Mais de 500 pessoas se reúnem para buscar soluções sobre segurança alimentar durante Conferência Internacional Josué de Castro

Prefeitura liderou centro das discussões sobre alimentação saudável e combate à fome para o futuro da humanidade entre os dias 28 e 29 de maio

A cidade de São Paulo foi o centro das discussões mundiais sobre alimentação durante a Conferência Internacional “Josué de Castro” sobre Segurança Alimentar e Combate à Fome – Patrono: Alysson Paolinelli, nos dias 28 e 29 de maio.

No evento promovido pela Prefeitura, em parceria com a São Paulo Negócios e a Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, especialistas de várias partes do Brasil e do mundo realizaram palestras e mesas de discussões acerca do tema, um dos mais importantes para o futuro da humanidade.

O prefeito Ricardo Nunes abriu a Conferência mostrando as ações de combate à fome que a Prefeitura de São Paulo põe em prática. Diariamente, os programas do município oferecem 2,6 milhões de refeições, das quais 2,3 milhões somente nas escolas municipais.

“São Paulo tem hoje uma política de segurança alimentar e nutricional com diversos programas bem-sucedidos, responsáveis por garantir o acesso da população mais pobre a alimentos e refeições em quantidade suficiente e com a necessária qualidade”, disse Nunes, lembrando que somente as medidas adotadas pela gestão municipal, que já distribuiu 5,5 milhões de refeições neste ano.

Também são fornecidas 7 mil cestas básicas por dia, além de outras iniciativas que levam alimentos seguros e nutritivos aos mais necessitados.

Com mais de 500 participantes em dois dias de evento, ideias e soluções foram propostas. “A culpa da fome não é da natureza, essa culpa é da humanidade. O agronegócio, por exemplo, desempenha um papel fundamental na garantia de alimentos para as gerações futuras, e por isso estamos aqui buscando pontos convergentes entre todos os atores da segurança alimentar, para que a fome deixe de ser esse drama que Josué de Castro já denunciava em seu clássico Geografia da Fome”, comentou o secretário municipal de Relações Internacionais, Aldo Rebelo.

A conferência foi dividida em diversos painéis, que abordaram temas como as fronteiras globais da produção e comércio: América Latina, Ásia e África; a nova geopolítica do alimento: comércio vs. sustentabilidade; os protestos de agricultores europeus e reorientação de políticas agrícolas e comerciais; a Amazônia, sua produção de alimentos e desenvolvimento regional; o papel social da carne, e outras temáticas ligadas à Segurança Alimentar.

O professor de economia e direito da FGV Daniel Vargas, afirmou que a inclusão do desenvolvimento deve buscar a comunicação entre setores públicos, privados e sociedade, e que cada país deve buscar o seu caminho para se inserir no mercado globalizado, e definir o que é ser “verde”. “Eu creio que a nova geopolítica do alimento tem uma variável particular cada vez mais relevante hoje que é a sustentabilidade. Passamos a olhar para o uso da terra e a produção de alimentos como uma tarefa produtiva cada vez mais sustentável. A comida tem que ser verde, o uso da terra tem que ser verde, recursos naturais tem que ser usados de forma verde. A grande questão, no entanto, é: o que exatamente é verde quando falamos de produção e comércio alimentar? À medida em que esses padrões de verde desenvolvidos em países desenvolvidos se globalizam e aterrissam no solo tropical e subtropical, de países como o Brasil, as tensões emergem”, afirmou Vargas.

Em painel sobre os protestos de agricultores europeus e reorientação de políticas agrícolas e comerciais, o presidente da Associação dos Agricultores Alemães (Deutscher Bauernverband – DBV), Joachim Rukwied, afirmou que os produtores alemães apoiam as medidas de redução do impacto ambiental na agricultura, e tem a convicção de que o caminho está na implementação de novas tecnologias, de agricultura de precisão e de técnicas sustentáveis para combater as mudanças climáticas. Comentou ainda sobre a colaboração ser um ponto fundamental para encontrar soluções e que a preocupação do setor atualmente está em garantir a estabilidade na produção doméstica. “Na minha perspectiva, os produtores alemães não podem realmente competir com seus colegas brasileiros. Nós produzimos em pequenas fazendas, enquanto no Brasil existem propriedades de 50 mil hectares ou mais. Por este motivo a cooperação é vital para que a segurança alimentar seja garantida por todos”, ressaltou Ruckwied.

