Especialista do HSPM esclarece dúvidas sobre Alzheimer

Apesar de ainda não ter cura, é possível desacelerar o curso da doença

Imagem com o logo da seção HSPM Responde, que consiste em uma mão saindo dentro de uma celular, segurando um megafone.

Por: Giovanna Anjos e Rosângela Dias

A Doença de Alzheimer é um transtorno neurodegenerativo que provoca a perda gradual da memória. Mais comum em pessoas de idade, o quadro clínico pode incluir dificuldades para realização de tarefas rotineiras, incontinência urinária e dificuldades para alimentação e locomoção.

Neste mês de conscientização sobre o diagnóstico precoce e tratamento adequado da doença, a Dra. Amanda Santoro F. Bacchin, médica da Clínica de Geronto-Geriatria do Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM) e vice-presidente da Sociedade Brasileira Geriatria e Gerontologia (SBGG-SP), esclarece dúvidas sobre causas, diagnóstico e a importância do acompanhamento familiar na vida dos pacientes.

O que é o Alzheimer? Podemos dizer que é o mesmo que demência ou são doenças diferentes?

Alzheimer é um tipo de demência. Juntamente com a demência vascular, que em geral ocorre em decorrência de múltiplos infartos no Sistema Nervoso Central (SNC), e a mista, em que temos sintomas de dois tipos, por exemplo.
A doença é mais comum em algum público específico? Mais homens do que em mulheres? A partir de qual idade?
A incidência é proporcional ao aumento da idade, dobrando a cada cinco anos após os 65 anos, e é mais comum nas mulheres.

Quais são os sintomas mais comuns? Quando o esquecimento deixa de ser algo comum e passa a ser considerado um sintoma a ser investigado?

No início, o paciente pode ter pequenos esquecimentos, como onde guardou um objeto, abrir a porta da geladeira e esquecer o que ia pegar e conversar com alguém e perder o rumo da conversa, à medida que a doença avança esses esquecimentos vão tendo um impacto na vida do paciente, ele pode perder uma grande quantia de dinheiro, esquecer-se de datas de pagamentos e senhas de banco, pode se perder em locais conhecidos e geralmente é nessa fase que a família procura auxílio médico.

A ideia que se tem da demência como o vovô ou vovó que não reconhece mais os netos ocorrem somente na fase final da doença. Por isso, é importante procurar o médico ao primeiro sinal de perda de memória. Muitas coisas podem afetar a memória, nem todo esquecimento é demência, nem toda demência é Alzheimer e nem todo Alzheimer se encontra em fase de demência. Um médico é fundamental neste contexto.

Quais são as causa da doença? Fatores genéticos/hereditários ou hábitos de vida têm alguma influência?


Existem os chamados fatores modificáveis e os não modificáveis. Os primeiros se relacionam aos hábitos de vida. Os fatores de risco para se desenvolver demência são os mesmos para o infarto. Nesse sentido, é importante ter uma dieta equilibrada, evitar o sedentarismo, o tabagismo e controlar os níveis glicêmicos e pressão alta. Além disso, a alta escolaridade parece proteger o cérebro, assim como mantê-lo sempre ativo, por exemplo, fazendo algum curso de línguas ou algum tipo de voluntariado, etc. Quanto aos fatores não modificáveis, podemos citar a idade e a genética.

Como é feito o diagnóstico? Quais exames necessários?

O diagnóstico é de exclusão. Leva em consideração a história clínica trazida pelo paciente e os familiares e na suspeita, aplicamos uma bateria de testes de rastreio da memória e pedimos exames para afastar a perda de memória secundária, por exemplo, ao deficit de vitaminas como B12, ácido fólico, doenças crônicas descompensadas como hipotireoidismo, sífilis, entre outros. Os exames, em geral, incluem sangue completo, urina e tomografia ou Ressonância Magnética (RNM) de crânio.


Existe tratamento para a doença de Alzheimer? Como funciona?

O tratamento aprovado até hoje, infelizmente, não é curativo. Estão disponíveis, inclusive pelo SUS: Memantina (destinado a casos moderados a graves), e anticolinesterasicos (Galantamina, Rivastigmina e Donepezila), iniciados ainda na fase leve da demência. Essas medicações apenas “desaceleram” o curso da doença. Podemos introduzir também antipsicóticos para auxiliar nos sintomas comportamentais, como a agitação psicomotora.

Há cura para o Alzheimer ou apenas formas de controlar a doença?

No momento ainda não há cura pra doença, muito embora tenhamos inúmeras drogas em teste.

Quais os impactos na qualidade de vida do paciente caso a doença não seja tratada corretamente?

Como o tratamento apenas tenta manter a funcionalidade do paciente pelo maior tempo possível, quanto mais cedo iniciamos, melhor. Se a família traz o paciente para diagnóstico já completamente desorientado, dependente para atividades básicas e instrumentais de vida diária, pouco podemos fazer, pois os remédios não recuperam o que já foi perdido, apenas faz com que a evolução a partir daquele ponto seja mais lenta.

Qual a importância da família e do cuidador na vida de pacientes com Alzheimer?

O suporte familiar é fundamental. Manter um ambiente calmo e com rotinas estabelecidas ajuda muito. Além disso, a demência de Alzheimer é uma doença familiar, pois afeta todos os indivíduos da casa, em 80% dos casos o principal cuidador é um membro da família, muitas vezes os próprios companheiros, que também são idosos, o que gera uma sobrecarga emocional e física enorme.

 

Foto da doutora Amanda, geriatra do HSPM

Médica da Clínica de Geronto-Geriatria do HSPM, Dra. Amanda Santoro F. Bacchin.