V Mostra Cultural agita escolas e entidades em Paraisópolis

Por Graco Braz Peixoto

"Em comunidades de favela não existem apenas coisas ruins, também existe arte e cultura", diz Karina Teixeira, 16 anos, cantora de hip hop, antes de subir ao palco da V Mostra Cultural de Paraisópolis para conquistar a participação do público com versos igualmente afirmativos de sua identidade, apoiados pelas batidas secas características do gênero musical que surgiu dos guetos das metrópoles americanas e ecoou para o mundo inteiro. O pequeno depoimento de Karina se repete, em outras palavras, nas várias entrevistas feitas com outros participantes ao longo de um dia inteiro de atividades artísticas e educativas da V Mostra Cultural, realizada no sábado (28), nas instalações CEU Paraisópolis.

Idealizada em 2006 por um grupo de gestores das escolas públicas do bairro, a cada ano a Mostra Cultural obtém maior envolvimento da comunidade. O evento tem-se mostrado importante instrumento para assegurar o acesso a bens culturais e fortalecer as relações entre as várias instituições sociais do bairro. Com o tema "Sonhos", este ano reuniu mais de vinte associações e mobilizou um leque variado e numeroso de professores, artistas da música, literatura, dança, pintura, educadores distribuídos por várias oficinas e palcos, onde eram feitas palestras e apresentações de jovens e adultos em atividades tão díspares quanto um concerto da Orquestra Sinfônica Eszterháza e uma apresentação de capoeira ou Kung Fu. Entre os trabalhos mais interessantes, estava o do Colégio Prof. Paulo Freire, que apresentou "A árvore das virtudes", da qual participaram pais e mães dos alunos. Feita de material reciclável, seus frutos eram garrafas pet onde no interior havia palavras como "amor", "paz" e "segurança".

A ampliação do universo cultural dos alunos, de maneira prazerosa, é um dos objetivos dos idealizadores. Paula Galasso, uma das três educadoras do Instituto Albert Einstein, que dá aulas de desenho e pintura às crianças, dá o tom de sua política educativa: "Em nossa escola não admitimos mais de três faltas! Como as vagas são muito procuradas pelos pais, temos de ser rígidos, pois há muitas outras crianças interessadas". É necessário ressaltar aqui um fato importante para o sucesso da iniciativa, pois ela vem na onda de uma série de transformações sociais e urbanas em que Paraisópolis é um exemplo, entre várias outras comunidades. A construção do CEU Paraisópolis, e, em especial, as obras de urbanização que transformarão Paraisópolis em um bairro são reflexo do diálogo entre a comunidade e as ações do poder público: "Esse é nosso primeiro passo na comunidade, queremos ajudar, participar e entender mais esse público para poder atender suas necessidades", comenta Tomas Carmosa, 36 anos, gerente da empresa Serasa Experian, que julgou oportuno ser um dos patrocinadores da Mostra.

Alguns exemplos dos nomes das apresentações que foram feitas na V Mostra Cultural dão idéia do cunho social da festa educativa e explica seu título: "O mundo que eu tenho e o mundo que eu posso transformar" (E.E. Gov. Miguel Arraes); "Sonhos / Profissões" (Casa da Amizade); "A minha história em Paraisópolis: conhecendo o sonho dos meus pais" (Educação Cidadã); "Transformando pequenas ações em grandes resultados" (Mosteiro São Geraldo e CCT Paraisópolis). "A cada ano estamos nos superando, estamos percebendo que a ação tem efeito tanto para os alunos quanto para os pais. Se fizermos um gráfico do crescimento da colaboração das famílias e associações veremos que estamos atingindo nossos objetivos", resume Marlene Oliveira Santos, coordenadora pedagógica do Mosteiro São Geraldo, outro patrocinador, ao lado do Instituto Albert Einstein e do Espaço Esportivo e Cultural BM&F Bovespa.