Sehab usa crédito de carbono em urbanização da favela Bamburral

Por Paulo Kehdi


Projeto do escritório Brasil Arquitetura: pensando a favela no contexto do bairro

Um projeto inédito no mundo está envolvendo as secretarias municipais da Habitação (Sehab) e do Verde e Meio Ambiente (SVMA), e encontra-se em fase final de elaboração. Pela primeira vez, recursos provenientes da venda de créditos de carbono serão utilizados para financiar obras de urbanização. A favela Bamburral, no distrito de Perus (zona noroeste), com aproximadamente 570 domicílios, será beneficiada com a iniciativa. Isso por ser vizinha ao aterro sanitário Bandeirante, um dos dois que possuem usina de biogás na cidade - o outro é o de São João, em São Mateus (zona leste).

As usinas fazem a extração e a queima do metano emitido pelos aterros e o transforma em energia elétrica para 700 mil habitantes. Esse processo de transformação possibilitou à Prefeitura vender os créditos de carbono por meio de leilões públicos, na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Já foram realizados dois leilões, totalizando R$ 71 milhões. Os recursos são depositados no Fundo Especial de Meio Ambiente (Fema) e destinados a projetos socioambientais nas regiões do entorno dos aterros, para compensar locais que por tantos anos sofreram o impacto da presença e do funcionamento de um aterro sanitário. Nesse contexto está a favela Bamburral.

“O tema ambiente está em pauta e é extremamente importante. Tanto que o Banco Mundial (Bird) está formando um grupo de trabalho específico para o tema, além de uma parceria como o C40, grupo de grandes metrópoles que assumiram compromissos com relação a mudanças climáticas. A Prefeitura está envolvida nesse processo”, explica Elisabete França, superintendente de Habitação Popular (Habi). “Com relação à Sehab, a intenção é que o modelo da Bamburral seja replicado para outras áreas. Aliar compromissos com o meio ambiente, sustentabilidade e urbanização é uma ótima ideia”, diz.

Para o local foi desenvolvido um projeto de urbanização pelo escritório Brasil Arquitetura, que prevê implantação de infraestrutura, canalização do córrego e a construção de 4 blocos lineares, que abrigarão 260 unidades (208 de 44 m² e 52 de 34 m²), para atender às famílias que serão removidas das áreas de risco. Além de espaços comunitários, creches e o Parque Linear Perus no entorno ao córrego, com áreas de lazer e esporte. A execução das obras está em fase de licitação por parte da Sehab.

O arquiteto Marcelo Ferraz está ansioso para ver a concretização de seu projeto. “Um processo de intervenção se faz necessário, já que as condições de habitação no Bamburral são precárias. Além disso, o local, geograficamente falando, é muito importante para Perus. Quando assumimos o trabalho sabíamos que eram precisas soluções definitivas, que ultrapassassem a comunidade e atingissem o bairro”, diz. “Concebemos um deck, acompanhando todo o córrego, que fará parte do Parque Linear e facilitará a locomoção local. Os edifícios são inteligentes, existe uma inversão de fachadas e usaremos alvenaria estrutural, que trará economia para as obras”, explica Ferraz.


Créditos de carbono

 

O mercado de crédito de carbono foi criado como uma medida que permite às indústrias e nações reduzirem seus índices de emissão de gases do efeito estufa por um sistema de compensação. Conforme o Protocolo de Kyoto (1997), as nações industrializadas devem reduzir suas emissões, durante o período de 2008 a 2012, em 5,2% em relação aos níveis de 1990. Quem não consegue atingir esse nível, compra créditos de quem contribui para o desenvolvimento sustentável e adiciona alguma vantagem ao ambiente. É nessa ponta que a Prefeitura de São Paulo se encontra, com a tecnologia desenvolvida nos aterros Bandeirante e São João. Com a captação do metano e sua transformação em energia, a cidade de São Paulo conseguiu reduzir em 20% sua emissão de Gases de Efeito Estufa, meta que está sendo projetada por grandes cidades europeias para 2020.