Urbanização de favelas atrai mais duas universidades estrangeiras

Por Paulo Kehdi


Alunos da UCLA em visita à favela dos Eucaliptos: aprendizado na prática

Alunos da University of California, Los Angeles (UCLA), e da Delft Technical University, sediada em Amsterdã, visitaram a Superintendência de Habitação Popular (Habi) e localidades onde a Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo (Sehab) atua com o Programa de Urbanização de Favelas.

Os mestrandos da UCLA tiveram a oportunidade de conhecer comunidades em diferentes estágios de intervenções. O Recanto dos Humildes e o Recanto Paraíso, ambos em Perus, zona norte da capital, já estão em adiantado processo de urbanização. Na primeira fase das obras, finalizada em outubro, foram feitas intervenções de infraestrutura, a canalização parcial de dois córregos (Mina e Julio Maciel), além da construção de um parque linear. A segunda fase das obras está em processo de licitação e irá finalizar a canalização dos córregos. São 5.820 famílias beneficiadas.

“Praticamente refizemos o bairro e quase não houve remoções – aproximadamente 100 famílias apenas (1,7% do total), atendidas com unidades no City Jaraguá, readequação de moradias e Verbas de Apoio Habitacional. As obras foram pensadas como um todo, porque o projeto original contemplava apenas o Recanto dos Humildes, sendo que a nascente dos córregos e boa parte de seu leito passa pelo Recanto Paraíso”, explica Maria Cecília Nammur, diretora da Habi-Norte, uma das divisões regionais ligadas à Habi.

No segundo dia de visitas, os alunos foram para a favela Eucaliptos e o Córrego do Guaraú, na Casa Verde, também zona norte, que são considerados áreas prioritárias de intervenção pelos técnicos da Habi-Norte. Cerca de 700 famílias estão sendo removidas das áreas de risco, todas morando em palafitas ao longo do córrego. Projetos de infraestrutura, moradia e paisagismo estão sendo propostos para o local.

Paraisópolis, na zona sul, encerrou o ciclo de visitas. Segunda maior favela da capital, está com muitas intervenções. Novas habitações, equipamentos públicos, áreas de lazer, etc. (para conhecer mais detalhes, clique aqui). “É uma experiência única essa que Sehab está nos dando. Conhecer aspectos culturais e urbanísticos tão diferentes dos nossos é muito rico. A intenção é que os trabalhos possam ser utilizados pela Sehab, estamos torcendo por isso. E não ficaremos restritos a projetos de moradias e infraestrutura. Temos uma ideia diferente para concepção de mapas, por exemplo. Queremos usar conceitos que achamos inovadores”, explica Jason Payne, professor da UCLA, que acompanhou os mestrandos.

São Paulo foi a segunda etapa dos americanos. Em dezembro, visitaram assentamentos precários no Rio de Janeiro. “Todas as experiências farão parte de um livro, que será publicado pela Urban Think Tank, da Universidade de Columbia, que mantém estreita relação com a Sehab. Fomos convidados a participar da publicação e aceitamos. Temos também a intenção de retribuir o convite da Secretaria e levar técnicos para os Estados Unidos, para conhecer nossa realidade e nossos projetos”, diz Payne.

HOLANDA

Estudantes da Delft Technical University visitaram duas áreas que fazem parte do Programa Mananciais. As comunidades do Cantinho do Céu e Vargem Grande foram as escolhidas pelo potencial das intervenções realizadas pela Sehab. O objetivo dos graduandos é o mesmo dos alunos da UCLA. Conhecer as intervenções realizadas pela Secretaria e desenvolver projetos urbanísticos que serão propostos para análise.

O Cantinho do Céu, no distrito da Capela do Socorro, é um conjunto de seis loteamentos irregulares ocupados numa Área de Preservação Permanente (APP), às margens da Represa Billings. São 10.841 famílias, numa área de intervenção de 1,5 milhão de m². Estão previstas 2,5 mil remoções para obras de pavimentação, drenagem, abastecimento de água, esgotamento sanitário, contenção de morros, readequação do sistema viário, construção de unidades habitacionais e duas escolas. Além de um parque linear, num empreendimento junto com a Secretaria do Verde e Meio Ambiente (SVMA).

Já Vargem Grande, no extremo sul da capital, é uma ocupação com 7 mil famílias. Iniciada nos anos 1980, ocupa um terreno de 2,5 milhões de m², em forma de cratera, causada pela queda de um meteoro há aproximadamente 36 milhões de anos. Geólogos fizeram a descoberta nos anos 1960. Região de grande valor ambiental na várzea do Ribeirão Vermelho, conta com a presença de cobertura vegetal de floresta virgem, o que contribuiu para que fosse efetuado seu tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT).

Área de Proteção Ambiental (APA) do Capivari-Monos, possui Conselho Gestor próprio, que emitiu parecer que ajudará a nortear o plano urbanístico de intervenção. Obras de infraestrutura, como contenção de riscos, pavimentação de vias e implantação de redes de água, esgoto e drenagem são previstas para o local. Além da implantação de um grande parque linear, por toda a extensão do terreno, também em conjunto com a SVMA.