Arquitetas americanas abrem exposição na favela do Bamburral com obras dos moradores

Por Graco Braz Peixoto

Exercer a criatividade para documentar sua realidade e sobre ela refletir, quer pelo desenho, fotografia ou por atividades coletivas. Esta é a proposta do trabalho desenvolvido pelas arquitetas americanas Kristine Stiphany e Kirsten Larson com o Coletivo de Arte do Bamburral, um grupo de 20 crianças e jovens da Favela Bamburral, em Perus, zona norte da capital. Ao completar dois anos de trabalho neste mês de agosto, Kristine e Kirsten contaram com o apoio da Secretaria Municipal de Habitação (Sehab) e da Subprefeitura de Perus para abrir domingo (08), a partir das 13h, a exposição “Bamburral: em Visão”, com 500 trabalhos das crianças que integram o grupo, entre desenhos e fotografias. Montada na sede do Clube de Samba Valença, no centro de Perus, embaixo do viaduto Fiorelli Peccicacco, a exposição permanece em cartaz até 7 de setembro.

A criação do Coletivo de Arte do Bamburral está ligada à elaboração do projeto de urbanização do Bamburral, assentamento precário formado ao longo de um córrego, hoje com cerca de 650 famílias, para onde a Sehab levará infraestrutura urbana e de saneamento e unidades habitacionais.

Conhecida no meio da arquitetura por sua experiência como bolsista Fulbright (instituição americana dedicada ao fomento de pesquisas), no período 2008 – 2009, com a qual pesquisou formas e materiais utilizados pela população na construção de barracos, Kristine foi contratada pelo escritório Brasil Arquitetura para integrar a equipe na criação do projeto de urbanização.

Com as freqüentes visitas que fazia com os arquitetos à favela, Kristine foi fortalecendo o relacionamento com a comunidade a partir da amizade que fazia com as crianças, fato que desaguou em sua vocação social. Por iniciativa própria, passou a visitar o bairro aos sábados, onde conseguiu um espaço para dar aulas de desenho e fotografia. Kristine conta: “Depois a gente passou a fazer incursões pelos parques da cidade e outros lugares, onde as crianças gostavam de conhecer e registrar paisagens e obras. Depois a gente conversava, discutia diferenças etc.”

Kristine é graduada em Belas Artes pela Universidade Michigan, com pós-graduação em Arquitetura pela Universidade Texas. O acaso trouxe também a São Paulo sua parceira Kirsten Larson, igualmente bolsita Fulbright, formada na School of the Art Institute, de Chicago, onde estudou arquitetura, arte pública e arte educação.

“Nós nos conhecemos pelo meio dos bolsistas, a participação de Kirsten, por sua formação foi uma coisa natural”, comenta. Kristine e Kirsten acreditam que usar linguagens artísticas é também uma forma de pedagogia, com a qual as crianças podem formar um espírito crítico em relação ao seu meio ambiente, sua condição material e à própria comunidade.

Com essa visão, acham que um grupo comunitário pode ser um lugar deexploração e aprendizado, e a discussão sobre sua realidade pode modificar sua vida. Kristine enfatiza: “Com recursos mínimos e vontade em abundância, os trabalhos do Coletivo têm promovido uma transformação consistente do olhar sobre o meio ambiente, que deixa de ser visto como precário e passa a ser visto como produtivo e promissor. Isto também tem promovido maior coesão na comunidade”.

Por seu lado, baseada em sua experiência como artista e desenhista, Kirsten assina com sua parceira o texto de apresentação da exposição “Bamburral: em Visão”, onde consta: “Jovens e moradores têm um conhecimento inestimável sobre os bairros em que moram, e por isso devem ser participantes ativos dos projetos de arte pública e dos projetos de urbanismo”.

Nesta exposição, ao rever a trajetória do grupo por meio de fotos e desenhos, a comunidade se sente fortalecida. E o apoio externo contribui para legitimar a experiência.

Kristine Stiphany, depois do período Fulbright foi professora do Estúdio Tático da Escola da Cidade, conceituada faculdade de arquitetura. Atualmente é bolsista do programa de doutorado Sustainable Cities, na Universidade do Texas, em Austin. Kirsten Larson mora em São Paulo, e é aluna da pós-graduação na Escola da Cidade, onde estuda Habitação, tema responsável pela união desses arquitetos e criadores e instituições públicas.