Nas comemorações do aniversário de São Paulo, pessoas de todas as idades brincam juntas em atividades inclusivas

Pessoas de todas as idades, com e sem deficiência, participaram e se divertiram juntas em atividades lúdicas inclusivas, preparadas especialmente para o aniversário de São Paulo em pontos turísticos da cidade

Abrindo as comemorações pelos 462 anos da cidade de São Paulo, pessoas de todas as idades, com e sem deficiência, participaram e se divertiram juntas em atividades lúdicas inclusivas, preparadas especialmente para ensinar técnicas e propor a reflexão sobre o ato de brincar como fator essencial para o desenvolvimento das crianças. Três pontos turísticos da capital paulistana, o terraço do Edifício Martinelli, o Estádio do Pacaembu e o Mercado Municipal, foram escolhidos como cenários para receberem, no dia 23 de janeiro, oficinas sobre o Brincar Inclusivo, que abordaram temas como contação de histórias, artes plásticas, corpo e movimento, e artes com materiais naturais.

“As crianças aprendem brincando. É importante para o desenvolvimento emocional e do aprendizado. Ainda é muito comum ver crianças com deficiência de fora das brincadeiras com as demais, por isso, construímos estas oficinas que capacitam pais, educadores, pessoas da comunidade e demais interessados a criarem mecanismos para que todas as crianças tenham o direito de brincar na nossa cidade”, disse a secretária municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, Marianne Pinotti, que acompanhou as duas oficinas no terraço do Edifício Martinelli.

A consultora em educação inclusiva Raquel Paganelli, responsável por ministrar as atividades no Martinelli, explicou que alguns dos participantes se voluntariaram para usarem vendas e outros se expressarem apenas por sinais.  Desta forma, os demais membros do grupo precisaram pensar na acessibilidade ao se comunicarem. “São grupos bem heterogêneos, a começar pelas idades. Nós temos crianças bem pequenas, pessoas adultas, então é muito interessante porque não é um exercício muito fácil, algumas pessoas tendem a dominar a atividade e tem sido bem interessante. As pessoas estão realmente se policiando para que todos participem e todos tenham vez e voz”, comentou.

Umas das participantes mais atuantes nas atividades foi Sonia Bonas, que levou a sua filha Juliana Maria para vivenciar esta inclusão. “Este evento foi muito rico em experiência de como lidar com as diferenças, vendo as dificuldades e suprimindo elas realmente no contato”, relatou.

Já no Estádio do Pacaembu, batuques, coreografias e músicas envolveram os participantes da oficina “Movimento e o Corpo como Recurso”, que reuniu 20 pessoas entre crianças, jovens e adultos com e sem deficiência para estimular o reconhecimento e o potencial do corpo e do espaço.

Neiva Solange Augusta acordou cinco horas da manhã para chegar a tempo no Pacaembu. Ela, moradora de Guaianases, não queria que seu filho Victor, de 8 anos, com Síndrome de Down, perdesse nada. “Ele adora atividades com grandes movimentos, principalmente em grupo, achei esta oficina perfeita, estimula a inclusão de todos”, conta sorridente registrando todos os momentos do filho.

Entre as brincadeiras como batalha de batuques com as mãos, estátua viva e a vivência de como ser uma pessoa com deficiência visual, todos os integrantes conseguiram entender o que todos podem brincar juntos, independente das diferenças. “É uma grande troca. Depois que aprendemos que existem diversas possibilidades de fazer a atividade, a inclusão é muito simples, é natural”, disse a participante Lucia Silva.

Karen Daniele Silva, estudante do 3°ano de Educação Física, conseguiu aplicar alguns conhecimentos que havia adquirido dentro da sala de aula durante a manhã no Pacaembu. “Durante a faculdade, tive uma matéria sobre educação inclusiva, porém aqui nesta oficina consegui ver na prática e principalmente como é trabalhar com pessoas com deficiência. Gostei tanto que pretendo me especializar na área”, falou a estudante.

Pitaya, cupuaçu, algumas frutas exóticas e outras nem tanto. Entre as barracas do famoso Mercadão Municipal, outro local a receber atividades, os grupos de participantes da oficina “Artes com Materiais Naturais” exploraram o toque, o olfato e o paladar de uma nova forma. Enquanto um descrevia o ambiente e guiava o companheiro pelo trajeto em meio aos turistas e visitantes e dos trabalhadores das tendas de frutas, o colega de dupla conhecia tudo vendado. "Sabe como você faz para o outro ficar menos ansioso? A gente descreve para a pessoa as coisas", explicou João Vitor, de 10 anos. Ainda contou como foi quando esteve vendado: "Eu senti algumas frutas, por exemplo, a lichia, que eu lembrava, mas não o nome".

Antes de explorar as dependências deste famoso ponto turístico da capital, uma breve conversa seguida de um alongamento e massagem foi importante para despertar o corpo. Enquanto alguns pensaram que seriam feitas colagens ou esculturas com materiais orgânicos, na verdade o corpo era a ferramenta mais elementar. Em um primeiro experimento com vendas, o reconhecimento da sala foi feito inclusive com os pés descalços, quando reconheceram cheiros, sons e texturas de objetos. Entre os participantes, diversos professores e professoras da rede pública, seus filhos, diretores e coordenadores de escolas, psicólogos e interessados em geral desenvolveram suas potencialidades ao terem suas perspectivas mudadas pela atividade.

O projeto Brincar Inclusivo foi desenvolvido pela Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, com apoio do Programa para o Desenvolvimento da Primeira Infância – São Paulo Carinhosa. Em três meses foram realizadas 110 oficinas em toda cidade, incluindo escolas, bibliotecas, espaços culturais e parques com a participação de aproximadamente duas mil pessoas.