Escolhas alimentares, saúde e comunicação

Alimentação e Comunicação Não-Violenta, o que uma coisa tem a ver com a outra? Especialista na área, Marina De Martino deu uma aula sobre o assunto na última terça-feira, dia 11/06/2024, na UMAPAZ.

O curso Escolhas Alimentares, Saúde e Meio Ambiente teve a segunda aula dedicada a explorar a alimentação pela perspectiva da Comunicação Não-Violenta. No dia 11/06, na Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz (UMAPAZ), Marina de Martino lecionou sobre os princípios de compaixão e empatia aplicados à alimentação e como se dá a relação disto com as escolhas alimentares em geral.

Numa rodada de apresentações dos participantes, as expectativas em relação ao curso ficaram claras, quase todos pretendiam “ter uma alimentação mais saudável e fazer escolhas mais sustentáveis”, o que retoma o tema principal da matéria. Na perspectiva da Comunicação Não-violenta (CNV), como pensar a nossa relação com a alimentação?

Em primeiro lugar, Marina apresentou o conceito de necessidades humanas universais, ou seja, tudo aquilo que sustenta a saúde física e psíquica do ser humano: água, ar, alimento, comunicação, abrigo, proteção, higiene, socialização, movimento, descanso, conhecimento, sol e afeto, foram as necessidades mencionadas.

 

Em seguida, Marina perguntou quais estratégias (ou soluções) os seres humanos criaram para atender a essas necessidades (em especial, à necessidade de alimentação). Para fins didáticos, a professora passou a fazer perguntas caricatas para desenvolver o raciocínio. “Quais estratégias alimentares os diferentes povos/países adotaram para atender à necessidade de alimentação?”.

Os brasileiros, por exemplo, teriam adotado uma alimentação em que predomina o arroz e feijão, os japoneses, peixe e arroz, os italianos, massas e os indianos, uma alimentação apimentada e vegetariana, assim por diante.

Marina ressaltou que grande parte dos conflitos acontecem no campo das estratégias/soluções, pois é um campo subjetivo, de preferências dos indivíduos, e muitas vezes o apego a uma estratégia específica impede que outras possibilidades sejam consideradas. Ela trouxe um exemplo muito simples deste tipo de conflito, quando duas pessoas querem fazer algo juntas e escolhem sair para comer, mas cada uma quer ir a um tipo de restaurante diferente.

Então, perguntou, “Do que, além da necessidade de alimentação, essas duas pessoas estariam querendo cuidar? Da necessidade de afeto, socialização, diversão...? Qual outra estratégia poderia ser utilizada para isso? Ir ao cinema, sair para uma praça?”.

Quando se olha para as necessidades que estão em jogo, consegue-se mais fluidez para transformar os conflitos. Assim, passou para o campo dos sentimentos:

Se as necessidades são os fatores que sustentam a saúde física e psíquica do indivíduo, os sentimentos seriam os mecanismos do organismo para avisar se essas necessidades estão sendo atendidas ou não. Ou seja, respostas fisiológicas agradáveis, como as sensações, ou os sentimentos, de relaxamento, felicidade, prazer, amor, gratidão e entusiasmo, indicam que as necessidades do organismo estão sustentadas. Enquanto sentimentos desagradáveis, como tristeza, ansiedade, medo, angústia, vergonha, culpa, ciúme, inveja, rancor, saudade e nojo, indicam o oposto.

Por exemplo, caso a necessidade humana de socialização não esteja atendida, o indivíduo poderá sentir tristeza, medo ou frustração. Essa reflexão seguiu para uma sugestão de análise mais profunda:

“Quais sentimentos estão presentes quando você pensa na sua alimentação hoje? Prazer, alegria, saudade, culpa, medo...? Eles são predominantemente agradáveis ou desagradáveis?”.? Houve um tempo para reflexão.

Logo depois, Marina apontou que “a alimentação, além de necessidade, pode ser também estratégia para atender outras necessidades humanas, como pertencimento, descoberta, socialização e diversão”. Há muitos motivos diferentes que levam ao ato de comer. Não há certo ou errado, o que se deve questionar é, “por que eu faço essas escolhas?”.?

A turma passou a elaborar esse tema praticando um exercício sobre a “linha da vida”, com foco em suas memórias alimentares, desde as lembranças mais remotas até os dias atuais, observando quais sentimentos e necessidades estavam presentes em cada episódio marcante e considerando como essas memórias ainda podem influenciar certas escolhas alimentares no presente. Posteriormente, os participantes compartilharam as suas lembranças e reflexões com os colegas em pequenos grupos.

Ainda explorando os hábitos alimentares, Marina comentou sobre 9 tipos diferentes de fome: 1. Visual (pela beleza, pelas cores e formas do alimento), 2. Auditiva (pelo barulho do alimento), 3. Olfativa (pelo cheiro do alimento), 4. Paladar (pelo sabor), 5. Do tato (pela textura), 6. Estomacal (pelo vazio do estômago), 7. Corporal (pela nutrição do organismo), 8. Mental (pela orientação da dieta) e 9. Emocional (para regular emoções).

Por fim, encerrou a aula com um último exercício sobre “mentalidade de dieta”, retirada do livro “Comer Intuitivo”, de Elyse Resch. O teste foi um exercício para a reflexão da relação com a comida e a dieta. O intuito foi analisar o resultado para entender o quanto a mente de cada um estaria controlando ou não a sua relação com a alimentação.

“A sua mentalidade de dieta é rígida demais? É sempre um terceiro que vai dizer aquilo que você deve ou não comer?”. Segundo Marina e a autora do livro, quanto mais a mente tenta controlar o que comer de forma rígida, mais a pessoa fica desconectada dos demais sinais corporais que também regulam a fome e o interesse por certos alimentos. A título de exemplo, quando a pessoa se proíbe de comer chocolate, pode ser que o desejo por este alimento aumente, até que ela coma muito mais do que em uma situação em que se permitisse saboreá-lo com equilíbrio.

Enfim, a aula aplicou os princípios da CNV à alimentação, para promover uma relação mais saudável e compassiva não apenas com a comida, mas também consigo mesmo e com os outros. Os participantes gostaram muito da aula e traduziram isso na rodada final de conversa. Sentiram-se encorajados à autoaceitação, empatia e conexão com as próprias necessidades e estratégias alimentares.