais”, os catadores da Vila Nilo esperam agora que o último colega entregue seus documentos para fazer a abertura de sua associação. A urbanização do local começou em novembro de 2005 e foi finalizada em outubro de 2007. O processo de regularização fundiária está em andamento. Onde antes havia 56 mil m² de favela, agora existe um novo bairro com córrego canalizado, redes de água e esgoto, iluminação pública, áreas de lazer, centro de convivência, 136 novas casas sobrepostas com 44 m² de área construída e muito em breve a sede de uma nova associação.