Projeto Ponte vira referência artística e social em Paraisópolis

Por Graco Braz Peixoto


O coral do Projeto Ponte antes da apresentação no programa do Faustão

Um coral juvenil formado por 46 cantores de Paraisópolis, ao lado de uma orquestra com a regência do pianista de fama internacional João Carlos Martins, tendo à frente Chitãozinho e Xororó, uma das maiores duplas sertanejas do País. Essa cena aconteceu em novembro, na Sala São Paulo, com um repertório que reuniu peças eruditas e música popular brasileira.

O evento fez parte das comemorações de fim de ano da Orquestra Bachiana Jovem. O espetáculo foi fruto de um trabalho desenvolvido ao longo de todo ano pela orquestra criada por Martins, com a participação do Coral do Projeto Ponte,  uma iniciativa de Maria Isabel de Sipos, 85 anos. Nascida em Budapeste (Hungria), a fisioterapeuta de formação e empresária por mais de 40 anos, é uma amante das artes, e, sobretudo, do trabalho social.

O coral é apenas parte das ações postas em prática por Maria Isabel. Tudo começou em 1997, quando ela, católica praticante, incomodou-se com a precária leitura da liturgia feita pelos garotos da comunidade durante as missas de domingo na Paróquia de São Geraldo, na zona sul. Então, procurou a diretora do Centro Santa Escolástica, uma associação beneficente instalada no Colégio Santo Américo, dos padres beneditinos húngaros, e propôs à escola receber aqueles meninos para aulas de leitura e interpretação de textos.

Ela seria a professora, em um trabalho inteiramente voluntário. Com a colaboração dos padres e a pronta adesão de um grupo com mais de sessenta alunos de 12 a 15 anos, Maria Isabel acreditou que poderia ser o elo entre aqueles garotos e uma boa educação. E que o trabalho seria bom para todos, inclusive para si mesma, cuja vida também mudara havia pouco com a morte do marido. Nascia ali o Projeto Ponte.

O envolvimento com a comunidade e os bons resultados do trabalho determinaram o rápido crescimento das atividades. Vieram as excursões culturais ao centro da cidade, as aulas de inglês e as bolsas de estudo, que Maria Isabel conseguia por intermédio de seus contatos. Para dar maior ênfase às atividades musicais que ela observava em Paraisópolis, promoveu em 2006 um festival de música, para o qual montou o coral, cujo desempenho chamou a atenção não somente do público amador, mas também do maestro João Carlos Martins.

“Para mim, foi uma grande surpresa receber um telefonema do maestro. Ele já conhecia o trabalho do Projeto Ponte com o coral, estava preparando a Orquestra Bachiana Jovem para uma apresentação no programa do Faustão e nos convidou para integrar a orquestra. A apresentação foi linda, e desde então temos trabalhado juntos em alguns eventos”, comenta Maria Isabel.

A mais recente parceria veio do envolvimento com a Igreja São José de Paraisópolis, que cedeu seu salão para os ensaios. “Não por falta de espaço. É que o ambiente da igreja é mais musical, tem a acústica”, afirma. Desde sua união com João Carlos Martins, o coral passou a receber o apoio dos patrocinadores da Orquestra Bachiana Jovem e Orquestra Bachiana Filarmônica, criadas pelo maestro. Hoje, conta com a direção da maestrina Silvia Schuster.

Com 14 anos de existência, o Projeto Ponte é referência de trabalho social voluntário em Paraisópolis. Atualmente, além das tarefas ligadas ao coral e das aulas de inglês e espanhol, Maria Isabel implantou o serviço de atendimento oftalmológico gratuito. Entre outros benefícios que trouxe à comunidade, devem ser citados a primeira olimpíada esportiva e cultural de Paraisópolis, e o plantio de árvores em escolas e ruas, sempre com a participação das crianças.