Universitário de 25 anos lidera moradores da 2ª maior comunidade de SP

Por Paulo Kehdi


Gilson foi eleito com mais de 3 mil votos para presidente da UMP

O presidente da União dos Moradores de Paraisópolis (UMP), Gilson Rodrigues, 25 anos, tem uma trajetória de vida relativamente curta, mas que pode ser considerada como exemplo de superação. Nascido em Itambé, interior da Bahia, vivenciou todo o tipo de obstáculos e nem sabe exatamente quantos irmãos tem. “Minha mãe era muito simples, surda e acredito que ela deu a luz 14 vezes. Não conheci meu pai. Logo depois do nascimento, fui dado para um casal de italianos, mas em seguida minha avó materna me pediu de volta. Fui criado por ela e depois pelas minhas tias. Minha mãe morreu aos 29 anos, quando eu tinha 7”, afirma Gilson.

Nessa época ele já estava em São Paulo – veio com 5 anos – para morar com sete tias numa única casa em Paraisópolis. “Não tinha onde dormir, então, eu ficava embaixo duma mesa, na sala. Trabalhava numa feira perto do estádio do Morumbi, vendendo temperos e como carregador. Ainda arrumava tempo para catar bolinhas de tênis num clube da região. E tinha começado a freqüentar a escola. Sabia que minha única chance de vencer na vida era por meio dos estudos.”

Aos 11 anos, porém, teve que voltar a Itambé, por causa de uma decisão familiar. Era para morar com o avô, mas este faleceu apenas cinco dias após a sua chegada. De novo sob os cuidados de uma tia, tinha um único pensamento: sair de lá. “Não queria ficar de jeito nenhum, mas era pequeno, dependia dos outros. Foi então que decidi trabalhar para ver se juntava algum dinheiro. Ajudava na criação de porcos lá na casa de minha tia, vendia frutas na rua e cuidava de uma senhora. Mas não pense que parei de estudar. Ia para a escola à noite, queria provar que era capaz, que tinha condições de melhorar de vida.”

Dois anos depois, comprou um porco, engordou e vendeu. Com os R$ 60 da transação, comprou uma passagem para o Rio de Janeiro, onde ficou por seis meses na casa de uma prima. Foi quando voltou para São Paulo e para Paraisópolis, definitivamente. Estudando na escola pública Etelvina de Góes Marcucci, organizou o grêmio estudantil de lá e ainda fez uma espécie de rede de grêmios, ao agregar mais quatro, como uma associação de estudantes. Participou de atividades teatrais e do projeto aluno/monitor, na área da informática onde foi escolhido o melhor monitor entre todos.

Em 2003, pediu para o então presidente da UMP, José Rolim, a ceder um espaço físico na sede da União, para ministrar um curso de qualificação profissional voltado à comunidade, onde se aprendia técnicas administrativas, de manutenção de computadores e telemarketing. Foi atendido, e Rolim gostou tanto do que viu que convidou Gilson a ser seu vice-presidente na gestão seguinte, em 2005. Com a eleição de Rolim para vereador, virou presidente interino em 2007. Ano passado, foi eleito com 3.600 votos, de um total de 5.000 votantes, para continuar a frente da entidade.

“Criamos o Espaço Jovem, voltado à cultura, uma sala de informática, a Banca do Futuro, uma biblioteca infantil, cozinha comunitária, reformamos o prédio, e, principalmente, mudamos a cara da UMP. Antes ela existia apenas para pequenas tarefas, como auxílio no pagamento de contas, por exemplo. Não queremos isso, queremos mais”, diz Gilson. “Buscamos uma identificação maior com a comunidade, oferecer mais serviços. São mais de 1.000 pessoas por dia a circular em nossa sede. E queremos ajudar a vencer os principais desafios de Paraisópolis, que são a educação, moradia, trabalho e emprego. O Poder Público tem suas obrigações, vem atuando de forma decisiva na comunidade, principalmente nos últimos cinco anos e atuando em conjunto, podemos construir uma sociedade próspera, justa.”

Estudante de Administração no Mackenzie, mas pretendendo mudar para Direito, membro do Conselho Municipal e do Conselho Nacional de Juventude – este ligado à Presidência da República – Gilson acumula funções e tem uma rotina intensa. Mas sempre encontra tempo para a esposa Juliana, que conheceu na época do Etelvina e com quem está casado há cinco anos, e o filho Vinicius, de 4. “Quero dar melhores condições de desenvolvimento e muito mais oportunidades do que tive para que meu filho possa construir uma trajetória digna de vida.”