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Obesidade aumenta riscos à saúde da criança a médio e longo prazos

Imagem ilustrativa na qual aparece à esquerda um holofote dentro de um celular e à direita o Texto HSPM Responde

Por Davi Castro

A obesidade infantil é considerada um dos maiores problemas de saúde pública pediátrica, afetando cerca de 224 milhões de crianças em idade escolar no mundo. O Dia da Conscientização Contra a Obesidade Mórbida Infantil, celebrado em 03/06, é uma forma de dar visibilidade ao tema e informar a população sobre os cuidados necessários para combater a doença.

As pesquisas são tão alarmantes que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que em 2025 o número de crianças obesas no planeta chegue a 75 milhões. Os registros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 1 em cada 3 crianças, com idade entre 5 e 9 anos, está acima do peso no país. As notificações do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, de 2019, revelam que 16,33% das crianças brasileiras entre 5 e 10 anos estão com sobrepeso; 9,38% com obesidade; e 5,22% com obesidade grave.

Conversamos com a Endocrinologista Pediatra Dra. Ana do Rosário Reguengo Correia Lau, da clínica de Pediatria do HSPM, para abranger o tema:

1. Qual é o contexto atual da obesidade infantil?
A obesidade é uma doença crônica, decorrente do excesso de tecido adiposo no organismo e associa-se às morbidades (hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes), que comprometerão a qualidade de vida em curto e longo prazos. Na faixa etária pediátrica, temos verificado um aumento nos índices de obesidade infantil. O excesso de peso atinge 15% das crianças menores de 2 anos, 12% daquelas entre 2 e 5 anos e 25% das crianças entre 5 e 10 anos. Entre adolescentes essa prevalência chega a 30%.
O Relatório Global de 2021, produzido por agências da Organização das Nações Unidas, responsável por avaliar o impacto global da pandemia, aponta que 30% da população mundial não teve acesso à alimentação saudável, sendo este um dos fatores mais importantes na prevenção da obesidade infantil.

2. Quando uma criança é considerada obesa?
Em crianças e adolescentes o crescimento e o estado nutricional são avaliados por meio de indicadores antropométricos como peso/idade, altura/idade, peso/altura e Índice de Massa Corporal/idade (IMC/Idade). As curvas de IMC/idade, desenvolvidas pela OMS, são bons indicadores do estado nutricional da criança. A depender da classificação do IMC, tem-se a avaliação do estado nutricional da criança. Considera-se com obesidade quando crianças de 0 a 5 anos estão acima do percentil 99.9 e crianças de 6 a 20 anos acima do percentil 97. Fazer um bom monitoramento é o primeiro passo para identificar o excesso de peso.

3. Quais hábitos viabilizam a obesidade em crianças?
O desmame precoce, o aumento de consumo de alimentos ricos em açúcares simples e gordura - com alta densidade energética-, o consumo de alimentos processados e ultraprocessados, bebidas açucaradas, os tamanhos exagerados das porções e a diminuição da prática de atividades físicas (sedentarismo) são os principais fatores associados.

4. Quais cuidados devem ser tomados para evitar a obesidade infantil?
Os cuidados começam com a saúde da mulher por meio do atendimento no pré-natal - garantindo boa condição nutricional materna - e com o aleitamento materno exclusivo por seis meses.
Além disso, a orientação é o consumo de alimentos variados in natura e minimamente processados, o cuidado com as porções das refeições, o estímulo a atividades físicas e brincadeiras ao ar livre, restringindo-se a exposição das crianças a telas de aparelhos eletrônicos.

5. Como incentivar a prática de atividades físicas em crianças, levando em conta que a maior parte do público infantil está sob o uso excessivo de eletrônicos?
Reduzir o tempo de tela da televisão, videogames, celulares, para menos de duas horas ao dia nos períodos em que a criança ou adolescente não está na escola. Durante a aula, devem ser promovidas atividades ao ar livre. E por último, oferta de espaços públicos seguros para que possam brincar e praticar esportes.

6. A obesidade em crianças pode contribuir para o aparecimento de outras doenças?
A obesidade pode contribuir para aparecimento de hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia (alteração de colesterol e triglicerídeos), esteatose (aumento de gordura no fígado). Contribui também para alterações ortopédicas e alterações do sono. Crianças e adolescentes com obesidade sofrem bullying, o que contribui para maior incidência de ansiedade, depressão e riscos de maior isolamento.