Regularização fundiária da Fazenda da Juta é uma conquista marcante, após décadas de luta

O bairro, agora formal, possui oficialmente 11 áreas verdes, totalizando 12.802,45 m² e 1 área institucional de 2.269,10 m²

Um evento com a presença do prefeito Fernando Haddad, no sábado, 18/06, marcou a comemoração da regularização fundiária da Fazenda da Juta, em Sapopemba, Zona Leste de São Paulo. O loteamento ocupa 516.136,97m², sendo composto por 100 quadras, divididas em 3318 lotes, ocupados por aproximadamente 5000 famílias. O bairro, agora formal, possui oficialmente 11 áreas verdes, totalizando 12.802,45 m² e 1 área institucional de 2.269,10 m².
Para registrar a importância dessa regularização e toda história que a viabilizou, publicamos a seguir um depoimento do advogado Miguel Reis Afonso, atual diretor de Patrimônio da Cohab-SP, que participou desde os primeiros momentos da transformação desse território num espaço de viver.

Depoimento de Miguel Reis Afonso

O ano é de 1983. No ano anterior ocorreram eleições gerais no Brasil, começava o fim do governo militar. No ano anterior, também, com o melhor time depois de 1970, a seleção perdeu a Copa do Mundo de futebol na Espanha. Nesse ano, o movimento de moradia começou a organizar-se na região de São Mateus, na Leste I, como denominava o pessoal das comunidades da Igreja Católica. Eu estava em meu primeiro ano de formado, mas já trabalhava com a defesa do direito de moradia desde 1978 na Igreja de São Mateus.
Foi nesse ano, que a pedido do Padre João Pedro, que conheci a então iniciante ocupação da Fazenda da Juta. Na verdade, o antigo caseiro do proprietário alugava os terrenos para os moradores que – enganados porque pensavam que estavam comprando o lote – sofriam com ações de despejo.

Não foi fácil aquele começo, muitas ações de despejo, tratores derrubando casas, famílias sem amparo; mas muita vontade de lutar pelo direito à moradia. E a região de Sapopemba era quase que uma periferia de São Mateus, divisa com Santo André, uma grande extensão de terra. Não é difícil de lembrar dos pioneiros: Jorge, Jaime, Francisco, Zezinho, Genilsa, Cida, Morais e tantos outros que durante anos lutaram não somente por suas moradias, mas sobretudo pelo direito à moradia com dignidade.

Depois de vencida a etapa dos despejos, vieram as lutas por infraestrutura, pela retomada da Casa da Fazenda, que recebeu investimentos para ser sede da Associação como também um equipamento de qualidade na Saúde.

Mas faltava a regularização fundiária! A regularização dos lotes foi um longo processo que contou com a força dos moradores – agora distribuídos em várias associações – com o apoio decisivo das igrejas que ali se instalaram; com a pressão sobre os proprietários; com o esforço de vários funcionários da Prefeitura; com a dedicação do Jamesson e do Amandio; e é claro, somente poderia ter acontecido num governo que estivesse ao lado do povo.
Hoje a região se fortaleceu. Aquela grande vastidão de terras abriga inúmeros equipamentos públicos, milhares de famílias morando em diversos conjuntos habitacionais e uma infraestrutura importante que torna o bairro uma referência para a cidade, e de uma importância real pela luta dos seus moradores.

A regularização dos lotes com o registro do loteamento no Cartório de Imóveis de 3318 lotes é muito mais que um papel. É a representação de que a luta por moradia tem mais uma vitória e na conquista do direito do povo trabalhador. Quero agradecer a todos pela oportunidade de participar desta luta de tantos anos, agora concretizada. E em especial o grande inspirador de todos nós, Dom Luciano Mendes de Almeida.

 

Confira a fala do Secretário Municipal de Habitação João Whitaker durante o evento realizado na Fazenda da Juta no sábado, 18/06: https://goo.gl/8MFF0J

Filme histórico mostra caminhada pela moradia na Fazenda da Juta, em 1985: https://goo.gl/9aE3vF


Fotos de: Mariana Belmont, Rosane Tierno e Cyntia Fugi.