Falando sobre o continente que mais sofre com problemas relacionados à fome e a desnutrição, a comissária de Agricultura e Desenvolvimento Rural da Comissão da União Africana (ARBE), Josefa Sacko, parabenizou São Paulo pela iniciativa. "A cidade de São Paulo, terra da garoa, está de parabéns por ser palco do debate sobre a importância da produção alimentar e a centralidade dos produtores rurais com vista a garantir a segurança alimentar global nas próximas décadas", e complementou sobre o papel africano nesta equação: "Dar de comer a população três refeições por dia é um direito universal e África tem este potencial. Atualmente, 278 milhões de pessoas na África estão subnutridas, uma situação preocupante que gostaria de dividir com vocês. Por este motivo, o futuro de nosso continente passa pela agricultura”, assinalou a comissária no debate que fez parte, sobre segurança alimentar e combate à fome no mundo.

Já para a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, a garantia de um futuro alimentar para o Brasil e para o mundo passa cada dia mais por ciência e tecnologia a serviço do setor agropecuário, unindo crescimento econômico, produção de alimentos e proteção ambiental. O campo está cada dia mais tecnológico. O Brasil é um grande player na agricultura mundial graças a uma produção baseada em ciência e tecnologia. Além disso, temos hoje um consumidor muito mais preocupado com longevidade, nutrição e saúde, de onde vem o alimento dele. Com isso, o produtor tem que dar transparência ao seu processo produtivo e mostrar suas preocupações sociais e ambientais”, recomendou Silvia.

Em outro importante painel, que abordou as fronteiras globais da produção e comércio: América Latina, Ásia e África, o Professor e Vice-Diretor da Academia Chinesa de Desenvolvimento Rural na Universidade de Zhejiang, Rui Mao, lembrou das parcerias que vem sendo desenvolvidas para garantir a alimentação da população do mundo. "O mundo afora, incluindo a China e o Brasil, e a cidade de São Paulo, tem feito grandes esforços pela segurança alimentar e nós atingimos grandes conquistas. Mas ainda estamos lidando com grandes desafios nos sistemas agrícolas globais", alertou Mao.

Pela manhã de quarta-feira, mais temas da Conferência Josué de Castro foram discutidos pelos participantes e pelos palestrantes. Na mesa sobre o papel social da carne, o pesquisador-chefe da Sustainable Nutrition Initiative da Massey University da Nova Zelândia, Nick Smith, e a autora, nutricionista e diretora executiva da Global Food Justice Alliance, Diana Rodgers, falaram sobre essa importante proteína, que mesmo sofrendo ataques, se consolida como um produto e um alimento essencial para a humanidade. "A carne é um alimento denso em micronutrientes. É dos micronutrientes, vitaminas e minerais que deveríamos falar quando falamos do papel da carne. E a resposta que encontramos é diferente no nível pessoal, de países e a nível global", explicou Smith.

Homenagem a Josué de Castro e Alysson Paolinelli, a Conferência Internacional “Josué de Castro” sobre Segurança Alimentar e Combate à Fome também foi palco de homenagens ao pensador pernambucano Josué de Castro, marco no combate à fome nacional e internacional, exercendo os cargos de presidente do Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), e embaixador brasileiro na ONU. “Mais que uma homenagem, estamos aqui para reverenciar o pensamento vivo deste grande brasileiro. Temos o dever de perseguir seus sonhos e fazer do Brasil e do mundo um lugar livre da fome e da miséria”, falou Aldo Rebelo.

O patrono do congresso, o Ex-Ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, foi reverenciado por seu filho, Alexandre Paolinelli, em um jantar durante o evento. Falecido em 2023, era agrônomo e político, e expandiu os estudos acerca do potencial da região do Cerrado para a produção agrícola. “Meu pai foi um visionário e um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da agricultura brasileira. Ele foi líder da revolução agrícola tropical sustentável, que transformou o país em potência agroalimentar e criou horizontes para a segurança alimentar mundial”, lembrou Alexandre.

A partir dos exemplos de Josué de Castro e Alysson Paolinelli, a Conferência deve deixar um importante legado nos temas da segurança alimentar e combate à fome para os anos futuros.