Bienal de Veneza destaca projeto de urbanização do Cantinho do Céu

Por Graco Braz Peixoto

“Foi inesperado, levei um susto quando ele me telefonou”, conta o arquiteto Marcos Boldarini, de 36 anos, ao comentar a notícia de que seu projeto de urbanização para o Cantinho do Céu, comunidade localizada na margem da represa Billings, no Grajaú, zona sul de São Paulo, havia sido escolhido pelo arquiteto e curador Ricardo Ohtake para integrar o pavilhão brasileiro na Bienal de Arquitetura de Veneza, na Itália, cuja abertura aconteceu no domingo (29).A notícia foi motivo de satisfação também para os técnicos da Secretaria de Habitação, especialmente para aqueles responsáveis pelo Programa Mananciais, que têm a dupla tarefa de urbanizar favelas e implantar a infraestrutura necessária para preservar as águas das represas que abastecem a Capital.

Como ponte entre o Grajaú e a Bienal de Veneza, está a política habitacional da Sehab, que vem transformando favelas em bairros, nos quatro cantos da cidade. Trabalho complexo e de longo alcance social –uma vez que opera mudança expressiva na qualidade de vida das famílias—, as urbanizações têm se caracterizado por colocar em prática um novo conceito, onde as aglomerações informais deixam de ser vistas como anomalias indesejáveis e são integradas à cidade, dotadas de equipamentos urbanos, saneamento e conjuntos de apartamentos ou casas sobrepostas, com média de 50 m², dois dormitórios e dependências.

No caso do Cantinho do Céu, a frase de Boldarini deixa evidente esse novo olhar: “A ideia foi virar a comunidade para o reservatório e revelar a natureza a sua frente”. Em outras palavras, o objetivo é dar à população de baixa renda, também, o direito à beleza e usufruto dos bens públicos. Com essa visão, beleza, conforto e lazer também têm peso na equação para a solução do problema das favelas. Cerca de 1.500 famílias deverão ser removidas das áreas de risco e da margem, o que também vai liberar a paisagem e contribuir para a segurança sanitária da represa. O reassentamento delas será feito na mesma região.

Ocupada no início da década de 1980, hoje, o Cantinho do Céu abriga 9.789 famílias, em uma área de 1.543.761 m². Nesse espaço privilegiado, com vistas para o espelho d’água da represa, a Sehab já tem em estágio avançado de execução obras de drenagem, esgoto, implantação de guias e sarjetas, de pavimentação, obras de contenção em áreas de risco e de urbanização. Com orçamento na casa dos R$ 120 milhões, além dos itens citados o projeto conta com pista de skate, campo de futebol, praça, dois deques, espaço para capoeira e dança de rua, um deque flutuante, passarela de madeira e área para estacionamento. A conclusão das obras está prevista para 2012.