CRS Sudeste capacita profissionais de Consultório de Rua para teste rápido de HIV e Sífilis

Objetivo é agilizar acesso ao diagnóstico, tratamento e prevenção das doenças

Por Rosângela Rosendo

Desde o início desta semana, a Coordenadoria Regional de Saúde Sudeste começou a capacitar 300 profissionais da saúde do território para a aplicação do Teste Rápido Diagnóstico (TRD) para HIV e Sífilis. Pioneira na região, a iniciativa tem a finalidade de agilizar o acesso ao diagnóstico, tratamento e à prevenção do HIV/AIDS e da Sífilis para a população, principalmente às pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade social. A primeira etapa do processo teve início no dia 24 de fevereiro e vai até sexta-feira (28/02), no Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto. Quatro equipes de profissionais de nível universitário do Consultório de Rua da região Aricanduva Mooca já estão em treinamento.

A atividade é organizada pela CRS Sudeste, com participação de profissionais médicos, enfermeiros e farmacêuticos da Supervisão de Vigilância em Saúde (SUVIS), Assistência Laboratorial e Serviço de DST/AIDS da coordenadoria. Para reforçar o compromisso de luta contra a AIDS, a capacitação também está alinhada com a estratégia do Ministério da Saúde de “testar e tratar” e com a campanha da Organização das Nações Unidas “Zero novas infecções, Zero discriminação e Zero novas mortes pelo HIV/AIDS".

Os testes sorológicos tem papel significativo na diminuição da epidemia global de patologias como HIV, Sífilis e Hepatites virais. São ferramentas essenciais para o acesso ao diagnóstico. “A exatidão e a confiabilidade nas análises laboratoriais são fundamentais para as políticas públicas que visam a redução da incidência de doenças, cujo nível de transmissibilidade pode ser minimizado com o conhecimento do diagnóstico”, ressalta a médica sanitarista responsável pela capacitação Karina Calife, coordenadora da CRS Sudeste.

Por ser de fácil execução e interpretação, o TRD tem a vantagem de ser utilizado fora do ambiente laboratorial por profissionais capacitados para a metodologia. Neste caso, estão sendo treinados especialistas de nível universitário como biólogo, biomédico, cirurgião dentista, enfermeiro, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médico, nutricionista, psicólogo e terapeuta ocupacional. Os profissionais integram os Consultórios de Rua da região das Unidades Básicas de Saúde Mooca, Belém, Pari e Brás, da Supervisão Técnica de Saúde Aricanduva Mooca. Atualmente, esse grupo atende cerca de 2.500 pessoas moradoras de albergue ou em situação de rua.

Com duração de 4horas diárias, a capacitação combina o aprendizado teórico e a prática em laboratório, com a promoção do intercâmbio de conhecimento dos profissionais. As aulas abrangem temas como aspectos relacionados à abordagem de utilização dos testes rápidos, importância dos procedimentos de biossegurança, aspectos relacionados ao processo para o controle de qualidade dos testes realizados, abordagem do paciente (aconselhamento pré e pós-teste), e documentos necessários para a realização da metodologia (Procedimentos Operacionais Padrão, Ficha de Controle de Estoque, Folha de Trabalho e Laudo dos resultados). A aula prática compreende o TRD para HIV, o teste rápido de triagem para Sífilis e o teste rápido em fluido oral (saliva) para HIV, que na segunda etapa da capacitação será dirigido ao grupo de auxiliares de enfermagem dos Consultórios de Rua.

Segunda etapa envolverá UBS

Concluída esta fase, a CRS Sudeste pretende transformar os capacitandos em facilitadores/multiplicadores do TRD para, a partir da segunda semana de março, começar a treinar profissionais das Unidades Básicas de Saúde e da Estratégia Saúde da Família da região. No total serão capacitadas 11 turmas no TRD - 25 profissionais por semana. “A expectativa é que ao final do treinamento todas as UBS e outros serviços de saúde tenham no mínimo 03 (três) profissionais de saúde capacitados para desenvolvimento das ações de testagem para HIV”, informa Karina Calife.

Além de habilitar os profissionais de saúde da região, a CRS Sudeste busca aumentar a oferta de serviços para o TRD para HIV, Sífilis e aconselhamento de DST/AIDS; a testagem para HIV dos pacientes com tuberculose e gestantes; e a testagem de Sífilis para gestante, já que o diagnóstico feito durante o pré-natal é possível o médico intervir durante a gestação e o parto, reduzindo assim a transmissão vertical.

Cenário epidemiológico e social

Segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde de 2013, desde o início da epidemia, em 1980, até junho de 2012, o Brasil registrou aproximadamente 657 casos de AIDS (doença manifestada). Em 2011, foram notificados 38.776 casos da doença e a taxa de incidência de AIDS no Brasil foi de 20,2 casos/100 mil habitantes.

Atualmente, há mais casos da doença entre os homens do que entre as mulheres. Em 1989, a razão de sexos era de cerca de 6 casos da doença em homens para cada caso entre mulheres. Em 2011, último dado disponível, chegou a 1,7 caso em homens para cada 1 caso em mulheres.

A doença é mais incidente em indivíduos de ambos os sexos de 25 a 49 anos. Em relação aos jovens, em geral de 13 a 19 anos, dados apontam que, embora tenham elevado conhecimento sobre prevenção da AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis, há tendência de crescimento do HIV nesse grupo.

As pesquisas indicam que em maiores de 13 anos a transmissão sexual prevalece. Nas mulheres, 86,8% dos casos registrados em 2012 decorreram de relações heterossexuais com pessoas infectadas pelo HIV. Entre os homens, 43,5% dos casos foram decorrentes de relações heterossexuais, 24,5% por relações homossexuais e 7,7% por bissexuais. O restante ocorreu por transmissão sanguínea e vertical.

Apesar de o número de casos no sexo masculino ser maior entre heterossexuais, há alto índice da doença em grupos populacionais com comportamentos de risco para a infecção pelo HIV, como homossexuais, prostitutas e usuários de drogas. Também chama atenção o aumento do número de casos da doença em faixas etárias mais altas. A sobrevida de pessoas infectadas pelo vírus HIV promoveu o envelhecimento desta população, fato que pode justificar os casos notificados em indivíduos acima de 50 anos.

Coinfecção

Apesar da diminuição da taxa de coinfecção Tuberculose/HIV entre os casos novos de tuberculose, de 2006 a 2011 – de 14,1% para 11,4% –, os coinfectados apresentam altas taxas de abandono e de mortalidade e baixa cobertura do tratamento diretamente observado. A coinfecção HIV e os vírus da hepatite B ou C também foi identificada em 12% das notificações de casos de hepatites virais, no período de 2007 a 2011. A faixa etária mais atingida é a de 30 a 49 anos.

Mas as políticas de saúde destinadas a interromper a transmissão vertical (TV) de HIV trouxeram resultados animadores. O pico do número de casos de AIDS em crianças infectadas por transmissão vertical ocorreu em 1997. Com a adoção do protocolo para a profilaxia da transmissão vertical do HIV, o número de casos começou a cair, principalmente em menores de um ano.

Entre 2000 e 2004 houve queda de 68% na taxa de incidência da população entre zero e 4 anos, seguida de queda de 26% de 2008 até 2011. A expansão da testagem e a incorporação do TRD para HIV, indicado para as gestantes têm sido instrumentos de grande valor para esta redução.

Capacitação para Teste Rápido Diagnóstico para HIV e Sífilis

Data: Até sexta-feira, 28 de fevereiro, das 13h às 17h
Local: Centro Social Nossa Senhora Bom Parto – Rua Sapucaia, 413 – Mooca