Cães – Guias: O melhor amigo do homem também enxerga por ele

Os cães-guias têm a função de oferecer a pessoa com deficiência visual segurança na locomoção, melhora do equilíbrio emocional e a socialização

O melhor amigo do homem pode ir além dos simples truques de sentar, pular, rolar e dar a pata. Ele pode ser os nossos olhos. Os cães-guias têm a função de oferecer a pessoa com deficiência visual segurança na locomoção, melhora do equilíbrio emocional e a socialização.
Somente na cidade de São Paulo, cerca de 340 mil pessoas declararam ter baixa visão ou serem cegos, porém o número de cães-guias no país ainda é muito baixo; menos de 30 estão formados.
A cultura do cão-guia no Brasil ainda é muito recente, chegou por volta dos anos 90 e, por este motivo, poucos locais oferecem cães e cursos de formação de profissionais treinadores. A formação de um cão-guia é lenta, leva em média dois anos, requer cuidados especiais e só pode ser feita por profissionais especializados. O treinamento do cachorro passa por quatro etapas até o acompanhamento definitivo.

Fases da formação do cão-guia

A primeira etapa do processo de formação do cão-guia é a seleção do cachorro. Nesta fase é observado o temperamento e a personalidade do animal. Atualmente, as raças mais utilizadas para este tipo de treinamento são Golden Retraiver e Labrador, pois preenchem todos os requisitos necessários para se adaptaram facilmente a mudanças de ambiente. Cães de outras raças também podem ser utilizados, mas necessitam de um treinamento específico e paciente.
A segunda etapa é o acolhimento familiar. Depois de selecionado, o cão, ainda filhote, é deixado com uma família que irá socializá-lo, ou seja, levar o cachorro a todos os locais onde uma pessoa com deficiência visual possa freqüentar como shoppings, ônibus, metrô, parques, escritórios, entre outros. Esta etapa dura por volta de um ano a um ano e três meses.
A família acolhedora pode ter qualquer perfil: casais com filhos ou sem, solteiros, com muitos integrantes, entre outros; mas necessitam ter muita vontade de cuidar e socializar um cãozinho.
“Queremos cães socializados, que já tenham ido ao mercado, ao metrô, ao shopping. Todos os lugares que algum cego pode frequentar”, diz Moisés Vieira Junior, treinador de cão-guia.
Essas famílias são acompanhadas periodicamente e aprendem a manter a saúde do cachorro, cuidando da higiene, escovando o pelo, etc.
Para se tornar uma família acolhedora basta se inscrever em projetos como o do SESI – “Projeto Cão-Guia”, e outros que necessitam de famílias voluntárias.

Após o período de socialização, o cão entra na fase de treinamento. Nesta etapa, profissionais especializados o ensinam comandos necessários para que o cachorro consiga guiar um cego, como desviar de obstáculos, identificar degraus, parar nas guias, entre outros. Durante este aprendizado, período que dura aproximadamente três meses, o cão deve seguir um plano todos os dias, para que se acostume com as dificuldades e se mantenha focado: “O sobrenome do cão-guia é rotina”- afirma George Thomáz Harrison, treinador de cão-guia há 17 anos. Algo interessante nesta fase é que o cão não é treinado para não fazer suas necessidades ou para beber água durante o trajeto. Ele é educado para fazer isso apenas quando chegar ao destino. “Pode acontecer imprevistos, mas o cachorro bem treinado sabe a hora certa para tudo”, comenta o treinador Harrison.
Um cão-guia relaciona o cheiro do local com o comando e, conforme os passeios, decora o trajeto. “Por exemplo, se você levar o cachorro para a farmácia ele saberá como é o cheiro e logo decora o trajeto. Assim, se você der o comando “farmácia” ao cão, ele guiará automaticamente ao local”, explica Moisés.
Enquanto o animal está na fase de treinamento, inicia-se outra etapa simultaneamente, a escolha do seu futuro companheiro. A união cão-guia e cego é praticamente um casamento arranjado. “Encaminhamos o cachorro com a personalidade mais próxima do futuro parceiro. Se a pessoa com deficiência visual é agitada, caminha mais rápido, sabemos que será preciso um cão com as mesmas características”, diz Moises. Por isso, é feita uma entrevista com cada interessado para definir um perfil específico, e assim, encaminhar o cão com a mesma personalidade. Depois da etapa do treinamento, o cão-guia passa pelo período de adaptação com o seu novo dono. Nesta fase, o cão e o cego passam por treinamentos para alinhar o seu ritmo e a convivência.
Após a adaptação, os novos companheiros seguem sozinhos, porém, é feito o acompanhamento anual com o treinador caso haja algo errado.

Cuidado com os cães

Os treinadores Moisés e George falaram que os cuidados com os cães-guias não são nada fora do comum. A alimentação é Premium, ração especifica para raça, tamanho e idade.
Tanto as famílias acolhedoras quando as pessoas com deficiência visual recebem dicas de como cuidar dos cães. Cuidados de higiene básica, como dar banho, escovar os pêlos, são algumas das recomendações.
Além disso, é necessário fazer um check-up no veterinário a cada seis meses e também verificar diariamente se o cão apresenta algum machucado, coceira, entre outros sintomas.
Apesar de muitas pessoas saberem as regras básicas de convivência com um cão-guia, como não brincar e mexer no animal enquanto estão guiando, ainda ocorre este tipo de situação. Por isso, é importante as pessoas se conscientizarem que os animais são parte do corpo do cego e estão trabalhando, e não a passeio.

Como se tornar um Treinador de cão-guia?

Existe um curso especifico para o treinamento do cão-guia, com aulas teóricas e práticas. Os que mais procuram o curso são adestradores, pois já possuem uma habilidade maior com cães.
Existe uma grande diferença entre adestrador e treinador de cão-guia. O adestrador é o profissional responsável por ensinar habilidades aos cachorros como sentar, deitar, rolar e fazer peripécias; enquanto o treinador de cão-guia trabalha com toda a interação entre a pessoa com deficiência e o animal, formando assim uma verdadeira dupla.
No Brasil existem poucos lugares que treinam pessoas para essa finalidade. A falta de doações e recursos são os fatores que impedem a evolução deste trabalho.

Quais equipamentos o cão-guia deve utilizar?

Para circular com um cão-guia, é necessário levar a carteira de identificação e coleira de identificação, carteira de vacinação atualizada, equipamento do animal, composto por coleira, guia e arreio com alça. O cão, em fase de socialização e treinamento, deverá ser identificado por uma plaqueta, com a inscrição “cão-guia em treinamento”. “Fora todos os equipamentos, a cópia da Lei nº 12.492 de 10 de outubro de 1997, que assegura o ingresso de cães-guias para deficientes visuais em locais de uso público ou privado, é bem necessária, pois as pessoas dificultam muito nosso trabalho quando recusam nossa entrada em algum local”, desabafa o treinador Moises.