Propostas de arquitetos estrangeiros pretendem mudar Paraisópolis

Oito arquitetos estiveram em São Paulo e para apresentar seus trabalhos.

Imagine uma encosta repleta de casas de madeira construídas precariamente, sem nenhuma infra-estrutura, sujeitas a deslizamento, diante de uma chuva mais forte. Agora imagine a mesma localidade, com uma unidade multifuncional de quatro andares, cuja construção obedece às características da topografia local. Acrescente ainda áreas de esporte, serviço, habitação, comércio e agricultura, além de um sistema de águas e sustentação de encostas. Este segundo cenário, transformado, é o previsto para a região conhecida como Grotão, em Paraisópolis, a segunda maior favela da capital paulista.

O arquiteto responsável pelo projeto, Alfredo Brillembourg, da Venezuela, é um dos oito profissionais que estiveram em São Paulo, neste mês de junho, para apresentar seus trabalhos e idéias para a comunidade local. Integraram a comitiva, ainda, o diretor da Bienal de Arquitetura de Roterdã, George Brugmans, acompanhado de dois subcuradores, Rainer Hehl e Jörg Stollmann.

As comunidades de Paraisópolis e Jardim Colombo conheceram detalhes não apenas do projeto de Brillembourg, já licitado, mas também de outras cinco intervenções previstas para as duas áreas.

Ciro Pirondi é responsável pelo Plano Diretor do Complexo Paraisópolis, um projeto de longo prazo, com execução prevista entre 10 e 15 anos, que inclui entre outros pontos a criação de áreas verdes, ciclovias e projeto paisagístico, além da construção de vias estruturais, praças, estacionamentos, implantação de sistemas de água, esgoto, iluminação e de uma central de coleta de resíduos sólidos. Tudo isso integrado com o entorno que cerca a comunidade.

Alejandro Aravena, do Chile, participa da construção de unidades habitacionais na área da avenida perimetral, em Paraisópolis. "A intenção é que elas se valorizem no médio prazo, melhorando não só a qualidade de vida dos moradores, como trazendo também um ganho financeiro para eles", ressaltou.

Já Fernando de Mello Franco prevê completa reestruturação do córrego Antonico, que corta Paraisópolis quase por inteiro. A ideia é a criação de um calçadão em toda sua extensão, funcionando como área de lazer, dentro do conceito de "praia urbana". No Grotinho, outra localidade da favela, será construído um Centro Comunitário, estimulando a participação da população com atividades ligadas a esporte, cultura e lazer, em projeto assinado por Marcos Boldarini.

Por fim, Christian Kerez, da Suíça, com intervenções previstas para o Jardim Colombo, estuda a possibilidade de verticalização na favela, melhorando o adensamento atual. A comunidade foi favorável a todas as apresentações, uma indicação de que haverá interação constante entre os profissionais e a população. "Não adianta nada planejar a construção de uma quadra de futsal quando a população prefere uma poliesportiva. Ouvi-los é uma obrigação", comenta Brillembourg.

Recepcionados pela superintendente de Habitação e coordenadora do projeto Paraisópolis, os arquitetos puderam conheceram melhor o trabalho proposto. Detalhes das intervenções foram apresentados e discutidos, com trocas de idéias e sugestões, em busca de aprimoramentos. "Estou encarando esse trabalho como um dos maiores desafios de minha carreira. Ouvir profissionais de alto nível, com trabalhos postos em prática pelo mundo, só vai me auxiliar na execução das obras", disse Christian Kerez.

"Tudo foi positivo durante esses três dias: as discussões, a possibilidade dos arquitetos se conhecerem melhor, o contato com a população, o conhecimento das principais demandas e a troca de experiências", disse a coordenadora. "Agora é acompanhar e fiscalizar o ritmo dos trabalhos bem de perto, para que tudo saia conforme planejado. Dessa forma conseguiremos nossos objetivos, respeitando a população local, com um número mínimo de remoções e o atendimento das principais necessidades", acrescentou.

Segundo tempo

Uma comitiva holandesa formada por 11 membros, liderada por Henke Heikamp, consultor do Ministério da Cultura da Holanda, e Ole Bouman, diretor do Instituto Holandês de Arquitetura, também visitou a Superintendência de Habitação Popular, em 18 de junho. A intenção foi conhecer os trabalhos realizados pela Prefeitura na urbanização de favelas na cidade.

"Temos cerca de 4.600 conglomerados informais em São Paulo e 30% da população vive neles. Estamos com intervenções previstas nas 120 principais favelas. Nunca um trabalho dessa magnitude foi realizado por uma administração. Isso chama a atenção de outros países, querendo conhecer nossas ações", disse a superintendente de Habitação.

Mais uma vez Paraisópolis foi o centro das debates. Os holandeses quiseram saber como o poder público se relacionou com a comunidade local, principalmente com os moradores removidos. "Foi um trabalho de longo prazo e o sucesso fruto de inúmeras reuniões e esclarecimentos. É importante destacar o trabalho dos assistentes sociais, que constróem uma relação de confiança com a população e ajudam muito em todo o processo que uma urbanização de favela demanda, inclusive auxiliando na escolha da nova casa", ressaltou a coordenadora.


(Texto: Sehab )