Com festa na Represa Billings, Cantinho do Céu recebe a Jornada da Habitação

Por Débora Yuri

Quem ironiza São Paulo, lembrando que a capital paulista padece sem praias, não viu a festa no Cantinho do Céu, no Grajaú (Zona Sul), no dia 24 de março. A comunidade recebeu a terceira etapa da Jornada da Habitação, promovida pela Secretaria Municipal de Habitação (Sehab), com curadoria do arquiteto italiano Stefano Boeri. O Parque Linear, na orla da Represa Billings, concentrou as atividades de lazer que divertiram moradores e visitantes.

Com saídas do deque flutuante, a ONG Vento em Popa realizou passeios pela represa com barcos à vela, enquanto a Empresa Metropolitana de Águas e Energias (Emae) ofereceu embarcações motorizadas. Sob sol de mais de 30 ºC, crianças e jovens faziam fila, comendo pipoca e algodão-doce, aguardando a sua vez. Oficinas de skate, shows de grupos musicais, torneio de futebol e apresentações de futevôlei, beach soccer e beach tennis na quadra de areia também fizeram sucesso entre o público.

O evento contou com a presença do secretário municipal de Habitação, Ricardo Pereira Leite, da superintendente de Habitação Popular, Elisabete França, do secretário municipal do Verde e Meio Ambiente, Eduardo Jorge, e do cônsul da Colômbia em São Paulo, Ramiro Navia Díaz, além de lideranças da região e estudantes e professores da Universidade Mackenzie e da Escola da Cidade.

Durante a Jornada, seis cidades estrangeiras trocam experiências com seis projetos desenvolvidos em São Paulo pela Prefeitura – o Cantinho do Céu, que inclui o Jardim Gaivotas e o Residencial dos Lagos, dialogou com Medellín, segundo maior município colombiano. Com os intercâmbios, o objetivo, segundo Ricardo Pereira Leite, é “aprender um pouco mais, para podermos ajudar mais famílias da cidade que não foram beneficiadas como as daqui”.

A valorização do espaço público foi um dos focos da etapa. Para Elisabete França, os estudantes de urbanismo precisam adotar regiões carentes da cidade como prioridade. “Aqui é diferente dos condomínios fechados, dos shoppings. As pessoas não têm medo de andar nas ruas, de conversar com os vizinhos. É onde se realiza essa vida social de que o Brasil precisa.”



Ela também elogiou o projeto do arquiteto Marcos Boldarini, prestigiado no mundo inteiro: “Eu acho que esse projeto do Cantinho do Céu, para quem estuda arquitetura, é o mais bonito e competente que o Brasil tem hoje em termos de urbanismo”. Eduardo Jorge completou: “Esse é um trabalho lindo de urbanização, regularização fundiária, saneamento e implantação de parque linear”.

Liderança comunitária do Residencial dos Lagos e uma das mais antigas moradoras da área, Vera Lúcia Basalia lembrou a longa luta pela urbanização do bairro. “Vocês não sabem a emoção que eu sinto hoje, podendo desfrutar de tudo isso”, disse. Já Emilia dos Santos Vieira, liderança do Jardim Gaivotas, agradeceu a todos que olharam “para essas comunidades do fundão do Grajaú”.

Em palestras e debates, arquitetos brasileiros e estrangeiros falaram sobre projetos de intervenção em regiões carentes e conflituosas. “Precisamos compreender a cidade como um todo, e não mais dividi-la em formal e informal”, afirmou Marcos Boldarini. “Afinal, todos os seus moradores vivem na mesma cidade.”

Nascido na Guatemala, o arquiteto Teddy Cruz, que desenvolve projetos na fronteira do México (Tijuana) com os EUA (San Diego), explicou que o urbanismo vive hoje novos paradigmas: “A cidadania é um ato que altera a paisagem”. Já o secretário de Planejamento de Medellín, José Maria Peninõ, e o arquiteto colombiano Giancarlo Mazzanti detalharam o projeto de intervenções que mudou a cara de Santo Domingo, uma das regiões mais violentas e precárias da cidade. Ele foi baseado na implantação de sistema de transporte de massa – os teleféricos, já que a área é definida por uma encosta – e de espaços públicos, como biblioteca, quadras esportivas e parque linear.

Depois dos debates urbanísticos, o píer do Cantinho do Céu lotou. Ali, moradores vendiam artesanato, bebidas e comidas, e o público almoçava no deque, curtindo a vista para a represa e os passeios de barco das crianças. Em frente às barracas de pastel de feira, coxinha, baião de dois e hot-dog com batata palha, a de petiscos colombianos chamava a atenção, oferecendo chips de banana, mandioca e empanadas de carne com batata ao molho guacamole.

Confira, abaixo, o que rolou no evento.