Bolsas fabricadas por mulheres do Iporanga ganham destaque em fórum mundial

Por Paulo Kehdi


O corte dos banners é uma das etapas da linha de produção das bolsas

Semana passada, a Cities Alliance – organização mundial que reúne mais de cem metrópoles em desenvolvimento – encomendou 1.000 bolsas feitas de material reciclável da Associação de Moradores do Jardim Iporanga. Elas serão distribuídas durante o 5º Fórum Urbano Mundial, de 22 a 26 de março, no Rio de Janeiro. Esse é apenas mais um capítulo de uma história de sucesso da associação, e, para entendê-la por inteiro, é preciso retroagir um pouco no tempo, mais precisamente para maio de 2009.

Tudo começou com a iniciativa de doze mulheres que moram na comunidade, localizada na zona sul de São Paulo, em mais uma área urbanizada pelo Programa Mananciais, da Secretaria Municipal de Habitação (Sehab). Há exatos dez meses, com o apoio da equipe social do Programa, elas se matricularam em um curso profissionalizante de costura no SESI Catumbi.

A ação é um exemplo do trabalho social da Secretaria nas regiões onde atua. São iniciativas complementares às intervenções urbanas com projetos de geração de renda, que se tornem auto-sustentáveis e ajudem financeiramente a população local. Um mês depois, com o curso finalizado, elas passaram a produzir na sede da Associação, peças de crochê para banheiro e cozinha, além de bolsas com material reciclado, feitas de banners (faixas de propaganda) inutilizados, com forro de chita, tecido nacional de baixo custo.

A idéia de usar material reciclado incorpora outro objetivo da Sehab: a conscientização da população com relação à preservação do meio ambiente. A utilização do banner descartado como matéria-prima foi conseqüência de uma viagem que a arquiteta e técnica de Sehab Violêta Kubrusly fez a Barcelona, na Espanha. “Vi a bolsa e achei muito criativa. Comprei uma para mim, a uso diariamente, e fiz a sugestão de produção para a equipe social do programa. Elas gostaram e pusemos em prática lá no Iporanga”, conta Violêta.

Quando concebido, o produto também procurou incorporar a qualidade da urbanização do local, cujo parque criado recuperou nascentes e recebeu um prêmio da Agência Nacional de Águas. Todas as bolsas possuem uma etiqueta que traduz Iporanga, palavra tupi-guarani que quer dizer “água linda”.

Durante oito meses, com apenas uma máquina de costura caseira, foram produzidas 700 unidades. Além de fregueses conquistados pelas redondezas, a própria Sehab passou a comprar as bolsas. O intuito era formar um kit com diversas publicações produzidas na Secretaria, que seriam distribuídas dentro delas, nos diversos eventos que a Secretaria participa, durante todo o ano. Congressos, seminários, nacionais e internacionais, e intercâmbios acadêmicos e profissionais são freqüentes e se tornaram uma espécie de vitrine para o produto.

Com a necessidade de aumento da produção, outras mulheres juntaram-se às doze originais e atualmente já são trinta trabalhando no projeto. Há dez dias, duas grandes notícias. Primeiro, a doação de quatro máquinas industriais de costura, que irão ajudar muito na fabricação e qualidade final dos produtos. E a segunda, a encomenda da Cities Alliance.

“Ambas as notícias foram realmente fantásticas. As máquinas vieram em excelente hora, agora que a produção está sendo incrementada. E a encomenda da Cities Alliance mostra que as mulheres estão no caminho certo. Elas vão vender cada bolsa por R$ 10 e já foi contratada uma especialista em produtividade, junto ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), para que a qualidade do produto final obedeça a um padrão de excelência permanente”, afirma Rita Madureira, coordenadora social do Programa Mananciais.

Rogéria Ramos, 50 anos, mora no Jardim Iporanga há quase cinco e é costureira desde os 12. “Sou natural da Bahia, minha família toda é de costureiras e sempre pratiquei a profissão. Quando soube das atividades com as bolsas ecológicas, pois moro perto da Associação, me interessei e agreguei mais um trabalho aos que já tinha. Tenho dois filhos e a renda que consigo aqui ajuda bastante no orçamento lá de casa. Já consegui produzir 47 bolsas num único dia para atendermos um pedido de última hora. Estamos todas prontas para trabalhar dia e noite se for preciso, super envolvidas no projeto”, diz Rogéria.

“A atividade tornou-se comunitária. Os filhos estão ajudando as mães quando não estão na escola e o projeto inicial está se consolidando, expandindo. Nossa intenção é replicar essa experiência por outras áreas de urbanização em que a Sehab atua”, diz Rita. No dia 8 de março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher, a comunidade do Jardim Iporanga terá mais um grande motivo para celebrações. A conquista dessas mulheres, hoje profissionais em plena atividade, mostram que a união faz a força e enchem de orgulho um bairro inteiro.