Saúde alerta para os sintomas da hanseníase

Manchas incomuns na pele são sinais de alerta e devem ser investigadas. Procure uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e faça uma avaliação médica.

A hanseníase tem cura. Condições precárias de vida (pobreza, desnutrição, ambientes com pouca ventilação e muitas pessoas) estão entre as causas de transmissão. Na última semana de janeiro, a cidade de São Paulo se mobilizou para o enfrentamento dessa doença crônica, transmissível, de notificação compulsória e investigação obrigatória em todo território nacional.

A campanha nacional do Ministério da Saúde, que oficializou o mês de janeiro e a cor roxa para disseminar informações sobre a doença, prevê atividades educativas em todo o Brasil. A capital paulista contou com ações em todas as regiões, por meio das Coordenadorias Regionais da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).

“A hanseníase é causada pelo Mycobacterium leprae, bacilo que acomete principalmente a pele e os nervos periféricos e tem predileção pelas áreas mais frias do corpo. A doença começa com manchas esbranquiçadas, uma coloração um pouco mais clara que o tom da pele, o que provoca a perda da sensibilidade e do tato (o paciente não sente a diferença entre frio ou quente, não sente dor no local da mancha ou mesmo pode passar a mão na lesão e não sentir). Essa é a fase inicial, a hanseníase indeterminada”, explicou a dermatologista do Programa Municipal de Hanseníase da Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa), Livia de Andrade Bessa.

A doença, segundo a médica, é dividida em três formas: tuberculoide, dimorfa e virchowiana, que vão depender da imunidade da pessoa. “Na forma tuberculóide, a imunidade é boa, a doença é mais localizada, com uma lesão mais avermelhada, com relevo e perda de sensibilidade, em tamanhos variados e em qualquer lugar do corpo”, disse a dermatologista.

Quando o paciente não tem uma boa imunidade, ele pode evoluir para a forma dimorfa. “É a forma mais espalhada da doença, com mais lesões e já acometendo os nervos periféricos, com sintomas de formigamento, dormência nos pés e nas mãos”, esclareceu Livia.

Já na hanseníase virchowiana, o paciente raramente tem lesões específicas. “Ele tem, na verdade, uma infiltração na pele como um todo. A pele fica um pouco mais avermelhada, com poros dilatados, normalmente poupando as costas que são regiões mais quentes”, ressaltou a especialista.

Nos casos mais avançados da doença, os pacientes podem ter sequelas que vão depender do tempo em que ficaram sem tratamento. “Com a perda da sensibilidade, eles ficam mais predispostos às queimaduras e, com o tempo, perdem a força muscular e os movimentos, o que vai interferir, diretamente, tanto nas atividades cotidianas quanto nas atividades laborais”, alertou a médica. “O diagnóstico precoce, na fase indeterminada da doença, em que o paciente só tem as manchas esbranquiçadas, sem ainda as alterações neurais, não vai ter nenhuma sequela”, disse Livia.

Tratamento

No município de São Paulo, todas as UBS avaliam e, na suspeição da hanseníase, o paciente é encaminhado para uma das 28 unidades de referência. Feito o diagnóstico, se o paciente apresentar as formas indeterminada ou tuberculóide, paucibacilares (com poucos bacilos), ele vai à unidade, toma um medicamento (dose supervisionada) e leva uma cartela com 28 comprimidos, que ele toma um por dia. Esse tratamento dura seis meses, segundo a médica.

Na forma virchowiana (multibacilares) a doença é transmissível e o tratamento tem que ser mais prolongado, com três medicamentos, em 12 meses. “O paciente também vai mensalmente à unidade, toma a medicação supervisionada, retira mais dois e vai tomando. Assim que inicia o tratamento, a hanseníase não é mais transmissível”, esclareceu.

Transmissão

A transmissão da hanseníase é pelas vias aéreas. A médica, porém, explicou que não é em um contato eventual (um abraço, um aperto de mão, compartilhamento de copos ou talheres) que se pega a doença. “Você tem que ter um convívio com o paciente sem tratamento e que seja multibacilar. Essa pessoa só transmite para quem convivem com ela, por muito tempo. Por isso, a partir do diagnóstico da hanseníase, a família e até os contatos sociais do pacientes são convocados, para passarem por uma avaliação, porque têm possibilidades de estar doentes”, reiterou.

Vacinação

Não existe vacina contra a hanseníase. A partir do diagnóstico do paciente com a doença, faz-se o exame dos principais contatos e, se não tiverem nenhum sintoma, eles serão encaminhados para tomarem a vacina BCG, que não é específica, mas tem certa proteção contra a patologia. “Não significa que, tomando a vacina, os contatos estejam imunes à hanseníase, a proteção é parcial. O Ministério da Saúde orienta que eles sejam examinados, anualmente, por cinco anos, porque a doença demora a aparecer”, advertiu.

A médica lembra que 90% da população tem uma imunidade natural contra a hanseníase. “Mesmo em contato com o bacilo, a pessoa não vai ficar doente, o que é muito bom”, comemorou.

O diagnóstico da hanseníase, contudo, não é tão fácil. O importante é que a pessoa procure uma UBS para ser avaliada e encaminhada para uma unidade de referência, onde será confirmado e iniciado o tratamento, o mais rápido possível, a fim de evitar as sequelas.

A hanseníase tem cura e o tratamento, gratuito, está disponível em todas as unidades da cidade de São Paulo. “As UBS vão suspeitar e encaminhar para as unidades de referência, que vão tratar a doença”, ressaltou a especialista.

Janeiro Roxo – Semana H

Para finalizar a campanha Janeiro Roxo, de prevenção, conscientização e combate à hanseníase, a semana de 27 a 31 de janeiro foi escolhida como Semana H, na cidade de São Paulo. A ideia é incentivar o diagnóstico por meio da informação sobre os sintomas visíveis, para que se procure a unidade de saúde mais próxima.

A hanseníase coloca o Brasil, com 26.875 casos notificados em 2017, em segundo lugar na classificação mundial de incidência, perdendo apenas para a Índia, com 126.164 casos notificados no mesmo ano.

Informando a população na capital paulista, a Secretaria Municipal da Saúde pretende avançar na intensificação de busca ativa de doentes, com o tratamento oportuno e interrupção da cadeia de transmissão da hanseníase.

De Secretaria Especial de Comunicação