Apoio e integração com o entorno são decisivos na habitação social, afirmam especialistas estrangeiros

Por Débora Yuri

A necessidade de oferecer suporte social à população beneficiada com moradias populares e de planejar o entorno desses empreendimentos foi discutida hoje por especialistas estrangeiros no 1º Congresso Internacional de Habitação e Desenvolvimento Urbano, realizado no Anhembi, em São Paulo.

O inglês Dan Read, gerente de desenvolvimento do Grupo East Thames, que constrói e gerencia empreendimentos de interesse social no Reino Unido, explicou que a associação tem programas segmentados para diferentes perfis de residentes: jovens, jovens pais, ex-presidiários, idosos, pessoas com doenças e problemas mentais.

“Nós cometemos um erro nos anos 1960, 1970, 1980 e 1990: só construímos as casas, e deixamos as pessoas se virarem”, disse ele no painel “Administração Condominial e Social: A Experiência Internacional”. “Hoje, sabemos que é preciso educar os residentes, oferecer a eles oportunidades e fornecer sustentabilidade para a comunidade.”

Em um dos programas do East Thames, jovens que enfrentam problemas com drogas e famílias desestruturadas recebem, além de locação social, aulas de culinária, ioga, salsa, tênis de mesa. Atualmente, são cerca de 600 atendidos, com idades entre 16 e 24 anos, que recebem moradia gratuita durante até dois anos. Segundo Read, 50% deles consegue entrar na faculdade e 64%, ingressar no mercado de trabalho. “Isso significa que, a cada quatro jovens que entram no nosso programa, três terão sucesso na vida.”

Empreendimentos de interesse social precisam ser construídos e mantidos adequadamente para gerarem comunidades que funcionam e sejam sustentáveis, afirmou Read. “Se você não fornecer esse apoio, o esquema não vai funcionar muito bem. Quando você respeita esses moradores, eles respeitam a propriedade e você.”

Na palestra do norte-americano Willie Jones, vice-presidente do Community Builders, a habitação de rendas mistas foi destaque. “Não se trata de uma ciência lógica porque nem todos são bons candidatos a inquilinos num projeto de renda mista”, disse, citando a primeira geração de imigrantes como um perfil problemático de candidato.

“Eles têm um estilo de vida muito enraizado”, explicou. “Para esses projetos, miramos, na classe média-alta, classe média e na baixa renda, indivíduos que estejam acostumados a usar o metrô, a ouvir sirenes de polícia nas ruas, que não tenham medo da integração e da convivência numa comunidade urbana.”

Nos Estados Unidos, projetos de rendas mistas existem desde os anos 1990, como o Hope VI, e hoje são comuns na principal cidade do país, Nova York. Para Jones, uma política habitacional não pode atender apenas os pobres e os muito pobres. “E você não pode diminuir o padrão: nós não fazemos unidades de alto ou de baixo padrão. A qualidade é sempre a mesma, e as pessoas só vão fazer sacrifícios para viver num lugar se este lugar for bacana”, disse.

A integração dos empreendimentos com as adjacências é outro pilar de uma política habitacional bem-sucedida, afirmou o americano, lembrando que é preciso redesenhar todo o espaço e melhorar também o nível dessa vizinhança. “Essas pessoas dormem nas casas, mas vivem nas adjacências – fazem compras, vão à escola, procuram diversão”, observou. “Tem de integrar o local a creches, escolas, áreas de lazer para o pós-escola e pensar no trânsito, no transporte público, na coleta do lixo.”